Será um comboio tipo TGV entre Porto e Vigo um investimento rentável? Claro que não! Para percorrer os escassos 150 km que separam estas duas cidades do noroeste peninsular é evidente que um comboio do tipo TGV seria uma absoluta irracionalidade económica. Os comboios TGV têm um carácter complicado: fazem-se pagar caro, exigem (em regime de exclusividade) uma dispendiosa via de alta qualidade, detestam curvas e adoram rectas. Para se sustentarem precisam de largos milhões de passageiros anuais. Enfatizo: um comboio TGV para percorrer 150 km é uma idiotice. Para percorrer os cerca de 700 km que separam Lisboa de Madrid (via Badajoz) é, pelas mesmas razões apresentadas acima, uma idiotice em todo semelhante. Ainda por cima quando nos dizem que a mesma via será partilhada por comboios de mercadorias. Só se estiverem a falar de comboios que transportem contentores do tipo carga aérea. Comboios pesados de mercadorias, com os normais contentores utilizados na rodovia, ferrovia e transporte marítimo, provocam um tal desgaste e deformação nas vias que tornam a manutenção das mesmas, para permitirem as velocidades atingidas pelos TGV, de tal modo onerosa que as torna economicamente inviáveis. Não esqueçamos que estamos a falar de velocidades no intervalo 300-350 km/h.
Nos últimos tempos tem-se falado muito sobre TGV's sem se perceber muito do que se fala e confundido conceitos. Entre Porto e Vigo nunca, na verdade, esteve previsto um comboio do tipo TGV (300-350 km/h) mas sim um tipo de comboios com uma velocidade mais baixa, mais económicos, mais flexíveis, mais versáteis e 4 vezes mais baratos. Comboios que são normalmente classificados como comboios de velocidade elevada (200-250 km/h), dotados ou não dum sistema basculante que lhes permita obter ganhos de velocidade em traçados sinuosos. Comboios em tudo semelhantes aos nossos comboios de pendulação activa (CPA 4000), comercialmente conhecidos como os "Alfa Pendular". Ora, uma linha destas características entre o Porto e a Galiza, que sirva o aeroporto de Pedras Rubras, a região de Braga-Barcelos, a cidade de Viana e que percorra a distância entre Porto eVigo em não mais de uma hora, além de ser uma verdadeira necessidade estratégica para o Norte será também economicamente sustentável. Coisa que o pretenso TGV Lisboa-Madrid nunca será. Provam-no os números publicados no relatório do Observatório do Tráfego Transfronteiriço entre Portugal e Espanha, referente ao ano de 2003 (os últimos números conhecidos). Analisemos então os números da fronteira de Valença e daquelas -rodoviária do Caia e ferroviária de Marvão-Beirã– que seriam servidas pelo TGV Lisboa-Madrid.
Número de pessoas que entraram por via rodoviária (2003):Se considerarmos que as entradas serão iguais às saídas, temos um tráfego total em Valença de quase 16 milhões de pessoas e no Caia de pouco mais de 5 milhões de pessoas.
- Pela fronteira de Valença entraram em Portugal um total de 7 944 720 pessoas. Delas, 2124 288 eram turistas* e 5 820 432 eram excursionistas*.
- Pela do Caia, fronteira que serve a auto-estrada Lisboa-Badajoz, entraram um total de 2 598 304 pessoas sendo 781 292 turistas* e 1 817 012 excursionistas*.
* Turistas são os que pernoitam pelo menos uma noite e Excursionistas são os que entram e saem no mesmo dia.
Tráfego por por via ferroviária-número de pessoas (2003):O serviço ferroviário que actualmente serve o eixo Porto-Vigo é um serviço com qualidade terceiro-mundista, que gasta 3 horas para fazer 150 km e tem horários e tarifários absurdos. Não é minimamente competitivo com a rodovia. Mesmo nas actuais circunstâncias seria possível fazer muito melhor. É de admirar como, mesmo assim, ainda é utilizado por mais de 34 mil pessoas anualmente.
- Por Marvão Beirã, fronteira por onde circula o Comboio-Hotel entre Lisboa e Madrid, tivemos um tráfego total (entradas mais saídas) de 76196 pessoas no ano de 2003.
- Por Valença, fronteira por onde circula o comboio Porto-Vigo, tivemos um tráfego total (entradas e saídas) de 34410 pessoas no ano de 2003.
O serviço Lisboa-Madrid, embora os tempos conseguidos sejam fracos, é efectuado por um bom comboio nocturno (composições Talgo 200) que oferece, na sua classe mais elevada, um serviço de excelência que inclui além dum camarote duplo privado, com WC completo e duche, jantar e pequeno-almoço já incluídos no preço do bilhete.
Tráfego por via aérea-número de pessoas (2003):No tráfego aéreo não considero o tráfego entre Porto e Madrid/Barcelona e entre Lisboa e Barcelona porque nestes percursos, devido à distância envolvida, o comboio nunca será competitivo com avião.
Entre Lisboa e Madrid tivemos um movimento total de 669 402 passageiros.
Resumo:Um serviço ferroviário moderno, rápido e de qualidade entre Porto e a Galiza tem um enorme potencial. Os números não mentem.
Pela fronteira de Valença tivemos um tráfego anual de 15 923 850 pessoas (rodovia e ferrovia) e nas fronteiras que servem Lisboa (Aeroporto,Caia e Marvão-Beirã) tivemos um tráfego anual de 5 942 206 pessoas (rodovia, ferrovia e avião). A diferença de tráfego entre estes dois eixos é de cerca de 10 milhões de pessoas favoráveis a Valença.
Os que nos dizem que um comboio moderno entre o Porto e a Galiza não é economicamente rentável, fazem-me lembrar aqueles que utilizavam o argumento que, durante décadas, foi usado para justificar a falta de vontade para construir um sistema de metro no Porto: o subsolo era rochoso e impossível de trabalhar para fazer túneis. Lembram-se?
Perante estes números, oficiais e disponíveis no Sítio Internet do Ministério das Obras Públicas, eu quero é que me justifiquem, e muito bem, o TGV Lisboa-Madrid através do Alentejo e com saída por Badajoz. A ligação Porto-Vigo com comboios de velocidade elevada (200-250 km/h), usada tanto por comboios de passageiros como por comboios de mercadorias, pelo contrário, justifica-se plenamente.
É evidente que o governo central se prepara para deixar cair a ligação em caminho-de-ferro moderno entre Porto e Vigo e construir apenas a ligação Lisboa-Madrid por Badajoz. Isso, aliado à construção do aeroporto da Ota, será muito gravoso para a economia desta região. O Norte de Portugal deve levantar-se e impedir mais este inadmissível delírio centralista. É o futuro das novas gerações desta região que o exige. É tempo de dizer basta!
António Alves
P.S. Esta posta foi publicada por mim no Baixa do Porto no já longínquo dia 30 de Outubro de 2005. Se a secretária de estado me tivesse lido poupava-se às figuras tristes que tem feito ultimamente, principalmente no que respeita ao comboio Porto-Vigo.
7 comentários:
"também economicamente sustentável. Coisa que o pretenso TGV Lisboa-Madrid nunca será."
Já agora, e visto que o último argumento para a linha Porto-Lisboa é a da saturação da linha do Norte, porque não fazer antes uma nova linha com limite de 250kms/h, que é "4 vezes mais barata"? Só seria 15minutos mais lento...
Já agora, como é que a linha Lisboa-Madrid vai ser sustentável? À custa de subsídios até Lisboa-Rabat em túnel é rentável...
Aceitam-se sugestões para protestos.
o que vai valer a linha porto vigo é os galegos estarem metidos no meio senão ja tinha caido há muito..
A ligação a Vigo vale a pena, e como diz o Antonio Alves, nos actuais modelos é possivel fazer mudanças. Aliás falo disso num post neste mesmo blogue.
Aliás, gostava de saber qual vai ser o papel da actual linha com o AVE..
Pedro Menezes Simões, não são 15 minutos, são 12..
O link do
"relatório do Observatório do Tráfego Transfronteiriço entre Portugal e Espanha" não funciona, alguém consegue arranjar um link novo??
Porque os comboios que chegam a Guarda nao prosseguem viagem ate Salamanca ou Madrid?
Os Intercidades de Lisboa-Guarda e os Regionais de Coimbra-Guarda se continuassem ate Salamanca, seriam a opçao mais barata e mais rapida para ir desde a Beira Interior ate ao Noroeste Espanhol (Castilla e Leao, Asturias, Pais Vasco e Madrid).
Mesmo com o TGV quem ira da Guarda ou Castelo Branco ate Lisboa para apanhar o TGV Lisboa a Madrid, se é muito mais rapido e barato se o comboio que chega a Guarda continue a viajem ate Salamanca ou Madrid?
A resposta a esta questao: Os Algarvios e os Alentejanos que em 2008 para irem de comboio para Espanha teem que apanhar o comboio para Lisboa e de o Lusitania Expresso Lisboa- Madrid, e depois de Madrid o comboio para a extremadura espanhola, ou andalusia.
Porque nem todos os que vao para Espanha vao para Madrid e é natural que os Algarvios tenham mais contactos de trabalho e turismo com a regiao de Andalusia que faz fronteira com o Algarve, os Alentejanos com a Estremadura espanhola, assim como os Beiroes com Castilha e Leao.
Lisboa que é a capital de Portugal talvez tenha mais passageiros para Madrid que é a capital de espanha.
Enfim ligaçoes entre Portugal e Espanha sao mediocres, podem ser facilmente melhoradas, desde que o serviço Porto Vigo seja melhorado nas tarifas e horarios, os comboios para a Guarda continuem ate Espanha (minimo ate Salamanca) e se construa a ligaçao ferroviaria entre o Algarve e Sevilha.
sex sohbet hattı
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