Independentemente da minha opinião, perante a constatação dos factos, ilustres bloggers e movimentos de cidadãos insistem na linha do Tua até Sanábria como solução contra a barragem de foz Tua. Ver artigos de:
Há que contextualizar a questão do Tua e reconhecer as variáveis e o poder do «adeversário» em jogo:
- Há outras barragens (Fridão e Sabor) em projecto e que estão a ser combatidas (aqui e aqui) sem a argumentação da linha ferrea;
- Há o desespero da influente EDP com uma dívida de 14 000 milhões que tem que rentabilizar ao máximo o aproveitamento hidroeléctrico para não falir;
- Há a questão das reservas estratégicas de água em Portugal no século XXI, como se pode depreender neste artigo;
- Há ainda a questão da ausência de representação política e de poder regional, que não poderá nunca ser substituído pelo voluntarismo da sociedade civil;
As ferrovias em Portugal e no interior Norte foram construidas numa altura que não havia concorrência de outros modos de transporte e havia maior procura porque havia mais polupação residente. Eram portanto economicamente viáveis. Hoje há concorrencia do avião, rodovia e fluvial. Há menos população do que há 100 anos atrás. Na minha opinião, hoje o investimento em ferrovias no interior Norte deve ser circunscrito a turismo e logística. Para além disso haverá concerteza outros projectos em Trás-os-Montes e Alto-Douro mais uteis. Comparemos, por exemplo, o cenário de reabilitação da linha do Tua até Bragança mais o novo troço até Sanábria face à reabilitação da Linha do Douro. A utilização, lobby ibérico, potencial turístico/logístico e investimentos já previstos da/para da linha do Douro são muito superiores aos da linha do Tua. Além do mais, pessoas e mercadorias partindo da foz do Tua e chegando a Sanábria, onde se dirigiriam ? Só pode ser à Galiza, Salamanca/Madrid ou Medina del Campo/nordeste de Espanha. Ora quem está na foz do Tua se quer algum desses destinos, vai directamente para lá sem precisar de passar por Bragança: Pela linha do Douro rumo ao Porto e depois à Galiza ou pela linha do Douro reabilitada até Salamanca e daí para norte ou Madrid.
É preciso realismo mesmo nas organizações informais para se ter credibilidade. A argumentação anti-barragem da foz do Tua tem que ser baseada em critérios mais fortes e menos utópicos. Caso contrário, nem mesmo vitorias morais se alcançarão. E o realismo que peço é apresentar soluções alternativas as barragens em causa:
- Mini-hidrícas;
- Barragem no Águeda ou Alto Coa;
- Reabilitação/upgrade de outras linhas, nomeadamente do Sabor e Douro;
- Regionalização piloto no Interior Norte;
- Garantia de não ser instalada central nuclaer no Douro;
- Mais receitas dos proprietários das barragens para a região;
- Ryanair em Bragança;
- IRC a 15%, como promete o PSD;
- Etc.
PS: Este post foi escrito ontem de manhã. Durante a tarde tive conhecimento das declarações do candidato do PS pelo distrito de Bragança que afirma que foz Tua-Sanabria não é rentável e que portanto se deve construir rodovia. Concordo com o diagnóstico, mas discordo, obviamente, da conclusão.