20070926

Região de Turismo do Norte

Este texto foi inicialmente publicado nesta caixa de comentários. Após algumas pequenas revisões (principalmente no ponto 7), fruto da discussão que entretanto se gerou. Peço desculpa pela extensão do texto.

Embora eu compreenda as preocupações com a constituição de uma Região de Turismo Norte, com funções de promoção interna e externa, bem como de intervenção no território (face às actuais regiões de turismo sem promoção externa), discordo delas por várias razões:

1- O maior problema na promoção externa do turismo portugues é o excesso de marcas, que limita significativamente a eficácia da promoção. Mais marcas = mais confusão = menos turistas para todos.

2- Numa lógica interna, não é pela promoção ser feita pela Região de Turismo A ou B que deixamos de reconhecer que existe uma região Minho. Como não creio que alguém esteja a pensar em deixar de promover o Minho internamente, penso que esta questão não se coloca.

3- A criação de uma Região de Turismo do Minho, na lógica do que se supõe virem a ser as competências propostas pelo Governo para as regiões de turismo (promoção interna + externa) resulta numa total falta de escala desta região. O norte actualmente não tem fundos para se promover correctamente na Polónia ou Escandinávia. A RTMinho não passaria de Espanha, se quisesse usar bem o seu dinheiro.

4- A notícia tem um erro evidente: ninguém gasta 100M€ para promover uma região. Seria o Norte a gastar mais que Espanha inteira. Os 100M€ são para intervenção no território. Recordo-me do último programa lançado pelo Governo (Programa de Intervenção do Turismo)). No Minho as entidades "interessadas" protestaram que o dinheiro não lhes estava disponível. O que é falso. Está-lhes tão disponível como a qualquer outra região, embora haja pequenas bonificações para os chamados "Pólos Turísticos" (se alguém quiser ajuda a concorrer pode-me contactar). Provavelmente não será diferente no Programa a lançar pela CCDRN.

5- A constituição de uma Região de Turismo do Minho é particularmente injusto para a do Norte. A ADETURN (actualmente responsável pela promoção externa do Norte) tem gasto 1/3 do seu orçamento na atracção de low cost. Certamente que o Minho tem beneficiado com isso. Continuaria a beneficiar da promoção da nova Região de Turismo do Norte, mas sem para isso contribuir.

6- O Minho tem identidade e tem potencial para vir a ter marca própria. Antevejo que Braga se venha a tornar a 3ª cidade de "city break" em Portugal. E deverá começar a trabalhar para isso. Só que confundir potencial de longo prazo com potencial de curto prazo poderá ser um erro crasso. Braga terá notoriedade quando o Porto for um destino city break consolidado, o que se verificará em 10-15 anos. Até lá, o Minho crescerá por associação à área turística do Porto. Não vejo o benefício do Minho em ficar fora da rota de 2Milhões de turistas anuais em rápido crescimento. É melhor forma do Minho ganhar notoriedade no curto prazo. Depois, estará em condições de fazer o "spin-off" em termos de marca. E ao contrário do afirmado, o resto do Norte precisa do Minho para escala em termos de conteúdo. O Norte, sem o Minho, não tem hoje conteúdo para uma semana.

O mesmo se passa em Lisboa. Lisboa promove o Oeste, o Ribatejo/Templários, Sintra,... todos eles teriam conteúdo para ter a sua marca, tal como o Minho. Mais, todos eles querem ter a sua marca. Mas todos eles compreenderam que só têm a ganhar em vender-se como região de Lisboa. O resultado é que ao fim de uma década, o Oeste começa a afirmar-se com identidade própria no exterior. Mas ainda é vendido pelas agências de viagem como região de Lisboa. Se tiverem dúvidas, consultem o Plano Estratégico do Turismo de Lisboa: http://www.tlx10.com.pt/ (está em baixo neste momento, espero que seja temporário)

7- (revisto) A questão mais questionável é a necessidade de promover a marca Porto. A marca Porto serve para Porto+Douro, pois é no Douro que se faz o Vinho do Porto. Mas não serve para o Minho, Trás os Montes e Aveiro. A marca "Porto" como dominante só é adequada na primeira fase de uma estratégia a 4 fases:

  • I - "Porto". Marca única. Criar grande notoriedade a partir da marca mais conhecida.
  • II - "Porto-Norte de Portugal". Dupla marca. Transferir a notoriedade do Porto para uma marca mais agregadora.
  • III- "Porto - Norte de Portugal" + "Norte de Portugal". Começar a usar a marca Norte como marca agregadora.
  • IV- "Porto - Norte de Portugal" + "Norte de Portugal - Douro" + "Norte de Portugal - Minho"... Introduzir a utilização de submarcas.
  • V- "Porto - Norte de Portugal", "Douro - Norte de Portugal", "Minho - Norte de Portugal",... Invertter a lógica da marca chapéu, que passa a ser usada como submarca. As marcas regionais (ex. Minho) são usadas de forma individual, sendo a marca "chapéu" (norte) usada efeitos de cross selling e ideia de continuidade / coerencia do destino.

Ora, actualmente a promoção assentava em "Porto - Norte de Portugal". Estamos portanto na segunda fase. É certo que a primeira fase nunca foi efectivamente concretizada. Ainda assim, não é evidente que se deva voltar atrás, desperdiçando o que já existe da marca "Norte". O caminho é fortalecer as duas marcas. Isto é, manter a fase II durante os próximos 3 anos, e mais 2 de fase III. Nos mercados estratégicos (Espanha, Reino Unido, França e Alemanha) deveriamos pensar na fase IV.

8- Actualmente, as regiões de turismo tendem a promover, nos seus postos de turismo, a sua própria mini-região. A capacidade de cross selling da região é nula. Mas os turistas que querem conhecer o norte inteiro, querem recomendações do norte inteiro, e deverão regressar ao seu país com a sensação de que não viram tudo.

9- Na última vez que estive num posto de turismo, vi a recepcionista a recomendar a visita a Guimarães e Lamego. Não vejo o que ganha o Minho se as recomendações passarem a ser Vila Real e Lamego... Da mesma forma, o Minho não ganha em que as "press tours" (visitas guiadas pela região a jornalistas, patrocinadas pelas Regiões de Turismo de promoção externa) do Norte deixem de incluir o Minho. Nem o Norte ganha muito com isso.

10- O Norte precisa de um produto turístico coerente, homogéneo. A organização deve ter em conta que o turista não visita apenas o Porto e o Douro. Visita o Minho. Visita Aveiro. Visita Trás os Montes. Convém uma estratégia comum.

11- Os meus comentários não invalidam que deva existir uma estratégia para cada sub-região, e que as entidades privadas e municipais de cada distrito devam ter uma palavra a dizer na definição (e financiamento) dessa estratégia. E que a estratégia definida tenha em conta que há locais onde o sector privado tem maior capacidade (ex. Porto) que noutros (ex. Douro). O Estado deve actuar onde os privados não o fazem, e não o contrário. A democracia assim o exige.

3 comentários:

António Alves disse...

Caro Pedro,

Dou-lhe os meus parabéns pela sua lucidez. Já cá fazia falta para contrastar com o paroquialismo reinante.

Pedro Morgado disse...

Caro Pedro,

Este post deixa óbvio que o Porto se prepara para tomar o Norte, consciente da passividade dos agentes económicos do Minho. Quando acordarem, será tarde demais.

O Minho não se contenta com turistas para uma tarde...

PMS disse...

Como defendo a autocracia, defendo também que deveriam ser minhotos a decidir esta questão. Independentemente de qual for a opção que os minhotos preferirem. Aqui estarei sempre do vosso lado.
Se quiser lutar para poder ter uma escolha nesta questão, pode contar comigo.

Mas na hora de escolher, a minha recomendação não será diferente da actual: penso que o Minho só terá a perder em ficar fora de uma RTNorte.

De resto, não me interessa quem manda na Região de Turismo Norte nem onde fica sedeada. Também aqui defendo o que sempre defendi: idealmente localizada fora do Porto, e preferencialmente com presidência rotativa entre as 4 sub-regiões (ou solução equivalente).

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