Não é o post do ano, mas é sem dúvida o comentário do ano. Mais uma vez o comentador «anti-comuna». É também uma lição para a actual liderança do MPN completamente a leste do que é verdadeiramente o Norte.
Quando a Ford e a VW decidem instalar-se em Portugal, escolheram a zona Vila do Conde/Maia, como local preferido. E tinham um argumento de peso: já havia uma linha de mercadorias que ligava essa zona (incluindo o agora Concelho Trofa) ao Porto de Leixões. Os custos de ligação ao Porto de Leixões eram muito baixos. Além disso, a maioria do IDE alemão estava no Norte, como essa Continental, que agora parece que ficam contentes por ver a empresa em dificuldades, podendo pôr em risco a viabilidade da fábrica no… Norte.
Mas nessa altura, vou lembrar ao meu amigo, sucedeu uma coisa terrível em Setúbal. Havia muita fome. Até houve um chamado “bispo vermelho”, que enquanto comia jaquinzinhos com o Cavaco, lá lhe pedia dinheiros públicos para ajudar aquela zona do país a sair da crise e da fome. Então o governo desviou a Autoeuropa para Setúbal. E sabe qual foi a reacção no Norte? (E mal sabiamos o que nos esperava.) Calamo-nos e compreendemos que a solidariedade nacional implicava abdicar deste investimento para ajudar a combater a fome de Setúbal. Mais tarde, o Gueterres, como uma espécie de pagamento, apoia a instalação da Siemens/Infeneon.
E foi assim que a Autoreuropa e um grupo de fornecedores foi levado para Setúbel, prejudicando o Norte. Norte esse que mal sabia o que lhe esperava. E por alturas em que se decide instalar a Autoreuropa em Setúbal, o Norte começa a sua longa crise, que levará ao colapso do IDE, da saída das multinacionais, em especial do Calçado e Têxtil, que levou á fome, ao desemprego e a uma crise que já leva 20 anos. Nunca essas gentes de Setúbal agradeceram aos nortenhos a solidariedade tida com eles. (Aliás, na mesma senda dos parasitas da madeira e dos Açores, que agora vivem bem acima dos do Norte e ignoram completamente os nossos problemas, tentando é sacar mais. Nesse aspecto, os Açores e a Madeira apenas imitaram aquilo que fez Lisboa desde sempre. Há séculos!)
Nestes vinte anos, muito desemprego, fome, emigração maciça (basta ver que a emigração nestes vinte anos foi alta, sobretudo com gente do Norte, rumo à Suiça, Alemanha, Espanha, França, até Angola e o Brasil, nas últimas ondas emigratórias.) E a fome foi tanta mas envergonhada, que nunca foi o Norte ajudado em nada por Lisboa. Apenas a Elisa Ferreira (mas de um modo completamente disparatado e à moda soxcialista) tentou inverter o rumo dos acontecimentos e tentar amortecer a crise.
Lisboa, desculpe-me o termo, cagou completamente para o Norte e a sua crise estrutural. Aliás, Lisboa, durante as festas da Expo, até gozava com os nortenhos, dizendo que a culpa da crise era deles e dos seus empresários, que gastaram fortunas em ferraris em vez de máquinas. Ignorando completamente, não apenas o sofrimento do norte como um aumento exponencial da pobreza. Pobreza essa, escamoteada por Lisboa, com RSIs, que apenas serviram para as cámaras e juntas de freguesia socialistas, comprarem votos. Não para resolver a pobreza.
E foi assim, ao longo destes vinte anos. O Norte sofreu uma crise de tal forma, que houve muita fome, emigração (olhe eu também emigrei) e pobreza escondida. Mas os nortenhos têm um grande defeito, neste tipo de regime parasita, implantado por Lisboa. Quem não chora, não mama. E o Norte, em vez de ter bispos vermelhos, em vez de ter manifes contra os governos, e muito barulho a pedir, tentou resolver a crise como pode e sabe. Muitos emigraram. Outros empobreceram. E muitos outros lutaram gloriosamente para sairem da crise. O sector do calçado e do Têxtil são o maravilhoso exemplo, de gente que acreditou em si e investiu muito. Mesmo quando os resultados não eram tão expressivos como eram necessários. E quanto esta gente arranhava a terra, os merdinhas de Lisboa diziam que o calçado e o têxtil não tinha futuro. (Ainda de vez em quando se vêm essas piadas, gozando com os sapatos que se produzem aqui. Muitos diziam mesmo que era melhor pagar subsidios de desemprego aos nortenhos que trabalharem para ganhar um salário mínimo.
Mas talvez, a ausência de um Estado interventor tenha sido a sorte do Norte. O calçado cresceu e mudou. O têxtil também. Quase sozinhos, a remar contra a maré. Ninguém reconhecia o esforço enorme destas gentes, muitas delas sem patuá para se mexerem na corte parasita de Lisboa, mas bastante trabalhadores, humildes e esforçados. O Norte era gozado pelos parasitas a sul. Até nos chamam bimbos. Mas são estes bimbos que estão a vencer a batalha pela competitividade, em mercados dificeis e fortemente concorrenciais. Não pedem fecho de fronteiras, nem subsidios á exportação ou IVAs reduzidos. Pedem que os deixem trabalhar, que se lhes mudem as leis do trabalho, que se acabe com o parasitismo de Lisboa.
E são estes bimbos que estão agora a tirar Portugal da crise. os de Lisboa só se queixam que vão perder a mama! Pudera! Trabalhar é coisa que custa e parece que no sul, muitos não gostam. Ainda na Segunda-Feira, um ex-funcionário da JM, agora a trabahar por conta própria, disse-o na cara dos inteligentes do Sul que vão ao Prós & Contras pedir mais mamas.
É a vida!
Agora, o parasitismo continua bem vivo:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=511563
Ou seja, enterraram mais uns milhões valentes (desviando dinheiros do Norte) para tentarem ajudar os Alentejanos. E claro, os investimentos da Embraer foram para o Alentejo por causa deste tipo de políticas. E claro, alguns tontinhos vão dizer: vêm? Nós no Alentejo exportamos componentes de avião. Pois.
Mas olhe que no Norte ninguém protesta contra os investimentos no Alentejo. Sabe porquê? Porque no Norte existe uma coisa chamada amor a Portugal e consideramos Portugal, todo o território. Há muitos parasitas que acham que Lisboa é Portugal e o resto paisagem e terra de bimbos.
Mas não estiquem muito a corda, que vos pode sair bem caro. Se o Norte sai da crise sem ajudas de Lisboa, também poderá começar a mostrar a Lisboa que acabou-se o regabofe. E é só para lembrar a alguns espertinhos, que sem a água e a energia do norte, Lisboa fica como Marraquexe. É só para lembrar alguns, esquecidos, que são egoístas e ingratos.
Não foram os nortenhos que pediram à Autoeuropa para vir para o Norte. Foi mesmo a joint-venture que decidiu vir para o Norte. Foram os americanos e os alemães que decidiram. E não foi apenas por causa da linha ferroviária existente. Mas sobretudo a fama do tecido empresarial do Norte que lhes dava garantias de fornecimentos a tempo e horas, amigo. Foi por haver já então, empresas no Norte, muitas delas alemãs, que lhes davam garantias de uma produtividade acima da Europa. Foi por haver uma Grundig (agora Bosch) em Braga, onde se produzem milhões de auto-rádios. Uma Continental-Mabor em Lousado, Famalicão, onde se prodiam pneus de alta qualidade. Foir por haver uma Philips, uma Quintas & Quintas, Saltano, uma Soécia, etc. etc. Que eram produtores industriais e potenciais fornecedores da nova fábrica
Foi a Associação Luso-Alemã que mostrou aos gajos da Ford e da VW, que o Norte de Portugal era o ideal. Em Setúbal não havia produtores industriais na área. Apenas desempregados, bons metalúrgicos, é certo, mas sem experiência a produzir para os mercados internacionais e habituados á exigências e standards da indústria autoimóvel
Até lhe vou dizer mais, amigo. Quando a Intel quis instalar-se em Portugal (que mais tarde deu a ideia aos socialistas em instalarem uma fábrica de memórias em Vila do Conde) foi no Norte. Mas as autoridades de Lisboa foram tão parasitas, chulas e badalhocas (sim este é o termo, cambada de FDP) que queriam obrigar os gajos a instalarem-se no sul. Eles desistiram e nem Norte, nem sul nem o raio que os parta a todos os parasitas de Lisboa. Esta mania de quererm decidir, a regra e esquadro, os projectos industriais, deu em barraca. Uma vergonha a forma como Lisboa lidou com esse potencial grande investimento americano.
É por isso, que sempre que lembro dos chulos em Lisboa, apetece-me explodir e chamar-lhes aquilo que eles sempre foram: chulos, azeiteiros e parasitas. Até esse investimento, que poderia ajudar imenso Portugal, foi embora por causa da aplicação de fundos comunitários no sul. PQP a todos! Burros que nem uma porta. Depois, enfim, o IDE industrial quase secou, com Lisboa mais preocupada em promover o imobiliário, que a Expo foi isso mesmo: um grande negócio para a especulação imobiliára.
Aliás, a localização da Autoeuropa foi um grande erro. Que foi reconhecido pelos americanos e que os fizeram desfazer a joint venture, deixando a VW com a fábrica nas mãos. Com a saída da Ford, muitos investimentos que se instalaram em Portugal voaram como os da Delphi, por exemplo.
E a Autoreuropa foi-se mantendo por Portugal por mero acaso e teimosia dos alemães. (Que tinham razão, como veio a demonstrar que a grande maioria dos componentes vão do Norte para Setúbal.) Chegou a ser equacionado o seu fecho, até há bem poucos anos, face à capacidade produtiva quase sempre abaixo dos 50%, mesmo com o esforço meritório dos seus trabalhadores, que mostraram estar à altura da fábrica. Nisso há que bater palmas aos trabalhadores da Autoeuropa, que conjuntamente com os alemães e os próprios fornecedores, foram os herois para impedir o encerramento da Autoeuropa.
Mas a localização foi um tremendo erro. Se eles tivessem instalado a fábrica onde foram aconselhados a abrir, estariam mesmo no centro dos seus principais fornecedores, podendo ter uma cadeia de produção mais rápida, JIT mais eficiente e até a qualidade mais alta. Onde eles foram aconselhados a abrirem a fábrica ficavam a meia dúzia de kms. dos pneus, dos auto-rádios, das lâmpadas, dos componentes para motores, etc. Mas depois, claro, os subsidios falaram mais alto. E mesmo assim quase que fecharam as portas. O primeiro local seria mais competitivo. Isso é a verdade dos factos.
1 comentário:
Racismo alcunhado de bairrismo. Querem que os outros sejam todos tapados a ponto de ignorarem que a grande maioria dos políticos de Lisboa são emigrantes do norte?
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