Eu sei que há muita malta do Norte, a quem chamo "os complexados da bola", que não gostam que se aborde o tema futebol. Lá no pensamento deles julgam que nos prejudica e prejudica a causa da Regionalização. Têm medo do que os "lisboetas" podem dizer; têm medo que os apelidem de "provincianos" tacanhos obcecados pela bola; têm medo que certos "opinadores" os tomem por uma espécie de sicilianos da Ibéria. Enfim, sem ofensa, mas eu cá acho que o problema é a colonização mental: estão submetidos aos ditames do pensamento único "politicamente correcto" dos próceres do centralismo. Eu não tenho temas proibidos nem tabús.
Vem hoje no Público uma análise interessante sobre as receitas publicitárias dos 3 maiores clubes de futebol cá do rectângulo. Ao contrário do que seria suposto esperar - visto que na boca da maioria dos jornais, jornalistas, opinadores encartados ou por encartar e todo e qualquer bicho careta que se ponha em bicos de pé em Portugal, o famoso clube "maior do mundo", dos "6 milhões de adeptos (se não contarmos com os gentios de África, porque nesse caso sobe para 12 milhões)", "instituição", "glorioso" e outros encómios (termino aqui porque o rol é longo e nada modesto), não tem páreo em Portugal -, o campeão (mais uma vez) das receitas é o FC Porto: arrecadou 22 milhões de euros na época passada. Mais 8 milhões e setecentos mil que o segundo classificado, o famigerado SLB.
Aqui há uns anos um estudo da euroexpansão já dizia que 30% da população portuguesa era adepta ou simpatizante do clube das Antas. O que por si só invalida a tese dos 6 milhões. No distrito do Porto essa percentagem subia a 80%. Logo aí - distrito do Porto - onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas o FC Porto teria cerca de 1,6 milhões de adeptos. No entanto, este estudo, o único com alguma validade científica, foi sempre desvalorizado e ostensivamente ignorado pelos habituais vectores de formatação de consciências. Agora os investidores não se enganam e não têm por hábito andar a esbanjar dinheiro. Se eles investem mais no Dragão é porque é aí que o retorno é maior. É aí onde as suas mensagens publicitárias têm maior audiência. O FC Porto é aquele que mais gente chama aos seus espectáculos. Caso contrário não obteria quase o dobro da receita publicitária do seu mais directo competidor. Talvez esteja aqui, neste apetecido mercado de muitos milhões, o motivo de muitas campanhas em curso e da facilidade de financiamento que um pseudo realizador de cinema, marido duma ressabiada jornaleira, encontrou para realizar a versão cinematográfica duma famosa e recente obra não prima da literatura nacional. É que é muita "fruta" que está em jogo.
Mas foi sempre assim o mais representativo clube de futebol da Invicta? Não, já houve tempos em que pouco valia, era um clube simpático, pressuroso para com os manda-chuva da capital e eternamente relegado para segundo plano. Esta empresa, porque é duma empresa que se trata, não se move num ambiente puramente económico. Move-se, acima de tudo, num campo - a indústria futebolística - que é muito mais político que económico. Ora aí para ter sucesso só existe um caminho: ter poder! Foi isso mesmo que fez, organizou-se, fortaleceu-se, delineou uma estratégia e tomou o poder. Depois disso não limpa espingardas, não dorme na forma e conserva o poder conquistado apesar de todos os ataques que lhe vão sendo desferidos. Porque, tal como a guerra, o futebol também é a continuação da política por outros meios.
O futebol é hoje uma indústria internacionalizada com elevado potêncial de crescimento, geradora de grandes receitas publicitárias e turísticas, que deve ser olhada com os chamados "olhos de ver" e aproveitada para ajudar na subida do rendimento geral. Aqui no Norte - deixem-se de complexos! - existem algumas vantagens competitivas que devem ser aproveitadas. Falta ainda elevar um outro clube a um nível de competividade internacional. Agora que o Boavista caiu numa crise donde levará bastante tempo a sair, o candidato com mais potencial, até por uma questão de desconcentração, é o SC Braga. Basta-lhes, aos de Braga, que queiram e deixem de ter ouvidos para certas "sereias".
Qualquer semelhança deste texto com o post que colei nesta parede, lá em baixo, há uns dias atrás é pura coincidência. :->
4 comentários:
Caro António,
Só há 2 assuntos em que está errado:
- Eu prefiro ir ao blogue EDeusCriouaMulher do que processar semanalmente as vicissitudes de 22 homens a correr atrás de uma bola durante 2 horas. Estou satisfeito com o meu bom gosto.
- O futebol é o circo moderno. O circo antigo e pão eram as formas dos romanos manipularem o seu povo. A Norte, as vitorias do FCP vão permetindo Lisboa governar-se. Por isso, paradoxalmente, são aliadas de Lisboa. Você já devia ter chegado a esta conclusão sociológica, ou ainda está nos 1ºs anos ?
Na luta pelo negócio das receitas publicitárias quer PC, quer LFV estão disponíveis para oferecerem fruta a árbitos. Corrupção ? Não. Esta só ocorre se existir Estado.
"Eu sei que há muita malta do Norte, a quem chamo "os complexados da bola", que não gostam que se aborde o tema futebol. Lá no pensamento deles julgam que nos prejudica e prejudica a causa da Regionalização. Têm medo do que os "lisboetas" podem dizer; têm medo que os apelidem de "provincianos" tacanhos obcecados pela bola; têm medo que certos "opinadores" os tomem por uma espécie de sicilianos da Ibéria. Enfim, sem ofensa, mas eu cá acho que o problema é a colonização mental: estão submetidos aos ditames do pensamento único "politicamente correcto" dos próceres do centralismo. Eu não tenho temas proibidos nem tabús."
Gostei deste seu paragrafo.
Vê-se que você pensa por si próprio e não tem medo, nem segue o que está instituido, que na maior parte das vezes esta errado, como nós já bem sabemos.
Gostei deste seu comentário.
Já agora aproveito para dizer que o Porto, o Braga e os clubes do norte deviam era tar a jogar noutro campeonato.
Imaginem o Campeonato Galaico, com Corunha, Celta de Vigo, Oviedo, Porto, Braga, Boavista, Guimarães. Ai, ai, quem me dera. Ganhasse quem ganhasse, seria sempre uma equipa Galaica, não haveria ca mouradas :)
assim sim, seria um campeonato nacional, verdadeiramente nacional
Caro José Silva,
Reduzir o fenómeno futebol a 22 gajos correndo atrás duma bola é não perceber a importância que este jogo tem no campo das representações e do simbólico nas actuais sociedades europeias e sul-americanas. Aliás, ao contrário do que se julga, o futebol, como invenção dos anglo-saxónicos, é muito mais herdeiro directo dos torneios medievais, que tiveram grande popularidade e fizeram parte da chamada cultura cavaleiresca da Idade Média em toda a Europa Central e do Norte, do que do circo romano. Esta cultura, incipente na Ibéria, devido à interrupção muçulmana, embora retomada mais tarde nunca atingiu, tal como o sistema social e económico conhecido por Senhorialismo/Feudalismo o desenvolvimento que atingiu no resto da Europa Ocidental. A figura do gladiador, que muitos gostam de comparar ao moderno jogador de futebol, é muito mais um mito criado pelo cinema de Hollywood do que um fenómeno social relevante durante o Império. Herdeira directa do circo dos romanos são as actuais touradas, essa sim uma ancestral tradição mediterrânica e latina que, felizmente, não tem muitos adeptos por cá.
Mas mudando de Assunto e voltando à vaca fria: a minha intenção foi apenas demonstrar a importância, nada desprezível, da "indústria". Dei também algumas pistas para que, na minha modestíssima opinião, seja mais fácil compreender o porquê (€) de certas guerras em curso.
É claro que o futebol também tem muito de alienação. Mas, convenhamos, não tem o monopólio nessa matéria, nem sequer é o mais poderoso meio actual para tal fim. O que metem na cabeça da malta, minuto atrás de minuto, através das televisões, por exemplo, é bem mais eficaz. E depois, os escapismos, e o futebol é um bom escapismo, também têm o seu quê de positivo: contribuem para a paz.
A vida não se reduz às oscilações do preço do metro quadrado. As motivações dos grandes grupos humanos vão muito para além dos interesses imobiliários dalguns proprietários. Tem muito mais a ver com identificações com certos simbolos do que à partida as almas mais distraídas tendem a julgar.
Quanto ao bom gosto não o discuto. Cada um é como cada qual. Mas eu também li a PlayBoy... na adolescência. :-)
Um abraço
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