20071115

Retratos de um Portugal centralista em decadência I

Mais um retrato de Portugal gerido a partir de Lisboa, efectuado pelo lisboeta António Cerveira Pinto:

«O dromedário do MOPTC (que pena não ser um burro mesmo, teimoso, mas inteligente e sério) procura manifestamente emprego, atropelando pelo caminho o próprio governo, numa manobra tão desesperada que até o Sócratintas se viu forçado a explicar que o que "é bom para o País" não deve estar sujeito a pressões... do seu ministro! Posso estar enganado, mas a calinada do dromedário, desta vez foi fatal, embora deva esperar alguma contrapartida do lóbi da Ota, por bom comportamento.

O sniper encarregue das operações especiais destinadas a resgatar in extremis o embuste da Ota, é o mesmo imbecil (chama-se Carlos Fernandes) que vendeu ao ingénuo Cravinho a miraculosa solução das SCUT, que supostamente elevaria o PIB lusitano às alturas celestiais da Europa desenvolvida, garantindo que as novas autovias, à semelhança das espanholas sem portagens, se pagariam pela riqueza induzida no país. Não foi assim, temos que pagar, só em 2008, 704 milhões de euros pelas ditas autoestradas sem custos para o utilizador, parte dos quais vão transitar, sob a forma de portagens, para os ditos utilizadores, e lá se vai assim o crescimento induzido do PIB, e o gajo que inventou a aldrabice e a vendeu ao despistado ministro de Guterres deveria estar preso, e não ao serviço da RAVE, armado em comando especial do dromedário-mor do reino!

O País não pode com uma gata pelo rabo (gasta 95% das receitas fiscais em salários e prestações de serviços de funcionários públicos e contratados, mordomias para o pessoal político-partidário, segurança social e juros à banca), e a prova disto mesmo é que o Governo quer vender o Estado a patacas. Quer privatizar as estradas, quer privatizar as águas, quer privatizar a energia, quer privatizar os aeroportos, quer privatizar os portos, anda a rebentar com Reserva Ecológica Nacional (apesar dos salamaleques beija-empresários do ministro do ambiente), tem deixado os espanhóis comprar meio Alentejo (boa parte da zona de regadio do Alqueva), em suma, só falta fazer um Parceria Público Privada com o Rei de Espanha para gerir as nossas tropas!

Numa altura em que já se percebeu que a globalização vai fazer marcha-atrás em aspectos que ferem especialmente as soberanias nacionais (Bush impediu o controlo dos portos norte-americanos pelos árabes em 2006), e quando crescem os sintomas de proteccionismo nos sectores estratégicos da economia, com especial ênfase na energia, na segurança alimentar, nas infraestruturas sensíveis dos transportes (portos, aeroportos, etc.) e, muito em breve, no dinheiro, depois de controlado o maremoto de especulação e corrupção que atingiu as finanças norte-americanas e europeias (ver declarações proferidas ontem por Bern Bernanke; "Fed Plans to Increase Forecasts to Once a Quarter", Last update November 14, 2007 14:41 EST, Bloomberg), a classe política portuguesa com assento parlamentar, sem excepção, anda a brincar ao monopólio com o país. A forma é de um ridículo crescentemente atroz, mas a substância, isto é, a eminente perda de autonomia económica do país, raia a traição.

Para financiar o novo aeroporto, de que não precisamos, mas que a precisarmos, deveria ser na Margem Sul do Tejo e nunca na Ota, o governo propõe-se alienar terrenos que não são seus (os da Portela) e privatizar um monopólio estatal, entregando-o a um monopólio privado! Para privatizar a ANA, no entanto, terá que se proceder a uma aprovação por maioria de 2/3 na Assembleia da República, a qual só será possível com a conivência de Filipe Menezes-Santana Lopes. Será a isto que se refere o autarca da falida Gaia quando propôs um pacto de empreiteiros a José Sócrates?

Enquanto aguardamos pelo douto parecer do LNEC (não é o dromedário que lhe paga?) Madrid soma e segue na sua estratégia aeroportuária: o novo aeroporto, privado, de Ciudad Real, "Madrid Sur", inaugura em 2008, e os dois novos aeroportos daquela Comunidad Autónoma, agora decididos, deverão inaugurar entre 2016 e 2025. Em 2009, por sua vez, o ampliado e modernizado aeroporto de Badajoz afundará de vez o aeromoscas de Beja. Que lindo serviço!

Há quem diga que a cimeira espanhola que aí vem, vai ser um peditório português, do género, querem o AVE em Lisboa? Então paguem! Quando pensa o Sr. Cavaco Silva dar um murro na mesa? Não se atrase! Não se atrase!!»

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