O programa de "Prós & Contras" apenas teve "Prós". Ou apenas "Contras". Não havia visões alternativas para a cidade. Não havia ninguém do poder central. Não havia interlocutores. O Porto estava a ser debatido, mas apenas entre os portuenses. O Porto não tem com quem dialogar. Não adianta lamuriar. Não há ninguém para ouvir. O Porto apenas ao Porto interessou (espero que ao Norte "alargado" também). É sintomático. Apenas os portuenses são capazes de "levantar" outra vez o Porto. Mais ninguém o fará.
Dúvido que Luis Filipe Menezes não tenha sido convidado. Se o foi, recusou o convite. Compreendo. A marca "Porto" é má para um político com ambições a liderar o poder central (Rui Rio é uma excepção). Nem seria propício estar a debater questões regionais. Ao primeiro ataque ao poder central, todos se lembrariam da famosa "frase"...
O programa inicia-se com uma peça jornalística sobre o Porto. O sotaque é claramente portuense. Normalmente costuma ser um "ruminanço" galaico-português. Pela raridade do acontecimento, não consigo deixar de me recordar do post do Júlio Silva Cunha.
Rui Rio
Assume a diferença entre o Porto e o Norte. Afirma que o Norte tem problemas muito superiores aos do Porto, e decorrem do tecido económico industrial. O Porto é central para a competitividade do Norte. Sem competitividade no Porto, dificilmente há competitividade no Norte.
Disse ainda que "precisamos é de um governo em Lisboa com uma dimensão nacional, e não apenas preocupado com o que o rodeia até 100kms".
Tendo em conta Júlio Silva Cunha, a criação de riqueza está dependente da existência das cidades. Neste sentido Rui Rio tem razão, o Porto é muito importante. Só que o Norte é multipolar, ao contrário da região de Lisboa. É uma rede de cidades. Sem dúvida que o "quadrilátero urbano" minhoto e Aveiro têm um papel a desempenhar. Costumo dizer que o Porto é o coração, Braga e Aveiro os pulmões, e as outras cidades são outros órgãos relevantes. Sem o coração não há vida, mas sem pulmões também não se vai longe.
Belmiro de Azevedo
Põe o dedo na ferida. O Estado Central não é parcial perante as empresas. Favorece umas em detrimento de outras. Critica que se favoreça os investimentos estrangeiros face aos portugueses. É burocrático. E é permeável aos interesses dos que frequentam o Terreiro do Paço. O Governo não consegue ver a 100kms de distância porque está refem dos interesses económicos instalados na Capital. Pede imparcialidade.
Põe o dedo na ferida outra vez. Ao exemplificar com a falta de descentralização, mostra o erro de base em Lisboa: em igualdade de circunstâncias, centraliza-se. A opção devia ser a inversa.
Coloca mal a questão da OPA à PT. Diz que o Governo defendeu Lisboa. Não é verdade. Defendeu os interesses de grupos económicos e gestores de Lisboa. Esses ganharam. Lisboa-cidade, tal como todo o país, perdeu.
Ridiculariza, juntamente com Rui Moreira, o suposto investimento privado no novo aeroporto de Lisboa: "iniciativa privada em que o privado não corre riscos...não é iniciativa privada. É financiamento privado. Mas mais vale recorrer a dívida pública."
Ludgero Marques
Pouco disse de novo. Falou da concentração de investimentos em Lisboa após 98, e retirada do Porto dos departamentos com capacidade de decisão.
Não foi claro ao transmitir uma das suas principais ideias: que o Porto está numa relação periférica em relação a Lisboa. Isto é verdade. É por causa do péssimo serviço público da TAP (que se atrasa quase sempre). Não é possível a um empresário do Norte ir a uma reunião a Lisboa, por pequena que seja, e não perder um dia de trabalho, e pagar mais do que pagaria por ir a Paris.
Rui Moreira
Foi bastante esclarecido. Rejeitou o conceito de "capital do Norte". Falou no erro estratégico que foi afirmação do Porto como capital como contraposição ao poder centralizador crescente de Lisboa. De facto, o resto do país (quem mais perdeu) não se reviu no discurso da bipolarização. O Porto devia ter falado no resto do país. Mais, depois da derrota no referendo da regionalização, devia ter lutado pela descentralização prometida. Não o fez. E esta não só não aconteceu, como foi invertida. O "Não" fez os centralizadores sentiram-se legitimados. E este Governo é o mais centralizador de sempre.
Fala ainda no centralismo insustentável e anti-democrático: "hoje quando alguém no Porto fala de um tema nacional, dizem logo "porque é que este tipo do Porto fala de um problema nacional?""
Defende que as vantagens de Portugal no Noroeste Peninsular são o ASC e o Porto de Leixões. E o Estado não pretende fazer ligações do "TGV" a essas infraestruturas. Afirma que o QREN é dinheiro das regiões pobres, e não pode sair destas para financiar projectos de infraestruturas para as regiões ricas. Afirma ainda que com esta máquina politico-partidária, o país não muda, A solução é a regionalização.
A meu ver, o que aconteceu foi que o resto do país preferia uma "capital neutra" a duas "capitais" em luta pelo poder. O resultado não foi o esperado. Lisboa não é, nem nunca poderia ser, uma capital neutra. Só há capitais neutras quando o poder político e o económico não coincidem. Perderam todos - Lisboa, Porto e Portugal (o coração funciona, mas respira mal, os rins estão a falhar e o fígado já não funciona...).
Luís Portela
Fez o apelo ao empreendedorismo portuense, e a que cada um faça o seu papel. Defende a coopetição entre regiões como modelo de desenvolvimento. Cooperar para competir melhor com os outros. O caminho é pelo conhecimento, pela qualificação, e pela ambição.
Lobo Xavier
Fala nos maus protagonistas do Porto de há 20 anos atrás, que desprestigiaram a região e a luta pela regionalização.
De forma subtil, fez a afirmação mais incómoda da noite para Lisboa e Porto:
"Mas, por outro lado, não temos nada a reinvindicar nada de Lisboa. O Porto não quer ser igual a Lisboa com funcionários e serviços públicos. Quero um Porto cuja qualidade de vida resulte das características naturais e históricas do Porto - o empreendedorismo, a independencia do Estado. (...) As pessoas do Porto já não estão sempre a contrapor com o funcionalismo, e com a subsidiação"
Jornalista (não apanhei o nome)
"Foram as cidades que fizeram a europa, não os países. O país não funciona se as suas cidades não funcionarem." Mais uma vez me lembra este post.
Emílio Perez Touriño
"A experiência de cada país é diferente. Mas o processo de autonomizção em Espanha tem sido coroado de êxito. Nada do que se passou em Espanha se teria passado sem as autonomias. Para toda a Espanha de 2ª velocidade, as autonomias permitiram a mobilização de capacidades e de recursos. Necessitamos de um Estado forte que assegure o equilibrio social e territorial, mas a autonomia que permita a mobilização de energias."
Paulo Gomes
Assustador. Mostrou qual é problema dos burocratas. À primeira crítica começou logo a defender o "suserano". Belmiro criticou a lentidão na aprovação dos projectos do turismo no Douro. Ele respondeu que estava tudo muito bem. Que no Algarve não havia atrasos. Que existem os projectos classificados PIN.
É engraçado. Os projectos PIN ("de interesse nacional") passam à frente de todos os outros. Os que não são PIN ficam sempre para trás. Se os projectos no Algarve são PIN e no Douro não, ficamos a saber que o Algarve (rico) é prioritário e o Douro (pobre) não. Claramente o Estado não é imparcial. Em vez de reclamar, Paulo Gomes acha muito bem, pois o licenciamento está a ser revisto (é verdade, sei com conhecimento de causa). Mas no entretando, o Douro pode ficar ainda mais pobre. Confirma-se tudo o que eu disse sobre a diferença entre um burocrata e um político regional.
Resto do Programa
Depois disto, passamos à discussão de questões puramente municipais. Quem é que concebeu este programa? Só faltou discutir o edifício transparente. Valha-nos Deus...
Consideração finais (pessoais)
Muita parra e pouca uva. Conseguiu fugir da tradicional lamúria e reinvindicação face à cidade de Lisboa. As baterias apontadas foram ao poder central. Apelou-se ao empreendedorismo, à não dependência do Estado, à qualificação. Mas também à descentralização e independência do poder político. O diagnóstico não é novo. Mas foram ideias soltas, não integradas. São tijolos, mas não um edifício. Estou certo que cada um dos entrevistados conseguiria melhor, se tivesse mais tempo de antena para explanar ideias. Uma coisa é clara - não há uma visão mobilizadora para a região, nem uma estratégia (indicativa) definida.
Mas, vendo por outro prisma, havia lá uma semente em agitação. O Porto deixou de pedir investimentos. É um óptimo sinal. Não me pareceu que todos eles tivessem isto claro, mas a ideia começa a estar lá: "não queremos que façam nada, queremos que nos deixem fazer, e queremos imparcialidade do Estado..."
De qualquer forma, os blogues estão muito à frente destes debates televisivos. Sem dúvida.
7 comentários:
Eu diria que o Ludgero foi uma menos valia para o debate.
Foi mais uma oportunidade de tempo de antena...
A apresentadora do programa esteve muito mal, preocupada que estava em aproveitar as divergências entre os nortenhos. Rui Rio e outros tentaram dar a volta mas perdeu-se tempo. Se queria um programa típico "pós e contras", se queria espectáculo deprimente não escolhia estas personagens, escolhia os arruaceiros do costume. Não há dúvida que com um bom guião para o programa se podia conseguir muito mais.
Concordo plenamente com o comentário de trigalfa. A Fátima esteve muitos pontos abaixo daquilo que seria de esperar. O tema em debate é muito amplo e não foi devidamente organizado. Houve, contudo, várias intervenções interessantes cujas mensagens deveriam ser calmamente analisadas e, se possível, concatenadas num programa único de acção que servisse de guia para a tão desejada recuperação económica e social desta região. Tenho a certeza, que, com uma liderança forte (se possível descomprometida)seríamos capaz de fazer frente às sucessivas investidas deste centralismo que nos paralisa.
centralismo??
acho que a palavra certa é colonialismo
achei piada foi a investigaçao cientifica.
70 e tal % em Lisboa e 6% no norte
lembro-me tambem desta frase
"No “norte” reside mais de 37% da população portuguesa, é a região mais miserável, no entanto o governo apenas investirá no “norte” 4,6%.
Investir 4,6% numa região onde reside 37% da população diz tudo."
do comentario a Silva Peneda http://legiaoinvicta.blogspot.com/2007/02/silva-peneda.html
Enfim, somos uma autentica colonia
Esqueceram se de referir que o norte vai á frente no crescimento da taxa de desemprego.
Esqueceram se tb de referir que o governo de Lisboa não deixou criar a região transfronteiriça Galiza / Norte de Portugal.
Esqueceram se de muita coisa... deviamos aprender com os nossos vizinhos espanhois.
Neste momento temos necessáriamente de nos comerçarmos a preocupar connosco e impedirmos que continuem a fazer de nós o que querem.
Precisamos de um ou mais lideres... como por exemplo o Dr Alberto João Jardim da madeira.
Aparecam eles e cá estaremos nós para os seguirmos. devemos preparar a regionalização... E A PARTIR DE AGORA, para não acontecer como anteriormente que propositamente ninguém quiz falar... porque será?
Ludgero Marques foi o pior. Porque não tem uma unica ideia, porque a AEP depende dos favores do estado no europarque, da API nos seus projectos e do PS na transformação da Exponor. Mais do que isso, Ludgero é um vestigio dos piores momentos do Norte, representa os seus piores interesses. A subsidio-dependencia e os queixumes dele já não abanam o país. a AEP foi ultrapassada pela ACP que é hoje, a par da AIMINHO, a voz do norte empresarial.
MIGUEL MARTINEZ DEVESA
MILAGRO 11-VALENCIA-46003-ESPAÑA
ES "CURIOSO" QUE EL SR. BELMIRO DE AZEVEDO" DIGA: QUE EL GOBIERNO
"NO" ES "PARCIAL" CON LAS EMPRESAS
QUE "FAVORECE" A UNAS EN DETRIMENTO DE OTRAS.
CASO LA "OPA DE PT" EN EL CUAL
"PORTUGAL" PERDERA POR "NO" HABERSELA DADO A "EL" SEGUN PARECE
SU COMENTARIO.
ES "ASOMBROSO" QUE EL SR BELMIRO DE ACEVEDO SE ATREVA A DECIR ESTO.
CUANDO A CONSEGUIDO "TODA" SU INMENSA FORTUNA. "GRACIAS" A PORTUGAL QUE LE DIO LA OPORTUNIDAD DE SER LO QUE ES HOY,
EMPEZANDO DE "NADA".O SEA "O".
A SUS 69 AÑOS ,TENDRIA QUE "DEVOLVER" A SU PAIS, DE UNA FORMA U OTRA ,TODO LO QUE SU PAIS LE DIO Y "NO" SOÑAR COMO LOS "
FARAONES DE EGIPTO" .
YO PERSONALMENTE LO CONSIDERO, PERSONA "NO" GRATA E INDIGNA. POR EL MAL QUE ME HIZO A MÍ.
LO CONSIDERO QUE POR "DINERO" ES CAPAZ DE TODO, SIN IMPORTARLE DE DONDE VIENE , NÍ COMO VIENE.
ME EXPLICARE:
SOY UN EXTRABAJADOR DE SU GRUPO
TRABAJE EN "INDUSTRIAS QUIMICAS DEL CARBONO" VALENCIA-ESPAÑA ,COMO
"ENCARGADO DE MANTENIMIENTO" MAS DE 30 AÑOS.
EL SR BELMIRO DE AZEVEDO "ORDENO" LA "VENTA" DE LA FABRICA "ANTES" QUE "ORDENARA" MI "DESPIDO".
COBRO 120.000 EUROS POR MI "DESPIDO" PAGADOS POR LA EMPRESA
COMPRADORA, COMO CONDICIÓN PARA SU VENTA.
EL SR BELMIRO "ORDENO" Y "MANDO" A UN SR. A MI FABRICA, ENCERRADOS EN UN "DESPACHO" O "MAZMORRA"
"FIRMARA" MI DESPIDO Y RENUNCIA A 120.000 EUROS."COSA QUE CONSIGUIO".
CLARO QUE PARA ELLO TUVE QUE SER:
CHANTAGEADO,EXTORSIONADO,AMENAZADO
Y ENGAÑADO CON TRAMPAS Y MENTIRAS,
PROPIO DE PERSONAS SIN DIGNIDAD NI ESCRUPULOS.
RECURRI A LA JUSTICIA Y "NO" PUEDE HACER NADA ,PORQUE "FIRME"
¿VOLUNTARIO? Y MAS CON LOS ABOGADOS DEL SR BELMIRO ,QUE SON LOS MEJORES DE ESPAÑA.
SOLO ESPERO QUE SE DIGNE ALGUNA VEZ A DEVOLVERME ,LO QUE CONSIDERO QUE ES MIO Y QUE VILMENTE FUI EXPOLIADO.
POR FAVOR "VDS JUZGUEN MI COMENTARIO".
GRACIAS
ATENTAMENTE
MIGUEL MARTINEZ DEVESA
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