20071103

Debate: "O Futuro do ASC"

O debate foi na semana passada (dia 24 de Oububro), mas só agora tive oportunidade de passar para post as minhas notas, para quem não teve a oportunidade de estar presente.

Ana Paula Vitorino (APV) - Secretária de Estado dos Transportes

(Uma vez que os aeroportos não são da sua competência, apenas poderia falar da ferrovia, pelo que o tema do debate foi desvirtuado para o TGV)

A ligação ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro (ASC) pode ser feita:
1. Desde Campanhã via túnel (favorecendo assim a ligação a sul)
2. Ligação Nine - ASC
3. Criação de uma variante
4. Nova ligação ligeiramente a norte de campanhã

Para escolher entre estas alternativas, é necessário analisar a viabilidade física de cada uma. O custo é de cerca de 600M€. Segundo APV, a decisão política de construção da ligação ao ASC está tomada, ainda que dê prejuízo. Falta é a decisão técnica. Enquanto esta não avançar, o governo não se compromete com prazos.

Há ainda um objectivos de aumentar o hinterland do porto de leixões, através da sua ligação às plataformas logísticas, ao aeroporto, e à ferrovia.

A Linha Porto-Vigo foi estudada de forma a que a viagem durasse apenas 1h.

Na linha TGV Porto-Lisboa, a entrada será feita pela ponte S. João. Campanhã será a estação.
Os maiores benefícios deste investimento (TGV), serão para Lisboa e Vale do Tejo, e para o Norte litoral.


Rui Moreira - Presidente da Associação Comercial do Porto

A região tem dois factores de competitividade em que está à frente da Galiza. O Porto de Leixões, e o ASC. Aliás, o ASC é fundamental para alterar o paradigma económico do norte de um padrão industrial para um de serviços.

O ASC pode crescer ainda mais rapidamente. RM contactou várias companhias aéreas que asseguram que uma gestão mais flexível permitiria mais crescimento. Mais, citando o Norteamos, ("como li no blog do meu amigo José Silva"), referiu a ausência de algumas infraestruturas, nomeadamente o taxiway.

Sugeriu, para os aeroportos, seguir o modelo adoptado em Portugal para os Portos, que tão bons resultados tem dado, nomeadamente no Porto de Leixões. Este modelo implica gestão autónoma de cada um dos Portos.

"Se não gosto de um monopólio estatal, ainda menos de um monopólio privado". Perguntou ao governo em que condições está disposto a privatizar o aeroporto.

Quanto ao TGV, fez uma análise histórica das decisões, revelando a sua "desconfiança" em relação a todo o processo, pois claramente os interesses do norte não foram acautelados.
Inicialmente o governo promoveu o T deitado. Depois passou ao "Pi" deitado. Para o Norte, (no "Pi") o fundamental era usar Aveiro para levar as mercadorias à Europa. Isto é fundamental porque no norte a rodovia é a forma de escoamento das mercadorias. Mas estamos longe do centro europeu, e o custo do transporte rodoviário está a aumentar.
Agora, a linha de Aveiro foi esquecida, em troca da ligação a Vigo. Então, para as mercadorias, vamos passar a transportar as mercadorias por Norte. Também os passageiros irão a Madrid via Vigo.

Quanto à ligação ao ASC, "Peço desculpa, mas ponho em questão os ténicos. Acho que aqui não há nenhuma questão. A linha Porto-Vigo só faz sentido se feita de uma só vez, i.e., se a ligarmos a Leixões e ao ASC, e assim ganhamos com a ligação à Galiza. Sem isso, a drenagem é ao contrário. É que hoje, não há tráfego na A3 acima de Braga (nota PMS: é mais barato a ligação via Viana por causa da SCUT). Mais, Porto - Vigo demora no total 1h30m (incluindo deslocações às estações). Falei com o Dr. Luis Portela, da BIAL, e ele disse que continuaria a ir de carro. Não é competitivo face ao rodoviário. Sendo assim, há uma questão de tempo de percurso, mas que seria relativizada pela intermodalidade. Se não se fizer tudo de uma vez, prefiro esperar."

Em Espanha está a usar-se a bitola europeia. Os técnicos tem feito em Bitola ibérica (fizeram até Braga). Logo, vamos ter de fazer em bi-bitola até Braga, para uma linha que é temporária.


Ana Paula Vitorino

Não é por dizer 10 vezes as mesmas coisas que lhe vão dar respostas diferentes. Já respondi a isso várias vezes.

As opções técnicas tem sido ligadas a Espanha. O que está decidido quanto à Bitola é que vamos fazer bitola ibérica que permite a mudança instantanea para europeia. É um sistema polivalente. O troço Vigo - Valença está em bitola ibérica (travessa polivalente).

Quanto à linha Madrid-Barcelona, é apenas de passageiros, e não de mercadorias.

Aveiro-Salamanca não está esquecida. Aliás, o primeiro troço prioritário, já em andamento, é o do Porto de Aveiro à linha do Norte. O problema nesta linha, é que nós não temos garantia que Espanha fará a ligação. Não sei com quem falou, mas os inquéritos dizem que os passageiros se querem é ligar ao Porto, não ao Aeroporto. Assim, não percebo porque pretende atrasar a ligação ao Porto por causa do ASC.

Quanto ao modelo de gestão dos Portos que referiu, não é a sua privatização mas a concessão do Porto.


Rui Moreira

"Eu digo 10 vezes a mesma coisa. E há 10 membros do governo a responderem-me coisas diferentes. Não me venha dar chazadas. Sei como é o modelo de privatização dos portos, mas não vou ficar 2h a explicar. Não falei em Madrid - Barcelona como ligação de mercadorias. Acabou de me confirmar que vai haver reinvestimento na ligação Porto-Braga, que é temporária."

Responsável da RAVE (não consegui apanhar o nome, e estava na última fila. Peço desculpa ao Sr.)

"Levantam polémicas, mas não vêm falar connosco para debater as questões. Quem quer discutir, discuta connosco."
Só é possível fazer transporte de mercadorias para leste da Galiza por bitola ibérica. Isto cria imensa complexidade. Se há tantas hipóteses sobre a mesa, é porque temos tido sérias dificuldades. Temos imensas soluções alternativas, mas nenhuma é perfeita.


Alberto Castro - Director da Faculdade de Economia e Gestão da UCP - Porto

As decisões têm que ser transparentes , e sujeitas a análises custo-benefício. E tenho dúvidas se Porto -Vigo passaria uma análise custo benefício.

Não são os agentes locais que têm que ir à Rave. É a Rave que tem de ir aos agentes locais, EM democracia é assim. Isto não é tecnocracia. Talvez por isso não nos pronunciemos como deveriamos: por não ter a informação adequada.

É preciso ver que o Norte, ao contrário de Lisboa, é uma economia voltada para o exterior. Estas infraestruturas são pré-requisitos essenciais para as regiões se desenvolverem.

O Vale do Douro é único, não é imitável. A nova economia usa menos os transportes clássicos. Usa mais os aeroportos. Mas estas infraestruturas têm de ser bem geridas. Para uma boa gestão, é preciso uma boa equipa, mas também continuidade. Este é o segredo da APDL (gestão do Porto de Leixões). Mas se o Porto de Leixões fosse gerido pelo Porto de Lisboa, seguramente não estaria tão bem. O aeroporto tem de funcionar para a região.

É verdade que no Norte costumamos falar de investimentos no resto do país. Isto, porque esses investimentos têm, por vezes, impactos nacionais (caso do novo aeroporto de lisboa). Mas no norte temos de ter coerência. Era bom termos N ligações. Mas os recursos são escassos. Temos que conhecer melhor estas infraestruturas, para podermos ter, para o Norte, os mesmos critérios que temos para o resto do país.


Rui Moreira

A desconfiança não é em relação ao Governo. É em relação ao Estado Central. Pensando nas cimeiras ibéricas... (APV) disse que isto foi negociado com Esoanha, mas uma das decisões era Lisboa-Madrid e Aveiro-Salamanca. Agora diz-nos que os espanhóis não electrificaram Salamanca à Fronteira. Logo, os nossos interesses não foram acautelados.

O TGV Porto -Lisboa vai ser feito em bitola ibérica ou europeia?


Carlos Fernandes - Administrador da RAVE

Em Espanha estão a estudar a ligação de Salamanca à fronteira, mas os prazos são mais lentos do que nas outras linhas.
A Bitola é o problema mais visível dos comboios. Mas há outros problemas. Há a electrificação, a sinalização...
Porto-Lisboa é interoperavél. Temos que migrar toda a bitola para o modelo europeu. Mas tem que ser faseado. É que os espanhóis têm bitola ibérica, e estão a alterar para europeia a partir de França. Só mais tarde é que chega cá.


Rui Rio - Presidente da CMP (assumiu o papel de moderador neste debate)

Sintetizando:
1. Deve o ASC ter gestão autónoma?
2. Deve a linha Porto-Vigo ser já feita, ou deve esperar pela ligação ao ASC?


Cidadão
- Os estudos de que falam tiveram em conta o serviço ao ASC?
- Preocupa-me a utilização da Ponte S.João. Não poderá o sistema entrar em colapso?


Carlos Fernandes

A análise do custo benefício é diferente da viabilidade. Há externalidades. Existe um efeito de "rede" na rede ferroviária. A linha Porto-Vigo cria +20% de tráfego na linha Porto-Lisboa, e a linha Aveiro-Salamanca + 17% de tráfego.

Os estudos indicam que há capacidade na Ponte de S. João. O problema que existe é que os comboios não se podem ultrapassar. Por isso é que a linha do norte está no limite, pois tem serviço local, regional e nacional. Na Ponte S.João, são 300m sem se poder ultrapassar. Se for na travessia do Tejo seria 13kms sem poder ultrapassar. Daí que esta travessia terá 4 vias.


Ana Paula Vitorino

Actualmente não existe uma ligação ferroviária à Galiza. Duração de 3h30 não é viável.
Nos restantes países, não se tem ligado o TGV aos aeroportos. E os estudos dizem-nos que tal não é prioritário. A procura tem superado os estudos, mas os padrões confirmam-se (i.e. o essencial é ligar as cidades, e não os aeroportos).


Rui Rio

A desconfiança que existe vem do medo de que a ligação ao ASC vá para as calendas gregas. Se houver sinais visivéis, as desconfiança perde-se.
Quanto à gestão do ASC, pergunto-me porque motivo temos que ter regionalização para que as infraestruturas locais possam ter gestão local. Tal não devia ser obrigatório.


Fim do Debate

Num próximo post publicarei a minha análise a este debate.

6 comentários:

António Alves disse...

http://www.porto.taf.net/dp/node/3099

mario carvalho disse...

Caro Salem

Obrigado ao Norteamos pela preocupação sobre o futuro da Linha do Tua

As obras estão concluídas .. aliás .. reparar 40 ou 50 metros de via não seria muito díficil se tivesse ocorrido na linha de Sintra ou na linha do Norte.. Se este acidente tivesse ocorrido há 100 anos em dois dias com a força do homem e com pás e picaretas estaria resolvido... diz-nos um velho e desgostoso férroviário da linha do Tua.
Agora falta só o LNEC dizer que podem voltar a circular.. Já convidámos a secretária dos transportes e o Presidente do Lnec para a inauguração ..
mário sales de carvalho
www.linhadotua.net

mario carvalho disse...

Gostariamos de convidar todas as pessoas que tenham disponibilidade de se deslocar a Mirandela no próximo sábado dia 10 de Novembro a colaborarem num debate, patrocinado pela Camara Municipal e seu Presidente Dr José Silvano e o Movimento Cívico de defesa da Linha do Tua(MCLT), subordinado ao tema "Futuro e linha do Tua " pelas 15H30 no Auditório da Camara.

obrigado

mario sales de carvalho

linhadotua@gmail.com
www.linhadotua.net

Jose Silva disse...

Excelente, Pedro.

PS: Não sabia que tinhamos sido referenciados. Muito bem.

Rui Rocha disse...

Caro Mario

Obrigado pelos esclarecimentos.

Em relação ao debate, pelo que entendi, deixa a supor que se a linha Porto Vigo for feita em fases, vaia contecer o seguinte: não vai haver quase trafego nenhum na linha, e o governo a ver tão pouca utilização vai achar que não é viavel fazer a nova via entre braga e porto (passando pelo ASC).

O objectivo do comboio e alta velocidade não é ligar aeroportos mas sim cidades, até ai tudo bem, mas se pudermos conciliar as duas coisas melhor, quanto melhor conseguirmos rentabilizar a linha melhor. E se o objectivo não é ligar aeroportos, entao porque é que no traçado da futura linha do norte em alta velocidade aparece lá uma "cidade" chamada Ota???Porque é que nos estudos do aeroporto em alconhete, se tem fortemente em conta (e bem) as ligações de alta velocidade, se o objectivo é ligar cidades?

PMS disse...

Salem, questões pertinentes. A elas responderei no meu próximo post (i.e., sobre porque é relevante, no caso português, ter ligações a aeroportos).

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