«Desde que a ordem existente funcione mais ou menos capazmente, as massas permanecem essencialmente conservadoras. Podem pensar em reformas mas não em inovação total. O extremista fanático, por mais eloquente, parece-lhes perigoso, traiçoeiro, impraticável ou até insano. Não o escutarão.»
Eric Hoffer - Do Fanatismo - Edição guerra e Paz.
Notas:
1- Quando Hoffer atribui ao escritor um papel de liderança num movimento de massas, devemos fazer o devido "aggiornamento" e incluír os bloggers.
2- Existirá um clamor popular pela regionalização? Esse clamor é trans-regional?
3- Hoffer entende que a legitimação de um movimento de massas ocorre sempre a posteriori. Ele é definido por um grupo de crentes iniciais e depois ganha legitimidade através da conversão popular. Os actuais regionalistas convictos já pensaram que o movimento só pode avançar numa lógica de conquista do apoio/legitimação popular?
4- Em grande parte do interior do país, o maior empregador é o estado. Estarão esses portugueses convictos e dispostos a cuspir no prato onde têm comido?
5- Numa lógica de ruptura com o actual status quo admnistrativo, a história é um dado a reter. A última reforma administrativa encontrou profundas resistências populares. Foi feita com base num modelo "downsising".
A história repete-se? O país é fundamentalmente o mesmo?
6- A tónica da desacreditação do modelo centralista (actual) pode ser contraposta a quais bons exemplos de regionalismo já existentes?
Sem respondermos previamente a estas perguntas, o processo dificilmente poderá ter pernas para avançar pois terá por base uma dinâmica voluntarista e sem estruturação/legitimação popular.
2 comentários:
Caro Júlio,
O principal problema de Portugal é ignorância.
E até nestes assuntos ela existe. As massas e as elites estão sobretudo descontentes com a unipolarização do desenvolvimento em Portugal. Mal a conseguem descrever, quanto mais desenhar uma resposta. A simples é Regionalizar. As complexas são: Fusão de Autarquias até chegarem à dimensão de mini-regioões; Círculos Uninominais; Obrigatoriedade de desconcentração da administração pública; Efectiva modernização administrativa.
O problema é que neste momento é preferível uma má Regionalização a nenhuma, e é o que vai acontecer.
Em Portugal temos difuculdade em antecipar e implementar o futuro. Andamos sempre atrasados e apressados.
Ora, meus caros José Silva e Júlio Silva Cunha, é precisamente aí que reside o papel mais alto dos líderes políticos:
- primeiro terem uma visão para o País;
- depois, promoverem-na junto dos eleitores (decisores ultimos em democracia);
É esta uma das principais falhas da nossa elite. Sob a capa/desculpa da tecnocracia, esconde-se uma total ausência de visões para o País...
Por outro lado, o Povo já sentiu, na minha intuição pelo menos, que o modelo centralista, partidocrático, tem coartado o desenvolvimento do País. O terreno está fértil. É hora de aparecerem novas ideias e novas visões. Sob pena de cairmos nas soluções fáceis e mal pensadas, para mais uma vez desbaratar-mos o nosso futuro.
É verdade que, da maneira que as coisas estão, até uma má regionalização é melhor que nenhuma. Mas seria uma pena perdermos uma oportunidade dessas...
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