Luisa Bessa, no Jornal de NegóciosO ambiente no Norte é depressivo, mais depressivo ainda que no todo nacional. Compreende-se que seja assim: a região, que outrora foi a mais exportadora do país, tem sido a mais atingida pela abertura dos mercados e a reestruturação do tecido industrial deixa atrás de si um lastro de desemprego e de pobreza envergonhada.
O Norte está condenado a ser uma das regiões mais pobres do país? O exercício futurista do jornalista Rui Neves, de antecipar o que pode ser a região no final do novo ciclo de fundos comunitários, diz claramente que não. Que a região pode inverter a tendência e passar a crescer acima da média nacional, que pode recuperar o gigantesco "gap" em matéria de habilitações da sua população activa, que pode voltar a criar emprego e mais qualificado do que aquele que
perdeu.Para que o exercício futurista não seja apenas isso, é necessário que a região tire o máximo proveito do QREN, substituindo a aposta no "hardware", que foi dominante nos três anteriores quadros comunitários de apoio, pela prioridade ao "software". Mas para que as opções possam ser as que mais interessam à região e para que se acabem as desculpas para os decepcionantes resultados obtidos ao fim de duas décadas de investimentos, que contrastam, por exemplo, com o "milagre" da Madeira, a questão da regionalização volta a estar na ordem do dia. A lógica da desburocratização e da descentralização, que está a ser desenvolvida pelo Governo, tem os seus limites e não é suficiente para uma gestão criteriosa e integrada de projectos com impacto regional. Assim como não se admite que a gestão dos fundos seja ainda mais centralizada do que no passado.
A verdade é que a desconfiança em relação à regionalização, com o argumento de que com as regiões vão multiplicar-se os pequenos caudilhos à imagem e semelhança dos autarcas às voltas com a justiça, sofreu nos últimos tempos um revés. É que o autarca modelo já não vem do Alentejo, mas do Norte. Rui Rio, que nem sequer é particularmente bem amado pelas elites da cidade, que mais facilmente cria um inimigo do que um aliado, em especial no universo da cultura, foi erigido em modelo a seguir quando Saldanha Sanches, disse que "António Costa pode fazer em Lisboa o que Rui Rio fez no Porto".
A segunda vitória do Norte foi conseguida na segunda-feira, com a decisão do Governo de analisar a hipótese de Alcochete como alternativa para o novo aeroporto de Lisboa. O Norte encabeça, desde os primórdios, a oposição à Ota, porque a localização a Norte do Tejo é a mais gravosa para a dinâmica do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Porque algumas vozes do Norte têm sido das mais cáusticas no argumento de que o aeroporto na Ota não passa numa análise
custo-benefício. Claro que se a oposição à Ota tivesse ficado circunscrita ao Norte, teria sido mais fácil ao Governo acantoná-la. Os verdadeiros problemas começaram quando às vozes do Norte se somaram as vozes de Lisboa e as reservas dos técnicos. Tornando insustentável manter uma decisão política, na qual a a maioria dos portugueses já não se reviam.
20070613
Duas vitórias para o Norte
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