20071023

Cimentos e cérebros

Pertinente este artigo de Alberto Castro, hoje no JN:

 

Como na generalidade dos países menos desenvolvidos, em Portugal continua a dar-se uma importância desproporcionada aos elementos materiais, enquanto elementos simbólicos do desenvolvimento, da riqueza e do estatuto social. Muitos dos que criticam, a governos e autarcas a cultura do cimento fazem-no enquanto ostentam os seus belíssimos e, sobretudo, caros relógios de marcas ou os não menos luxuosos automóveis. Quando se fazia a avaliação da aplicação dos chamados "fundos estruturais", a maioria das verbas era canalizada, no caso das empresas, para instalações, maquinaria e equipamento, até haver uma intervenção administrativa que limitou a sua disponibilidade. Não há povoação que se preze que não tenha um pavilhão multiusos ou, mesmo, um centro de exposições e congressos. E quando o paradigma mudou, e a retórica do empreendedorismo se instalou, eis que correm pressurosas a construir incubadoras e centros empresariais. A continuarmos assim, não tardará que se reproduza neste domínio o que acontecia com equipamentos desportivos uma das maiores taxas de construção de recintos cobertos da Europa, o que se compreende perfeitamente dada a agressividade do nosso clima… O problema não está, sequer, na construção mas no que se segue: as despesas de manutenção e funcionamento!

Merece, por isso, destaque a notícia da contratação, pela indústria do mobiliário, de um destacado designer sueco, anteriormente ligado à multinacional Ikea. Mesmo se, como parece, não conseguirmos passar sem construir um novo equipamento para alojar o anunciado Centro Avançado de Design de Mobiliário (CADM)!

A contratação deste técnico, especialista em design e comunicação, e a localização da sua empresa de origem em Portugal estão mais ligadas do que à primeira vista possa parecer. Como se sabe, aquela empresa vai abrir uma unidade produtiva na região do Vale do Sousa (e com esta referência evito lançar achas para a fogueira da paroquial rivalidade Paços de Ferreira-Paredes) e abriu, recentemente, em Matosinhos, a sua maior loja em Portugal. A Ikea é conhecida por produzir e vender mobiliário e acessórios, de design contemporâneo, a preços razoáveis. Ao fazê-lo, atraindo semanalmente, a fazer fé nos seus números, cerca de 60 mil pessoas só àquela loja, está a contribuir para que desponte, na população portuguesa, a receptividade ao design moderno e contemporâneo. Quase se poderia dizer que, no campeonato da contemporaneidade, estaria a ganhar ao Museu Berardo por 3 ou 4 a 1. Acontece que a existência, ao nível nacional e local, de uma cultura receptiva à inovação e capaz de evoluir para impor um padrão de exigência nos actos de consumo, é uma base indispensável para que o CADM e, em particular, a dinâmica que Lars Engman lhe quer incutir, não venha a redundar numa ilha, perigosamente isolada, e em mais um sorvedouro de recursos. Ou seja, a localização da fábrica da Ikea numa região com uma forte tradição e especialização no fabrico de mobiliário, completada pela abertura de uma grande loja a poucos minutos de distância, é uma oportunidade única para a evolução das nossas empresas daquele sector. A atracção de especialistas internacionais de renome está no caminho certo para concretizar essa mudança, transformando o Vale do Sousa numa área com expressão e capacidade competitiva internacional. Como as regiões adjacentes têm uma fortíssima presença de outras indústrias (têxtil, vestuário e calçado) em que o design e a moda também relevam, a criação de um pólo de competitividade do design e da moda no Norte começa a ser dificilmente contestável. Assim se consigam estabelecer pontes entre todas estas indústrias e regiões, ultrapassando os pequenos protagonismos que, frequentemente, fornecem o álibi, que alguns precisam para continuar a ignorar o país real.

1 comentário:

rei dolce disse...

muita atenção nos proximos anos a esta região!!
principalmente ao concelho de Paços de ferreira.

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