20090903

O romantismo a caminho de Sanábria não salvará o Tua

A minha tese é que a desnaturalização da paisagem via construção de barragens e desertificação humana do interior Norte é uma conspiração lisboeta para lá construir uma central nuclear .
Independentemente da minha opinião, perante a constatação dos factos, ilustres bloggers e movimentos de cidadãos insistem na linha do Tua até Sanábria como solução contra a barragem de foz Tua. Ver artigos de:
Pura fantasia.
Há que contextualizar a questão do Tua e reconhecer as variáveis e o poder do «adeversário» em jogo:
A estratégia de combate à barragem tem que ser diferente, mais realista e não pode contra-argumentar com a linha férra até Sanabria.
As ferrovias em Portugal e no interior Norte foram construidas numa altura que não havia concorrência de outros modos de transporte e havia maior procura porque havia mais polupação residente. Eram portanto economicamente viáveis. Hoje há concorrencia do avião, rodovia e fluvial. Há menos população do que há 100 anos atrás. Na minha opinião, hoje o investimento em ferrovias no interior Norte deve ser circunscrito a turismo e logística. Para além disso haverá concerteza outros projectos em Trás-os-Montes e Alto-Douro mais uteis. Comparemos, por exemplo, o cenário de reabilitação da linha do Tua até Bragança mais o novo troço até Sanábria face à reabilitação da Linha do Douro. A utilização, lobby ibérico, potencial turístico/logístico e investimentos já previstos da/para da linha do Douro são muito superiores aos da linha do Tua. Além do mais, pessoas e mercadorias partindo da foz do Tua e chegando a Sanábria, onde se dirigiriam ? Só pode ser à Galiza, Salamanca/Madrid ou Medina del Campo/nordeste de Espanha. Ora quem está na foz do Tua se quer algum desses destinos, vai directamente para lá sem precisar de passar por Bragança: Pela linha do Douro rumo ao Porto e depois à Galiza ou pela linha do Douro reabilitada até Salamanca e daí para norte ou Madrid.
É preciso realismo mesmo nas organizações informais para se ter credibilidade. A argumentação anti-barragem da foz do Tua tem que ser baseada em critérios mais fortes e menos utópicos. Caso contrário, nem mesmo vitorias morais se alcançarão. E o realismo que peço é apresentar soluções alternativas as barragens em causa:
  • Mini-hidrícas;
  • Barragem no Águeda ou Alto Coa;
Ou mesmo eventualmente aceitar a barragem negociando fortes contrapartidas para a região:
  • Reabilitação/upgrade de outras linhas, nomeadamente do Sabor e Douro;
  • Regionalização piloto no Interior Norte;
  • Garantia de não ser instalada central nuclaer no Douro;
  • Mais receitas dos proprietários das barragens para a região;
  • Ryanair em Bragança;
  • IRC a 15%, como promete o PSD;
  • Etc.
Decisão a tomar por quem está depois do Marão e a debater em futuros posts.

PS: Este post foi escrito ontem de manhã. Durante a tarde tive conhecimento das declarações do candidato do PS pelo distrito de Bragança que afirma que foz Tua-Sanabria não é rentável e que portanto se deve construir rodovia. Concordo com o diagnóstico, mas discordo, obviamente, da conclusão.

8 comentários:

António Alves disse...

"Ora quem está na foz do Tua se quer algum desses destinos, vai directamente para lá sem precisar de passar por Bragança: Pela linha do Douro rumo ao Porto e depois à Galiza ou pela linha do Douro reabilitada até Salamanca e daí para norte ou Madrid."

Na Foz do Tua está apenas o 'calça Curta', a mulher, as filhas e mais meia dúzia de vizinhos entre os quais o padeiro que faz uns pães cozidos a lenha que são fantásticos. As pessoas estão em Mirandela e Bragança polos urbanos de estruturação do território a preservar e desenvolver. E é a essas pessoas que deve ser dada a alternativa da ferrovia para não ficarem reféns da rodovia. Além obviamente da exploração turística. É necessário tirar os turístas dos navios não apenas para deixarem algum dinheiro nas quintas vinhateiras mas também noutras valência e locais do Douro e trás-os-montes. O mesmo se aplica ao troço Vila Real-Chaves que pode potenciar o turismo termal em Vidago e Pedras Salgadas.

Jose Silva disse...

António,

O distrito de Bragança tem tantas pessoas como o concelho do Porto.

O seu comentário poderia ter saído de um programa partidário que não se notaria.

A questão essencial é como «digerir»/aceitar as barragens se é que se aceita ? Quais as melhores contrapartidas que TMAD podem exigir ?

António Alves disse...

a linha do tua tem uma componente patrimonial que não deve nunca ser perdida. e não falo do património natural e paisagístico. falo do património industrial que é a fenomenal obra de engenharia que foi contruir uma linha ferroviária numa escarpa rochosa. todas aquelas pontes e túneis são um património inestimável que em qualquer país que honre as suas memórias seriam monumento nacional. afogar a linha do tua será o mesmo que demolir a ponte maria pia. se a nossa classe dos engenheiros tivesse respeito por ela própria seriam os primeiros a defender o caminho-de-ferro do Tua. mas desconfio que na respectiva ordem predominam os da especialidade pato bravo e trabalham para as motas e companhias.

sustentar este tipo de linhas: através das portagens cobradas nas autoestradas da região, cujas receitas não devem ser utilizadas para alargar as mesmas ou construir novas mas sim para sustentar estas linhas pagando assim as externalidades negativas de um dos meios de transporte mais poluentes: o automóvel particular.

mario carvalho disse...

Vale a pena recordar:


http://jpn.icicom.up.pt/2006/03/29/autarcas_contra_o_fim_da_linha_do_tua.html

Autarcas contra o fim da linha do Tua
Publicado: 29.03.2006 | 18:40 (GMT)
Governo quer encerrar, até 2010, as linhas do Tua, Cantanhede, Corgo e Tâmega.

Se se confirmar o encerramento das linhas do Tua, Corgo e Tâmega, a região de Trás-os-Montes vai ficar sem ligações ferroviárias.

Ao JPN, José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela, lamenta o facto de ter tido conhecimento da notícia através da comunicação social e de não ter sido informado nem pela CP nem pelo Ministério das Obras Públicas.

O autarca refere que o encerramento da linha do Tua vai "condenar a região a não ter nenhuma ligação ferroviária com o litoral".

Os cinco municípios que a linha atravessa apresentaram há mais de cinco anos uma solução ao Governo. A proposta consiste em fazer uma sociedade de exploração da linha através das carruagens do Metro Ligeiro de Mirandela e da REFER (Rede Ferroviária Nacional).

Para o autarca esta é a solução mais viável e que "apenas exigia do Governo um pagamento de 300 mil euros de concessão de serviços". José Silvano refere que "o que está a ser delineado com base nas cinco regiões plano é uma forma de concentrar dois terços das pessoas e da riqueza do país num terço de Portugal".

O partido ecologista "Os Verdes" considera a decisão "perfeitamente descabida, quando o comboio é uma proposta interessante a nível económico, de segurança e ambientalmente correcta".

Portugal é dos países que mais emite dióxido de carbono para a atmosférica devido aos transportes rodoviários. O comboio apresenta uma boa alternativa porque não emite gases.

A dirigente do partido, Manuela Cunha, refere, ao JPN, que o encerramento das linhas ferroviárias vem agravar a desertificação e cortar as hipóteses de desenvolvimento das regiões do interior.

No dia 7 de Abril, os presidentes das câmaras de Mirandela e Carrazeda de Ansiães vão apresentar as suas posições de forma a alertar as populações.


ACTUALIZAÇÃO (30-03-06)

O Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações já se pronunciou sobre esta situação, e negou a intenção de encerrar as linhas ferroviárias. Em comunicado enviado à agência Lusa, o Ministério diz que a decisão ainda não está tomada e que no momento a CP está a estudar a rentabilidade das linhas.



Ana Rita Basto




mario sales de carvalho
30.03.2006 - 13:28
Espero que o Senhor ministro conheça,Tras os Montes
Espero que o Senhor ministro conheça, Carrazeda de Ansiâes
Espero que o Senhor ministro conheça, a linha do Tua
Espero que o senhor ministro conheça, a história da linha do Tua,
Espero que o senhor ministro conheça, a beleza da linha do Tua
Espero que o senhor ministro fique para a História como o dinamizador da linha do Tua e do desenvolvimento da região

Os transmontanos serviram Portugal ao longo da sua História com bravura e sem louros sendo muitas vezes os próprios transmontanos envaidecidos pela pompa de Lisboa
"Os Carrascos" do seu próprio povo que tão orgulhosamente neles confiava..
Espero que não volte a acontecer com este 1º Ministro

cumprimentos
mário sales de carvalho

ps vale a pena pesquisar "Linha do Tua"

mario carvalho disse...

E mais este comentário do amigo Gilberto Santos


Por Gilberto Santos
01.04.2006 - 20:15
É um crime encerrar estas linhas. Conheço muitas vias férreas europeias e em minha opinião a linha do Tua é a mais bonita que existe! Qual Suissa, Espanha etc.Efectivamente, o défice comercial destas três linhas de via estreita, infelizmente, não passam de uns trocos quando comparados com o monumental défice da CP. De facto, é inacreditável que, a partir de 1997, em que passou a existir a REFER, em que a CP ficou sem metade dos trabalhadores (pela lógica, metade dos cursos com RH)e deixou de dispender dinheiro com a conservação, manutenção e exploração das infra-estruturas, o défice que, em princípio deveria ser reduzido para 30%, aumentou!! E não aumentou qualquer coisa, duplicou!! Triplicou e continua! A mim parece-me impossível como ainda ninguém olhou para estes números e tivesse interesse em saber o que se passa realmente!!
Depois aparecem uns iluminados, atirando areia para os olhos do povo com um determinado projecto lider! e supostamente com vontade de reduzir os custos!! Vai daí, lembrou-se das vias estreitas! É triste! A minha homenagem aos grandes Portugueses que construíram estas maravilhosas obras de arte que gente sem sensibilidade pretende destruir.Como Português e Ferroviário, medidas destas são como punhais cravados no meu coração.

Daniel Conde disse...

Caro José Silva;
Como cidadão trasmontano e co-fundador do Movimento Cívico pela Linha do Tua, ver que a sua pobre argumentação nos classifica de utópicos só me faz chegar a uma conclusão: ou bem que o senhor não está verdadeiramente a par da questão, ou bem que o senhor é um derrotista que já só vê no horizonte que migalhas os trasmontanos terão de pedinchar para que alguns políticos e a EDP continuem a tratar Trás-os-Montes como uma nova colónia de Lisboa.

Lamentável... Tente abstrair-se um pouco do Tua-aldeia, e veja uma rede de AV Madrid-Vigo, uma Linha do Douro reaberta, e um aeroporto para voos low cost em Bragança, e, faça-me o gosto, diga-me que não consegue visualizar uma Linha do Tua a ligar estes dois mundos?

Ah, e já agora a boa nova: o Vale do Elba, Património da Humanidade, perdeu este galardão em Junho passado, por causa da construção... de uma ponte. Quero ver o que a UNESCO vai dizer do Douro Vinhateiro com uma nova barragem.

Romantismo? Realmente eu tenho saudades do futuro, e persistir no erro da rodovia total não é o futuro. Expliquem-me aliás, sendo eu da região: o comboio transporta uma média de 120 pessoas por dia. Quero que me apontem quantas carreiras de autocarro fazem esta média no distrito de Bragança. Também ainda estamos todos à espera de perceber porque é que a promessa de que o IP4 ia trazer desenvolvimento, em detrimento da Linha do Tua que foi então encerrada, se o que se assistiu foi ao agravamento da desertificação? Que desenvolvimento trouxeram as 5 barragens do Douro no distrito de Bragança?

E explique melhor essa de o distrito de Bragança ter tantas pessoas quantas o concelho do Porto? E...?! Isso diminui o distrito de Bragança em quê?! Deve ser porque aqui há menos gente a ajudar a tapar os prejuízos do Metro do Porto?

Discursos como os de Mota Andrade e como o seu entristecem-me. Ou parece que não sabem do que estão a falar, ou julgam que estão a falar com garotos...

J.Pinto disse...

Não posso concordar com este texto, vou apontar só alguns tópicos:
-A Linha do Tua não é concorrente com a do Douro, complementam-se. Como sabemos, a Linha do Douro segue o belíssimo trajecto junto ao rio, mas as principais localidades situam-se a alguma distância, sendo necessário existir correspondência entre vários transportes. A Linha do Tua liga o Douro à Cidade de Mirandela, e já Ligou a Macedo de Cavaleiros e Bragança, e estas entre si.
-O projecto da reabertura da Linha do Tua a Bragança seria muito menos dispendioso do que uma mão cheia de km de auto estrada, ou uma ínfima parte do novo aeroporto de Lisboa, e se fosse alargado a Puebla de Sanábria (cerca de mais 30 Km), seria fortemente financiado pela UE, no âmbito das redes transeuropeias.
-O funcionamento da Linha do Tua para passageiros seria sustentável segundo o antigo projecto "Comboios do Tua", e se esta linha também tivesse as valências de comboios turísticos e mercadorias, poderia ser financeiramente viável, seguramente mais que a generalidade da rede ferroviária.
-Sobre existir ou não gente naquela região, é uma discussão muito traiçoeira, pois o que se devia era estimular a fixação de população, em vez de retirar progressivamente os serviços essenciais para a vida dos que ainda lá habitam. Também Portugal todo tem a população equivalente a Londres, mas não devemos por isso abrir mão da nossa identidade cultural.

Jose Silva disse...

Caros amigos,

regressei ontem de um curto periodo de férias ao Norte Interior e Douro profundo. Responderei mais tarde a estas questões.

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