A RTP, com os direitos de transmissão do Live Earth ignora o espectáculo das 7 maravilhas. A TVI, com os direitos deste último ignora o primeiro. As televisões nacionais ignoram o circuito da Boavista, seja por guerra de audiências (os direitos são do Eurosport), seja por tentativa de atingir Rui Rio (havemos de saber). Há eventos históricos completamente ignorados (por exemplo as comemorações dos 175 anos do desembarque dos Heróis do Mindelo, na Praia da Memória). Por outro lado, festas de freguesias, com carácter comercial e repetitivo, mas com uma boa operação de marketing, passam no telejornal de 6ª feira da SIC, em horário nobre. O campeonato do Mundo de Vela tem cobertura reduzida (que diabo, é um campeonato do mundo de uma modalidade olímpica, na qual Portugal tem tradições!). Quando foi a partida da Lisboa Dakar, a cobertura foi ad nausea. Tantos e tantos exemplos há de distribuição injusta e desproporcionada do espaço mediático.
É inegável que a presença nos media é essencial para a maior projecção de qualquer acontecimento. Estar na TV (principalmente), na rádio, nos jornais, na Internet é fundamental às vezes até para existir, e há gente que faz isso maravilhosamente. O que não é mediático não existe para muitas pessoas.
Tendo descoberto esta realidade, a subsidiariedade mediática é já uma realidade. Proliferaram as rádios locais há mais de 20 anos, em Portugal. Depois o Estado meteu a sua pata e estragou tudo. Há várias tentativas de canais televisivos regionais: CNL, NTV, Porto Canal, por exemplo, todos votados ao fracasso. A TSF, por exemplo, tinha alvará de rádio local do concelho de Lisboa. Depois percebeu que só sendo nacional é que teria projecção e agora até pertence a um grande grupo: ganhou valor e foi vendida. Em Espanha é diferente: a dimensão do país e a questão das diferentes línguas justificam per si a sua existência.
Porque é que em Portugal estes canais regionais não têm sucesso? Porque somos demasiados pequenos? Porque não temos assim tantas diferenças que os justifiquem? Talvez ambas as razões sejam verdadeiras. O que me parece indesmentível é que as televisões (e as rádios, e os jornais) “vendem” muito bem o conceito de que só em Lisboa é que se passam coisas na política, na sociedade, na cultura, no desporto. Todo o resto do país quase só interessa para programas de evasões. O público-alvo desses canais é, em grande parte o de Lisboa.
Confesso que a RTP N era uma esperança. Desiludiu-me. Era uma esperança porque, tendo instrumentos para ser um canal nacional que pudesse dar um pouco mais de atenção ao Norte, foi lentamente tornando-se num canal mainstream, igual aos outros. O N mudou de “Norte” para “Notícias” e cada vez fala menos do Norte e está cada vez mais em concorrência com a SIC notícias e fala cada vez mais de Lisboa.
A SIC chegou a ser um canal regional, pela negativa, quando tinha a linha editorial anti-Porto. Nessa altura foi líder de audiências. Felizmente arrepiou caminho e agora é um canal decente. Lisboeta, centralista, é certo, mas decente.
A TVI afirma-se cada vez mais como o canal das sopeiras. Essas são mais ou menos iguais em todo o lado e o Portugal profundo que aparece é o Portugal pimba que existe uniformemente em todo o país, e que não é motor de desenvolvimento nenhum, por isso não conta para o assunto deste post.
Da RTP 1 não se espera nada, como não se pode esperar nada de uma instituição que depende hierárquica e financeiramente dos sucessivos governos, que eu se sabem centralistas e dominadores. Da 2 sim, mais, mais uma vez, até neste canal deficitário se nota que o dinheiro é mal distribuído.
Que formato e que papel poderá, então, ter um canal que represente uma região, sem ser provinciano, atraindo uma audiência nacional e constituindo um factor de desenvolvimento e de aglutinação de vontades e energias?
Esta é a pergunta a que candidatos a eventuais canais regionais, no Norte, ou outras regiões terão de saber dar resposta, sob pena de ficarem, para sempre limitados a uns 5% de audiência, de uns quantos espectadores mais fanáticos, reproduzindo apenas, como imagem da região, uns seres autóctones, atrasados, bairristas, provincianos, invejosos, malcriados, incapazes de cuidarem dos seus próprios destinos.
E, para canais de fauna autóctone, já nos basta o National Geographic e o Discovery.
3 comentários:
Para não falar que ignoraram o apuramento de Portugal, para a final da Liga Europeia de Voleibol, uma prova que está a decorrer no nosso pais.
por mim quanto menos falarem de selecções de portugal melhor
é da maneira que o povinho do norte deixa de amar esta merda de pseudo-país do minho ao al-gharb
o futebol, as selecções sao grandes armas do governo para unir as populações em tempo de crise ou quando ha descontentamento
Já é tempo de pensarmos na cantonizacao do país. Há mais diferencas entre Porto e Lisboa do que entre Zurique e Genebra.
Desculpem as cedilhas e acentos mas estou na Alemanha.
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