Quase todos os meses viamos notícias sobre mortes e violência na noite de Lisboa. Recentemente o fenómeno chegou ao Porto, com várias mortes nos últimos meses. Curiosamente, o Porto foi rapidamente comparado à Chicago de Al Capone, os arautos do costume falaram em máfias, e repisou-se o novo estereótipo que querem impôr aos tripeiros, uma verdadeira pentalogia do crime: Futebol, Câmaras municipais, Negócios da noite, Ministério público, e Polícia.
Se há algo que salta à vista é a dupla ética dos meios de comunicação social. A violência habitual em Lisboa é tratada como uma coisa típica de uma grande metrópole, própria do desenvolvimento. A violência esporádica (pois não é habitual) no Porto, muito menor que em Lisboa, é tratada como uma coisa siciliana, própria de uma região sub-desenvolvida povoada por gente mafiosa.
Obviamente que isto são ideias que só poderiam vir de mentes peregrinas que vivem noutro mundo. As discotecas são um negócio excelente para lavar dinheiro (alguém passa factura?). A consequência é simples: tendem a ser dominadas pelo sub-mundo do crime. Mas os "iluminados" pensam que isso só acontece na terra dos outros.
Hoje, pelos vistos (infelizmente), os problemas com seguranças de discotecas voltaram a acontecer. Desta vez em Lisboa. Pergunto-me então se somos todos metrópole ou Sicília. Uma coisa é certa. Os arautos do costume não se atreverão a comparar a capital com Chicago, nem a falar de mafias a controlar a noite.
Por vezes pergunto-me se as gentes do Norte conseguem perceber a discriminação que sofrem nos meios de comunicação social (ainda por cima nos públicos, pagos por todos nós). Encontrei a resposta na leitura destes comentários. Os nortenhos não andam a dormir.
Recordo-me ainda do ex-ministro Fernando Gomes (e ex-presidente da CMPorto). Foi completamente perseguido pela imprensa por duas razões: por dispensar os cerca de 40 assessores de imprensa (grande poupança de custos) e por ser do Porto (e do FCP). A criminalidade não subiu, mas as notícias de crimes (sempre na linha de Sintra) não pararam enquanto ele não foi "remodelado". Até a Lídia Franco veio para os telejornais dizer que achava que a tinham querido violar.
A linha de Sintra ainda lá está, e a Lídia Franco (comentário sarcástico removido pelo autor)... Mas agora surgiu uma nova onda de crime, que percorre as duas maiores cidades portuguesas. Começou desde que o Ministro Rui Pereira tomou posse. Pela mesma razão, os Media já deveriam estar a pedir a sua cabeça. Ah, mas falta a outra razão: ele não é do FCP...
Não sou ingénuo: a culpa não é dos lisboetas. É dos imbecis preconceituosos (e que sofrem de futebolite) que dominam a comunicação social. Ainda assim, confesso que por vezes me dói a alma de viver num país onde a xenofobia entre portugueses é tão impune, e onde a política tem mais em conta o futebol do que a justiça e o bem estar das populações.
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3 comentários:
Excelente Pedro !
a mim continua a impressionar-me a estreiteza de algumas visões que querem reduzir tudo à futebolite. Não me consta que esta já existisse quando o Marquês assassinou quem não lhe vendesse o vinho!
O que está em causa é a necessidade de defesa intransigente duma região a ser atacada de forma ignóbil,por uns tiranetes de meia tijela, alojados nuns pasquins pagos com dinheiros públicos
Há um problema mental lisboeta que se traduz por "Só nós podemos ser bons sem batota" que entronca noutro que se traduz pela conhecida expressão "Lisboa é Portugal o resto é paisagem" ( - Se Lisboa é Portugal e o resto é paisagem, então só nós lisboetas podemos ser bons no que quer que seja, porque o resto, não conta, é apenas paisagem! Se só nós podemos ser bons, então, se os outros são melhores que nós, só pode ser porque fazem batota! ). Há uma parcela da "paisagem" cujos "indígenas", numa determinada actividade muito importante em termos emocionais e simbólicos, são melhores que os lisboetas , de há muitos anos a esta parte. Há uma comunicação social portuguesa que é, tirando 2 ou 3 jornais, lisboeta. Há portanto uma comunicação social portuguesa/lisboeta que tem problemas mentais que condicionam toda a sua actividade informativa em especial quando estão em causa os "indígenas" dessa parcela da "paisagem" ( - Se eles são melhores que nós, são uns malandros porque fazem batota e se o são há muito tempo, são malandros há muito tempo, ou seja, são uns bandidos! ). Não admira portanto, que sempre que surge um qualquer fenómeno de violência ou crime nessa parcela da "paisagem", a comunicação social dê todo o destaque, amplifique o ocorrido o mais que pode para que pareça bem pior e mais vasto, afinal "à que deixar bem evidente os bandidos que eles são".
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