20070701

Que pólos de competitividade para Portugal II

"Uma metropolização incontrolável

Os dados do estudo "Prospectivas de Urbanização do Mundo", do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas, são muito claros. Além dos 45,3% de concentração da população portuguesa na Grande Lisboa (aumentando o número de habitantes de 3,8 milhões em 2000 para 4.5 em 2015), também a Área Metropolitana do Porto vai ter um crescente peso na demografia portuguesa, destacando-se em 2015 claramente como a segunda maior área urbana do país com 23.9% do total da população.

Ainda segundo o mesmo estudo, nas zonas rurais permanecerá apenas 22,5% da população e nas outras áreas urbanas vão viver apenas 8.3% dos portugueses. Ou seja, uma clara secundarização do papel das Cidades Médias, o que contraria todas as tendências internacionais e a prática da política pública dos últimos anos.

Apesar da relativa reduzida dimensão do país, não restam dúvidas de que a aposta numa política integrada e sistemática de Cidades Médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais criadoras de riqueza e talentos humanos indutores de criatividade, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da Metropolização da capital que parece não ter fim.

O papel das Universidades e Institutos Politécnicos que nos últimos 20 anos foram responsáveis pela animação de uma importante parte das cidades do interior, com o aumento da população permanente e a aposta em novos factores de afirmação local, está esgotado. A alternativa desenvolvida nos últimos anos, centrada nas infra-estruturas rodoviárias e na ancoragem de animação local através de "shopings" também não terá grande futuro, pois será muito limitada pela ausência de valor acrescentado gerado e pela incapacidade de manter estáveis níveis de consumo essenciais para manter a actividade local pretendida.

É por isso fundamental que a aposta concreta em projectos de fixação de riqueza e talentos nas cidades médias portuguesas tenha resultado. É um objectivo que não se concretiza meramente por decreto. É fundamental que a sociedade civil agarre de forma convicta este desígnio e faça da criação destas "Novas Plataformas de Competitividade" a verdadeira aposta estratégica colectiva para os próximos anos.

O aumento dos fluxos migratórios do interior para as grandes cidades, por um lado, e para o estrangeiro, por outro, envolvendo tanto talentos como segmentos indiferenciados da população afectados pela onda crescente de desemprego, tem que ter uma resposta cabal. Só assim se conseguirá evitar que Portugal se torne um país "dual", incapaz de consolidar uma coesão territorial e social essencial na estratégica de afirmação colectiva como um país desenvolvido no novo mundo global."

Por
Francisco Jaime Quesado

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