Por Ricardo Arroja:
Na semana passada estive em Badajoz, Espanha, como participante no debate dedicado ao tema “Barcelona, Lisboa, Madrid, Porto – poker o dobles parejas?”. A conferência foi organizada pela Junta da Extremadura e contou com vários painéis reunindo políticos, empresários, jornalistas, economistas, gestores, entre outros. Fui convidado pelo jornalista Carlos Magno para representar a cidade do Porto no segmento que reuniu os palestrantes mais jovens. Desde logo aceitei. Pela honra que é representar a cidade onde nasci e resido. E pela afinidade que, por motivos profissionais, me liga a Lisboa e a Madrid. O meu objectivo no debate foi duplo: a) evidenciar as semelhanças e diferenças existentes entre Portugal e Espanha e; b) apontar alguns dos sectores económicos emergentes – “clusters” – que despertam neste momento na cidade do Porto e no Norte do país em particular. Por Norte, entenda-se a região tal como ela é definida pela União Europeia – acima do Douro até às fronteiras com Espanha.
As economias de Portugal e Espanha apresentam algumas semelhanças estruturais. A revista “The Economist”, numa edição especial de 2008 intitulada de “Pocket World in Figures”, indica que a origem do PIB português se encontra distribuída da seguinte forma: 3% na agricultura, 22% na indústria e 75% nos serviços. Em Espanha, a distribuição é muito semelhante: 4%, 29% e 67%, respectivamente. No que diz respeito às componentes do PIB, em Portugal o consumo privado tem um peso de 67% do total, o consumo público 21%, o investimento 23% e o saldo entre exportações e importações apresenta um balanço negativo de 11 pontos percentuais. Em Espanha, a mesma distribuição evidencia os seguintes valores: 58%, 17%, 27% e o défice entre as exportações e as importações é de 2 pontos percentuais. A dependência energética nos dois países, ou seja, a proporção de combustíveis importados para acomodar o consumo interno é, em Portugal e Espanha, de 85% e 77%, respectivamente.
Quanto às oportunidades futuras em Portugal e Espanha, das 4 cidades e regiões analisadas no colóquio, aquela que revela maior potencial de convergência económica é o Porto e o Norte do nosso país. Até 2013, Portugal irá receber mais de 21 mil milhões de euros da União Europeia – cerca de 14% do actual PIB português. A fatia de leão, cerca de 14 mil milhões de euros, vai para os projectos faraónicos: o aeroporto, o TGV e o comboio de mercadorias entre Sines e Elvas. Mas entre os programas regionais, que no conjunto representam 7 mil milhões de euros, o do Norte, a região mais pobre do país, é o maior – cerca de 3 mil milhões de euros. A afectação deste montante deverá privilegiar alguns sectores específicos nomeadamente aqueles associados à tecnologia e inovação. Na minha opinião, dever-se-á dar prioridade aos têxteis técnicos e ao sector de tecnologia da saúde. Nos primeiros, devido à tradição têxtil já existente aliada à modernização recentemente implementada, que permitirão aproveitar as oportunidades nas fibras têxteis utilizadas na produção agrícola, na construção civil e na exploração geológica. Nos segundos, devido à forte concentração no Norte de recursos humanos especializados nos vários domínios da ciência, em particular na investigação em medicina.
De acordo com os dados publicados na proposta portuguesa do QREN (www.qren.pt), mais de um quarto de todos os investigadores em inovação e desenvolvimento a trabalhar em Portugal estão na região Norte. No campo da produção científica, o domínio é ainda mais avassalador. Nas publicações especializadas em ciências, 34% são produzidas no Norte. Nas dedicadas a engenharia, informática e tecnologia, a percentagem sobe para 39%. E nos de medicina, a escala quase rebenta: 48% estão no Norte. As estatísticas surpreendem pela robustez porque, infelizmente, há um défice na sua comunicação. Mas facilmente se conclui que as condições ao nível dos recursos humanos no Norte são, nestes sectores, muito boas. É aqui que se devem implantar os empresários dispostos a investir na saúde, nos dispositivos médicos, na investigação farmacêutica ou na biotecnologia. Além disso, as tendências demográficas também favorecem o Norte porque é nesta região que se encontra a maior concentração de população jovem do país – cerca de 38% dos jovens com menos de 25 anos de idade. E é no Norte que reside a mais forte tradição empreendedora em Portugal, que ainda hoje se faz sentir. É daqui que saem metade das exportações portuguesas.
1 comentário:
"E nos de medicina, a escala quase rebenta: 48% estão no Norte" - Duas razões para isto: 1 - de facto no Norte temos excelentes recursos humanos nesta área; 2 - o lobby Sobrinho Simões/Alexandre Quintanilha que, embora produzam excelente ciência, precisam de dinheiro de Lisboa para o fazer e para isso venderam a possibilidade de um financiamento capaz a outras instituições de investigação no Norte por parte do governo central. E quando o mérito é substituído pelas jogadas de bastidores deixa de haver razão para enaltecimento. De qualquer forma, parabéns pelo artigo e pelo orgulho demonstrado em representar a nossa região
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