Meus senhores,
Permitam-me por momentos, que me intrometa na vossa animada discussão sobre as Regiões e quejandas, sem pretender pôr em causa qualquer ideia em particular.
Como o António Alves já comentou, entre a voluntariosa profusão de ideias e de alternativas para a Regionalização que aqui se vão cruzando, há sem dúvida, muita bondade, alguma ingenuidade e suficiente confusão.
As "soluções" para a crise do Norte (e p.f., poupem-me a sub-reptícia colagem do Norte ao Porto) abundam a um ritmo tão elevado e inconstante, que não sei se nos chegaria um século para as estudarmos todas ao detalhe, até chegarmos a algum consenso.
É natural, que entre nós haja quem confie mais no Estado do que na iniciativa privada e vice-versa, mas o facto é que em nenhum destes pólos podemos encontrar a fiabilidade absoluta, sendo que a opção mais razoável é que ambos de per si se possam "controlar" mutuamente dentro das suas competências específicas, numa espécie de concorrência cívica de regulação.
O nosso problema maior, não é de todo a falta de ideias e de modelos, nem apenas o peso do Estado ou a anarquia dos privados, mas é sobretudo, o ancestral costume de não cumprir as regras. É uma questão de mentalidade que vai levar muitos anos a corrigir. É por aqui que devíamos começar.
Nós aplaudimos com frequência padrões de cidadania e exemplos que nos chegam dos países nórdicos, mas gostamos de nos esquecer que não somos como eles, tanto a montante (os governantes), como a jusante (o povo). Exigimos seriedade de processos na "Recepção", mas não resistimos a rejeitá-la para o "destinatário", e depois admirámo-nos que as coisas cá nunca funcionem! Todos sabemos que é assim.
O Estado (espero que percebam o sentido figurado do termo), porta-se mal, não cumpre o seu papel com autoridade pedagócica. Não só infringe princípios legais, como os repete. Precisa, concordamos, de uma reciclagem com prévia desinfecção. E a sociedade civil, é melhor? Entre Estado e Sociedade haverá realmente grandes diferenças comportamentais?
Vejamos. Belmiro de Azevedo, é o paradigma nacional (suponho), do empresário de sucesso. Contudo, e apesar dos muitos postos de trabalho que vai criando e de reinvestir ciclicamente parte dos seus lucros em novos negócios, também não é capaz de encarnar o paradigma do empresário moderno no que à qualidade de vida dos seus colaboradores/base respeita. Sabe-se que paga bem aos altos quadros da pirâmide, mas já não consegue fazer a diferença com o pessoal "menor" e com isso, descredibiliza e mitifica a tese segundo a qual o crescimento económico se constitui como o pilar do bem estar público. A economia não se desenvolve apenas com a valorização de uma única classe, numa sociedade de classes.
Portanto, não sejamos ingénuos, nem tenhámos a tentação de acreditar na perfeição deste ou daquele sistema. Procuremos ser práticos, admitindo que é melhor para todos, dar um passo de cada vez, mas avançarmos, do que debater o tamanho e o género da passada, continuando no mesmo sítio ou, até, quem sabe, regredindo.
Quero uma Regionalização que una, não que divida. Quero ver o meu Porto desenvolvido, mas também todas as cidades e vilas deste Norte que é a nossa região comum.
Eu gosto do Porto porque é a minha cidade e não me podem levar a mal por isso. Mas também gosto de Braga, de Barcelos, de Guimarães, de Viana, etc., etc.
Nós temos de nos sentir todos nortenhos, sem a mesquinhez do esquadro ou dos pontos cardiais analisados à lupa! Isso é ridículo.
Essa, não era uma característica das nossas gentes. Já não sei bem se agora é.
5 comentários:
Boa noite.
Porque não efectuar estudos relativos à "área de influência do Norte de Portugal"?
Concelhos como Estarreja, Albergaria, Ovar, Aveiro, Ílhavo são bastante conectados com a nossa região em termos económicos e sociais.
"também não é capaz de encarnar o paradigma do empresário moderno no que à qualidade de vida dos seus colaboradores/base respeita."
Talvez. Mas não teve uma única greve em 30 anos à frente das empresas. Está na empresa em Portugal que os licenciados (Economicas e Engenharia) mais querem trabalhar (mesmo acima da Microsoft). Das pessoas que conheço, não vejo queixas. Sei também de alguns abusos. E a nível de políticas RH, são das melhores que conheço. Não há muitas empresas que efectivamente paguem as horas extra, ou as troquem por férias.
Quanto aos "modelos" de descentralização, parece-me haver por aí alguma confusão. As regiões permitem abordar questões regionais. As mega-autarquias permitem abordar questões intermunicipais. São soluções complementares, mas não alternativas.
Em parte, importante, é precisamente pela necessidade de interiorizarmos a necessidade de cumprir as regras que não tenho criticado, até aplaudo, o esforço que o Governo tem feito no que respeita à cobrança de impostos.
Só quando todos pagarmos tudo é que compreenderemos o exagero do que pagamos...
a necessidade de sentirmo-nos "todos nortenhos" é um pensamente provinciano.. esse tipo de discurso nao leva a nada.
É o mesmo dos "altos da Europa, com o "somos todos europeus".. ou então o do PR "somos todos portugueses"...
Bem vindo Rui,
Tem que se lembrar que o Norteamos é apenas um blogue plural e que não tem que encontrar consensos ou plano de acção. Já trocamos várias impressoes sobre o passar à acção, mas efetivamente, eu particularmente, não posso me envolver em nada disso nos próximos tempos. Portanto resta discutir e difundir ideias, um Norte único, como defende, ou um «Estado de Cidades» em oposição à Cidade-Estado de Lisboa, como brilhantemente Paulo rangel definiu em tempos.
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