20071031

Paroquialismo bacoco: o maior aliado do centralismo

Ainda o Portocentrismo

JPM, comentando este post, escreveu o seguinte:

«Se a construção do hospital fosse da responsabilidade directa do Município de Braga já estaria aberto há muito ao público. Ou tem dúvidas?»

Concordo. É exactamente por isso que me custa ver avançar uma Regionalização em que o Porto vai acabar por fazer ao Norte o que Lisboa tem feito ao país...

O post acima, publicado no Avenida Central por Pedro Morgado, é o exemplo paradigmático do pior provincianismo que campeia por este norte fora. Sem qualquer fundamentação, porque a construção de um hospital em Braga não tem rigorosamente nada a ver com o Porto, nem esta cidade, município, ou área metropolitana tem qualquer poder para decidir sobre o assunto, Pedro Morgado, num exercício da mais completa desonestidade intelectual, fruto dum estranho ressabiamento ou complexo de inferioridade - porque nele estas atitudes são recorrentes -, conseguiu tirar a ilação de que caso a Regionalização avançasse o "Porto vai acabar por fazer ao Norte aquilo que Lisboa tem feito ao país". Não disse porquê nem como, mas isso, obviamente, são pormenores que em nada põem em causa a elevadíssima lógica do seu pensamento.

Enfim, cada vez mais me convenço que o futuro dificilmente passará por este tipo de discussões. A minha única esperança é que um dia o povo chamado a decidir seja capaz de distinguir entre o que verdadeiramente interessa; saiba distinguir o trigo do joio e atire para o caixote do lixo da história este tipo de cassandras que não passam de instrumentos nas mãos do mais obscuros poderes interessados em perpetuar o actual estado de coisas.

Defendem estes "regionalistas" que a Norte deverão ser criadas duas regiões - Grande Porto separado do resto do Norte. Não haverá melhor forma de beneficiar o putativo centralismo do Porto que esta solução. A escassa inteligência destas mentes (ou inconfessáveis interesses) impede-as de dizer que o Grande Porto é responsável por 42% do PIB da região, congrega 34% da população e concentra no seu território as principais infra-estruturas vectores da internacionalização da economia. Se sem qualquer capacidade política e orçamental autónoma é capaz destes resultados, maiores e melhores alcançaria se dessas prerrogativas já usufruísse há muito. Porque se tal cenário um dia vier a materializar-se, a área metropolitana do Porto com certeza que se alargaria ainda mais, como aliás já é evidente com a adesão de muitos dos mais dinâmicos municípios do norte do distrito de Aveiro à chamada Grande Área Metropolitana do Porto da já morta reforma Relvas. Estou em crer que nesse caso ela se alargaria mesmo a outros concelhos a norte como, por exemplo, Vizela e Famalicão. Tal concentração demográfica e capacidade produtiva autonomizada do resto do Norte será a condenação ad eternum do restante território nortenho ao subdesenvolvimento.

Se é esta espécie de Singapura que pretendem que se crie a norte - tal como Lisboa se prepara para fazer a sul - força, para a frente com isso!! Conheço no Porto quem rejubilará perante tal cenário. E, nesse caso, o Porto fará mesmo ao Norte -porque a dinâmica assim criada o tornará inevitável - o que Lisboa faz ao resto do país.

Já alguém disse a esta gente que o milhão de minhotos terá um poder eleitoral imensamente superior numa Região Norte integrada do que tem actualmente perante o sistema centralista e poderá de facto condicionar os governos regionais fazendo valer os seus legítimos interesses como nunca foi capaz até hoje? Ou será que o que eles pretendem é impor-se desequilibradamente aos escassos 400 mil trasmontanos e durienses?

PS - A Grande Área Metropolitana do Porto agrupa 14 concelhos que no censo de 2001 totalizavam 1 759 958 habitantes em cerca de 1573 km^2 (densidade populacional próxima 1119 hab/km^2). Esses concelhos são:

Arouca

Espinho

Gondomar

Maia

Matosinhos

Porto

Póvoa de Varzim

Sta. Maria da Feira

Santo Tirso

S. João da Madeira

Trofa

Valongo

Vila do Conde

Vila Nova de Gaia.

Os concelhos de Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra, actuais membros da Grande Área Metropolitana de Aveiro irão (ou iriam), a curto prazo, pedir a transferência para a Grande Área Metropolitana do Porto, por forma a que todo o Entre Douro e Vouga permaneça coeso. Deste modo, a Grande Área Metropolitana do Porto irá abranger mais dois concelhos e verá a sua população aumentada em cerca de 100.000 habitantes. A anexação destes dois municípios fará com que a densidade populacional da Grande Área Metropolitana do Porto se situe próximo dos 1.000 hab/km^2. (http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rea_metropolitana_do_Porto)

2 comentários:

Rui Valente disse...

Caro António,

Não sou eu que dou mais para este peditório. Se há coisa que não quero é que me venham um dia acusar de ser um colaboracionista infiltrado do "regime" de Lisboa disfarçado de regionalista.
Há aqui gente que, pela forma como pensam, NÃO PODEM SER REGIONALISTAS! É MENTIRA!

JLS disse...

«Estou em crer que nesse caso ela se alargaria mesmo a outros concelhos a norte como, por exemplo, Vizela e Famalicão. Tal concentração demográfica e capacidade produtiva autonomizada do resto do Norte será a condenação ad eternum do restante território nortenho ao subdesenvolvimento.»

Eu estou plenamente convencido que, para o Litoral Norte, o ideal seria começar-se a desenvolver uma GAM no eixo Braga-Guimarães (pelo menos a nível de infraestruturas, para aí se caminha).

Mesmo para a GAM do Porto, seria melhor ter um forte polo de desenvolvimento tão próximo. Criaria uma homogeneidade de desenvolvimento desde Corunha/Vigo até Braga-Guimarães/Porto. E conseguiria-se isso muito mais facilmente do que pelo mero alargamento da GAM do Porto.

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