Não li nem conheço o conteúdo do livro referido aqui por Júlio Silva Cunha, "As cidades e a riqueza das nações". No entanto, o que aqui ficou dito sobre o mesmo e os comentários que provocou, suscitam-me os seguintes comentários.
A minha experiência, sobretudo profissional, levou-me a viver algum tempo (mais de 7 anos), quer na Holanda, quer no Luxemburgo. Nesta zona da Europa, não há grandes cidades, no sentido referido por JSC. Aliás, a Alemanha pós-segunda Grande Guerra, é um exemplo da busca de desenvolvimento sem procura da criação de grandes cidades - não foi por acaso que Bona foi escolhida como capital, assim como não foi por acaso que ali se manteve até à reunificação.
Mais, creio que estes países demonstram à evidência que a criação de uma rede de cidades médias é particularmente favorável ao desenvolvimento económico sustentado.
Já há uns anos, tive a perfeita noção de que o essencial da vida moderna, mesmo na vertente económica, se resolve ao nível da cidade. A humanidade é hoje em dia essencialmente marcada pelo "homo urbanus". Um ser que prefere a cidade pelas possibilidades que esta oferece em termos do sector em que hoje em dia se cria mais riqueza: os serviços.
Hoje em dia, a utilização intensiva do capital, permite taxas de produtividade no sector primário e secundário que, num mundo globalizado, são dificeis de combater. As pessoas não querem comprar um leitor de dvd português; querem comprar o melhor e mais barato leitor de dvd possível. Mais, a diminuição dos preços dos leitores de dvd, permite que cada vez mais pessoas possam comprar leitores de dvd's.
Por conseguinte, o que sobra para criar valor e riqueza, são os serviços. Uma grande parte dos serviços, ainda por cima, não são deslocalizáveis - pense-se nos restaurantes, nos barbeiros, nas farmácias, etc, etc. etc.
Mas há mais. Quando as pessoas tem leitores de dvd, querem conteúdos para se entreter. E muitos desses podem ser locais. As cidades com dimensão suficiente, querem também oferta cultural. O turismo tem um potencial inesgotável, nas décadas que se aproximam.
Tudo o que se aponta, serve apenas para justificar que será mais fácil criar modelos de desenvolvimento sustentável se apostarmos no desenvolvimento harmonioso de uma rede de cidades médias. Seguramente, um modelo mais adequado ao séc. XXI do que o modelo de uma grande cidade que "puxa" por uma nação - que corresponderá mais ao séc. XIX.
Mais ainda. Uma rede de cidades médias promove a concorrência entre cidades. E essa competição é normalmente saudável, como se pode facilmente verificar na Holanda e no Luxemburgo, mas também nas suas regiões vizinhas, quer da Alemanha, quer da Bélgica, quer da própria França.
Mas, ainda mais importante, permite criar condições de flexibilidade que os outros modelos não promovem.
Por tudo isto, creio urgente que se ponha um ponto final no macrocefalismo acéfalo que tem governado o País, em particular nas últimas décadas, e que se comece a exigir um maior esforço de reequilíbrio dos investimentos públicos no País.
Ora, não creio que isso possa acontecer sem que o "resto do País" - e muito da Lisboa que se prejudica com o Terreiro do Paço, como por exemplo nos seus arredores - o exija e até o imponha. Para isso é necessário projectos claros. Aqui neste blog fala-se de alguns.
A mim parece-me que o mais urgente é o da privatização da Ana.
O Norte, e o Porto em particular, tem de exigir do poder central que a gestão do aeroporto Sá Carneiro seja autonomizada da Ana. Se a querem privatizar que a privatizem, mas antes que autonomizem o ASC e que nos permitam a nós privatizar a "nossa" Ana, ficando por cá os benefícios - sim, porque ninguém quer mais uma empresa municipal para gerir o Sá Carneiro.
É que, além do mais, o País também beneficia, porque isso trará concorrência ao sector aeroportuário nacional.
É possível um Portugal melhor. Basta querer.
1 comentário:
Caro Ventanias,
Este é um assunto importante para abordar proximamente.
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