20110420

Lição de «sociologia económica»: Diferenças Norte-Sul

Não conheço estudos actualizados sobre a actividade rent seeking em Portugal (e confesso-me um bocado preguiçoso para agora ir à procura) mas lembro-me de um, feito por uma instituição financeira internacional, que na altura chegou a haver ecos em Portugal. (Não se se voluntariamente, porque era um documento restrito de uma casa de investimentos, se não me falha a alcoólica memória. E esse apontava as causas da falência a prazo de Portugal (como veio a suceder, curiosamente), pois em Portugal estava-se a promover as actividades rent-seeking em detrimento das actividades produtivas rumo ao mercado. (Isto na altura do consulado guterrista.) Depois surgiu um outro estudo, este público, feito em Portugal, por portugueses, em que mostraram claramente que a generalidade dos lucros gerados em Portugal pelo sector empresarial estava nas actividades rent seeking.

Em Portugal aquele que mais escreveu com visibilidade sobre este tema foi o Abel Mateus que mais tarde viria a influenciar muito a política económica do governo do Durão Barroso e este confiou a este economista a tarefa vital de criação de uma Autoridade da Concorrência em Portugal, com poderes para tentar inverter o declinio económico de Portugal.
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Vários outros autores tugas escreveram sobre o assunto, um deles conhecido na blogosfera, o Luciano Amaral e outros como a Conceição Castro, que versaram alguns estudos sobre o assunto. Mais tarde voltarei a estes dois autores porque me interessa realçar algumas coisas nos seus trabalhos.

Vamos lá descrever o que é sistema económico parasita de Lisboa. Começo com umas citações de um conhecido banqueiro tuga, tido como o Tio Patinhas de Lisboa e verdadeiro dono de Portugal. Ou pelo menos, um dos seus principais e influentes agentes económicos:

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“O presidente do BES defende que Portugal deve apostar nos transportes, uma afirmação feita ontem na apresentação dos resultados semestrais que caíram 6,8%.

Na apresentação de resultados, Ricardo Salgado – que já vinha com uns slides preparados – defendeu os projectos de construção da rede de TGV que ligará Portugal a Espanha e do Novo Aeroporto. Portugal, diz, respondendo às questões do jornalistas, Ricardo Salgado, “vai desenvolver-se através da aposta nos serviços e estes estarão inevitavelmente associados aos transportes”. Alertou para o facto de só Madrid ter um PIB maior de que o português e de isso se agravar se não se construir a rede de TGV. Pelo que o Governo deve avançar com a realização, “tão cedo quanto possível”, destas obras.”
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In http://economico.sapo.pt/noticias/ricardo-salgado-diz-que-tgv-e-aeroporto-devem-avancar_66218.html
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“Presidente do BES defende aposta nas renováveis e exclui opção pelo nuclear”

O presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, defendeu hoje que o “desenvolvimento económico equilibrado” do país, em termos energéticos, deve passar pela aposta nas renováveis e excluiu a via do nuclear.”
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In http://www.apren.pt/noticias/detalhes.php?id=161

Depois destas citações, algumas noticias para enquadrar as actividades económicas deste conhecido banqueiro.

“O presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES) anunciou esta tarde que votou com a maioria pela venda da Vivo à à Telefónica.”
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In http://www.ionline.pt/interior/index.php?p=news-print&idNota=67199

Num encontro ontem realizado com jornalistas Ricardo Salgado, presidente do BES negou que o grupo Espírito Santo esteja a preparar uma contra OPA em resposta à avançada pela Sonae no início desta semana. O responsável mantém-se porém ao lado do Conselho de Administração da PT na declaração de que esta OPA é hostil e reafirma a convicção de que o valor oferecido por acção é baixo.

Citado por vários meios de comunicação social portugueses, Ricardo Salgado esclareceu que a liderança de uma empresa de telecomunicações não faz parte da vocação do GES, apesar de considerar a posição do Banco na empresa um activo estratégico. ”
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In http://tek.sapo.pt/noticias/negocios/ricardo_salgado_nega_que_o_bes_esteja_a_prepa_876062.html
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“O presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, disse esta segunda-feira que vê «com muito interesse» a eventual entrada da brasileira Oi no capital da PT, empresa onde o banco é um dos principais accionistas.”
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In http://www.agenciafinanceira.iol.pt/empresas/portugal-telecom-pt-oi-brasil-ricardo-salgado-agencia-financeira/1208982-1728.html
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“A Sonaecom defende que o Governo, ao preferir o projecto da Portugal Telecom, tem agora uma “especial responsabilidade”, ficando “publicamente ainda mais comprometido” em assegurar que a PT será competitiva no mercado nacional das telecomunicações.
A operadora de Paulo Azevedo reage assim ao chumbo da desblindagem dos estatutos na assembleia geral, num comunicado divulgado segunda-feira. A Sonaecom frisou que a sua oferta não chegou “verdadeiramente ao mercado”. No entanto, a operadora continua a acreditar que “do ponto de vista de criação de valor para os accionistas da PT, para os consumidores e para o país, a nossa proposta era seguramente melhor”.”
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In http://mobile.economico.pt/noticias/sonae-aponta-responsabilidade-ao-governo-na-opa-da-pt_47303.html

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Ou seja, Ricardo salgado é apenas um dos rostos das políticas económicas que em Portugal são prosseguidas há anos em Portugal, que está estabelecido em Lisboa. Podemos estender outros rostos que depois surgem ligados a outras actividades rent seeking promovidas em Portugal, via as famosas Parcerias Público privadas, como por exemplo o Grupo Mello ou até mesmo a Teixeira Duarte, por exemplo.
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Que políticas económicas são essas? São políticas rent seeking, cujas actividades geram rendimentos a determinados capitalistas, que fogem às regras de mercado livre, concorrenciais e abertas. São na generalidade actividades fomentadas por políticos influenciados por lobbies fortemente poderosos, tanto licitamente (financiamento de campanhas políticas legais, dispensa de quadros para exercerem actividade política, forte cruzamento entre actividades económicas e políticas, como caso mais evidente em Portugal, figuras como Miguel Frasquilho, o Manuel Pinho ou até mesmo o Noguera de Leite) como ilicitamente, através da corrupção política. (Ver caso dos sobreiros, envolvendo o próprio BES).
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Estas actividades económicas rent seeking podem também ser vulgarmente conhecidas como actividades fora da alçada do mercado aberto, livre, concorrencial e regulado. Vulgarmente também se designam Bens e Serviços NÂO Transaccionáveis em contraponto aos transaccionáveis ou concorrenciais. E são actividades quase sempre assentes em políticas económicas de governos pouco transparentes, como são o caso dos portugueses. Em Portugal as actividades rent seeking estão quase todas sedeadas em Lisboa, mesmo que parasitagem o resto do país. Um exemplo evidente é o da Brisa, uma empresa que declara lucros (e valor acrescentado bruto) em Lisboa mas sobrevive sem cobrar uma única portagem na capital.

As citações e estas noticias servem para mostrar como funciona Lisboa. O líder do BES promove políticas económicas que criam actividades rent sekking e chega a influenciar positivamente os designios estratégicos do Estado, como no caso do TGV ou do novo aeroporto.


Se em Lisboa e arredores predominam as empresas das actividades rent seeking (como a Brisa, o BES, o BCP, Mellos, etc) no Norte e Centro do país predominam as actividades que sobrevivem a produzir e vender bens e serviços em mercados abertos, livres e concorrenciais. Temos como exemplo, as empresas têxteis, de calçado, metalomecánica, etc. Empresas como a Iberomoldes ou até mesmo Sonae Industria concentram aí as suas actividades e estão bastante dependentes dos mercados abertos e livres para sobreviverem. Denotam quase sempre uma rentabilidade dos capitais próprios baixa, custos de financiamento mais altos, em contraponto às actividades rent seeking, que protegidas pelo poder político, pelos monopólios, oligopólios ou pela falta de regulação, acedem a financimentos mais baratos. E rentabilidades mais altas, quase sempre garantidas pelo Estado.

Este sistema económico promovido por Lisboa tem mesmo raízes culturais e sociológicas profundas. As actividades económicas rent seeking são promovidas normalmente por partidos de esquerda (porque gostam de promover o controlo político, o crescimento do Estado e mesmo o controlo económico da sociedade), partido esses que são sempre ou quase sempre maioritários no Sul e em especial em Lisboa. No Norte, ao contrário, como a própria cultura e relações sociais promovem o espirito livre, empreendedor e crente na funcionamento do livre mercado (basta contrapôr as ideias de um Paulo Azevedo ao de um Ricardo Salgado), na iniciativa privada e na concorrência. Por isso, tradicionalmente o Norte é conservador e de direita (ver alguns trabalhos do Villaerde Cabral) ao passo que Lisboa e arredores, é essencialmente de esquerda e estatista. E parasita. E isto não é assim há apenas recente, tem raízes históricas muito profundas, que até há cerca de 140/150 anos atrás levou a um profundo debate em Portugal, sobre as diferenças entre o Norte e o Sul.

Trabalhos académicos como este, Rent-Seeking and Economic Growth: Western Europe and East Asia: the Cases of Portugal and Taiwan, 1950-2007 , do Luciano Amaral são importantes para perceber as razões do declinio e falência de Portugal, depois de terem quase destruído o resto do pais, em especial o Norte, que paga a chulice de Lisboa. (Aceder aqui: http://apebhconference.files.wordpress.com/2009/09/amaral1.pdf )

Esta actividade parasita, corrupta e “progressista” estará na origem de todas as grandes crises portugueses dos últimos 200 anos. Mas o que importanta entender é o seguinte. A esquerda promove as actividades rent seeking, também por corrupção profunda dos partidos políticos, mas também pela ideologia. Segundo alguns seus ideólogos, como é preciso promover o crescimento económico tem-se que usar o Estado. Aliás, o próprio António Guterres chegou a usar o chamado “modelo social de emprego” para justificar a criação de muitos empregos no Estado, de promover vastas obras públicas através das chamadas PPPs, porque, na sua ideia, como o sector privado não conseguia crescer o suficiente para criar empregos altamente remunerados, teria que o Estado fazer um pressing sobre as empresas, promovendo aumentos salariais muito acima dos aumentos da produtividade. escusado será dizer que este governo de Sócrates apenas continua esta ideologia que promove o rent seeking e a corrupção.

Mas o mais triste foi isto. Os governos do PS, apoiando-se até nas teses dos sindicatos da função pública (sindicatos corruptos, bastante corruptos), sempre promoveram fortes aumentos salarais, bem acima do que os sectores de actividade de bens transaccionáveis, crentes que assim em concorrência com os salários do sector privado, subiriam artificialmente os salários dos sectores abertos á concorrência, acabando por eliminar as empresas que “nem sequer conseguem pagar o salário minimo”.
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Estas políticas idiotas promovidas por Lisboa (e seus partidos dominantes, PS, PCP e BE), ao invés de puxarem pelo tecido produtivo real, apenas o afundaram. Nada como até saber que esta ideologia corrupta e parasita até é tese de autores estrangeiros. Trabalhos como este, How costly is rent-seeking to diversification: an empirical approach (aceder aqui: http://www.cerdi.org/uploads/sfCmsContent/html/333/waldemar.pdf ) até são baseados na experiência portuguesa.
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Portanto, hoje o Norte de Portugal tem que levantar a voz contra Lisboa. Novamente, como no passado. Porque, Lisboa culturalmente, politicamente,e até sociologicamente sempre foi e sempre será corrupta e parasita. É assim desde pelo menos os Descobrimentos. Por isso é que Lisboa e os seus partidos políticos mais influentes são estatistas e promovem actividades rent seeking. E por isso é que os partidos políticos portugueses são quase 2socialistas”. Por isso é que o CDS e o PSD são bastante semelhantes ao PS, PCP e até BE. Porque são partidos bastante dominados pelo próprio eleitorado tradicional, já de si parasita. E quanto menos parasita o seu eleitorado, menos estatista. O CDS é menos estatista quanto menos o seu eleitorado tradicional depende dos dinheiros públicos. Assim como o PSD. O PSD é o partido mais liberal entre os 5 porque tem no seu eleitorado tradicional uma importante franja do Norte. Senão, até se poderia pintar de rosa, que passava bem pelo PS, fundado pelo Soares. E, por isso, não é de estranhar que o PS acabe por ser poiso de muita gente de direita (tanto de ex-salazaristas, como o Freitas do Amaral ou até mesmo o Veiga Simão) como até o PS goste tanto de parte dos nossos capitalistas tradicionais.
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Espero que este longo texto tenha servido para perceber melhor o porquê que o Norte só poderá ser rico e livre no dia em que se desembaraçar das gentes de Lisboa, em especial suas élites corruptas, bem patentes na atribuição de casas camarárias, que foram entregues a jornalistas, como B. Bastos ou até a “empresários” como aquele tipo do CDS e da bola, o Duque. E ainda é mais interessante que esta corrupção generalizada se tenha estendido da direita à esquerda, pois se começou com o Abecassis continuou até pelo menos aos tempos do João Soares.
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Os do Sul pensam que as actividades da bola são representativas do nosso tipo de élite. Mas não o são. E até como prova interessante do quanto são diferentes no Norte, até o Presidente da Càmara do Porto “deu-se ao luxo” de desprezar os mentecaptos da bola para ser eleito duas vezes.

É por isso que o José Silva do Norteamos destaca duas importantes situações interessantes. O euro é a moeda que serve o Norte e não o sul. O euro beneficia os produtores (tanto na Alemanha como no Norte de Portugal) e prejudica os parasitas, seja na Grécia ou em Lisboa. Por isso o Norte deve fazer tudo para se manter no euro, embora eu já sei que os corruptos e os parasitas de Lisboa vão fazer tudo para sairmos do euro. Outra situação que ele bem defende, é o Norte evitar que a escumalha parasita de Lisboa queira centralizar cada vez mais os centros de decisão políticos, eliminado cada vez mais estruturas intermédias de poder.
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E outro pequeno comentário.
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Não é por acaso que o BPI do Ulrich até fez estudos para combater as loucuras de Lisboa e o Tio Ricardo fazia slides bonitos de apoio ás loucuras megalómanas do Sócrates. Isto não é apenas simbólico, é todo um comportamento de que tipo de élites predomina no Norte. E quem diz um Ulrich, diz um Paulo Azevedo, por exemplo. Exemplos de gente que quer viver sem ter o Estado e a mão parasita por detrás dos seus ombros.
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Acho que os do sul, que tanto usam o Bimbo da Costa e alguns seus lambe-botas como tentativa de simbolizar o Norte, deviam pôr os olhos num Vale e Azevedo fugido ou num Flipe Vieira que enriquece demasiado fácil para acreditar na lisura de todas as suas actividades empresariais. Meditem e deixem-se de palermices da bola, porque apenas são expressões de primarismo básico.
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Uma coisa é certa. Em Lisboa a inveja por ferraris ainda hoje se nota em muitos comnetários dos “inteligentes do sul”. mas isso, meus amigos, é problema das vossas conscièncias, não dos empresários nortenhos de sucesso. Esses, merecem bem os ferraris que detêm, pois ao contrário da propaganda sulista, quase sempre são adquiridos sem sequer dever um tostão a um trabalhador. Mas isso, claro, que custa aos invejosos do sul admitir.

Só gostaria de complementar os textos com esta ideia. Quanto mais Lisboa se afunda, mais o Norte se levanta, pois quanto menos actividade parasita do Sul é implementada em Portugal, mais espaço sobra para o tecido produtivo do norte, quase todo na produção de bens e serviços transaccionáveis, rumo á exportação. Por isso não me surpreende muito que as exportações estejam a crescer outra vez bastante, pois as políticas de austeridade sobre o Estado e sobre Lisboa, apesar do continuar do arrastão fiscal, acaba por dar espaço á iniciativa privada.

Por «anti-comuna» aqui: http://blasfemias.net/2011/04/20/sintese-da-execucao-orcamental-2/#comment-352560

PS: Este post é essencialmente dedicado aos lideres do MPN. Alguns deles, apesar de economistas, escrevem que o Norte está em crise. Começo a achar que o objectivo de alguns desse lideres não é a política mas sim outro tipo de negócios. Se os objectivos fossem mesmo o sucesso na política não estariam tão errados.

20110409

Breve e casual comentário

Caros Bartolomeu, Douro, Ventanias.

Obviamente que abandonar o euro é um disparate para o Norte de Portugal e uma grande tentação para Lisboa.

Como referi em 2008 (O FMI "já cá está". O Norte salvou-se. http://norteamos.blogspot.com/2008/11/o-fmi-j-c-est-o-norte-salvou-se.html) todos os últimos 2 anos e os próximos 10, foram/são inteiramente previsíveis. A economia dos bens e serviços não transaccionáveis concentrada em Lisboa, o crony capitalism (ver wikipedia) praticado pelo poder político de Lisboa e o artificial nível de vida que esta região beneficia, era e é insustentável e tinha/terá que acabar. E agora todos eles tem que sofrer as consequências do «modelo de negócio» que escolheram ao longo dos últimos 30 anos. Era o que faltava agora o resto de Portugal ir em salvação de Lisboa.

Por outro lado a economia dos bens e serviços transaccionáveis centrada a Norte e Centro que tem sido sugada pelo sector não transaccionável, como demonstrou Vitor Bento no seu livro «Nó cego» tem estado a recuperar, como eu previ em 2088, como o blogue do consultor Carlos P Cruz Balancedscorecard tem relatado e como se atesta com o recorde de exportações do porto de Leixões em Janeiro último.

Sair agora do euro é uma estratégia típica de Lisboa, milenarmente habituada a viver de esquemas. Se o Norte alinhar neste esquema é apenas revelador da nossa incapacidade de perceber as tendências e construir a nossa estratégia vencedora.

Até o Socrates já percebeu que agora o que está a dar são as exportações e as empresas do regime já se estão a adapatar. A Mota Engil já criou a ME Indústria e Inovação... Apenas as supostas elites do Norte é que ainda não perceberam... E andam as seitas infiltradas no partido do Norte a encaminhar os «patsies» para se criarem bancos... ah ah ah. Enfim, não vão lá...

Ignorem a nossa realidade e o que para nós é o melhor, alinhem com os comentadeiros e tudólogos de Lisboa, apoiem outra vez as suas decisões como o não à regionalização de 1998, e depois queixem-se.
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