20071101

Paroquialismo bacoco: o maior aliado do centralismo (III)

Caro Pedro Morgado e António Alves,

Quero contextualizar melhor esta discussão.

Os pressupostos do blogue são:

  • Debater, sem necessariamente consensualizar, o desenvolvimento do Norte nas várias vertentes; Debater para conhecer melhor as teses de cada um, mesmo que não fundamentadas ou erradas;
  • O desenvolvimento tem várias vertentes: Económico, social, tecnológico, etc. Nem só de pão vive o homem, diz o ditado.
  • O desenvolvimento económico não passa exclusivamente nem essencialmente pela intervenção estatal, local, regional, central ou europeia; Todos os economistas intelectualmente honestos sabem disso. Os liberais fazem disso a sua ideologia;
  • Na minha opinião, um problema do Norte é falta de auto-governo nos assuntos relacionados com o desenvolvimento económico e social. Com maior proximidade das decisões conseguir-se-ia melhores decisões. Não concordo por exemplo com estratégia de expansão do metro do Porto gerida por autarquias com interesses paroquiais e sancionada pelo estado central; Deveria ser formulada por um entidade superior às autarquias locais; A mesma coisa relativamente ao apoio decidido centralmente à IKEA. Provavelmente as forças vivas de Paços de Ferreira/Paredes apontariam outro caminho. Há várias formas de obter mais auto-governo: A Regionalização tradicional, fusao de autarquias locais em regionais NUTS3 complementada por descentralização de funções económicas e sociais do estado central (regionalização Relvas), circulos uninominais, democracia electrónica, etc.

Considerando então apenas o particular aspecto do desenvolvimento fomentado pela administração estatal regional, penso que devemos clarificar os vários pontos de vista.

  • Quem acha que quem discorda de uma região Norte unificada é traidor, ainda não percebeu o que é a blogosfera;
  • O Bairrismo é um trunfo dos que querem manter o status quo; É preciso ter cuidado na defesa dos interesses locais, não dando trunfos aos centralistas;
  • Actualmente, o suposto centralismo do Porto resulta apenas da capacidade de lobby que o Porto tem junto da capital devido à sua dimensão e insubmissão. As restantes regiões a Norte não tem ou não querem ter ambas as capacidades. Evidentemente que isto pode parecer uma deliberada centralização exercida pelo Porto sobre o Norte; Mas vejamos: o Porto não tem qualquer capacidade de decisão regional: As Direcções Regionais são administração periférica do estado central; A CCRN pertencem ao estado central. O Porto tem apenas as mesmas autarquias que Braga ou Bragança tem. O Porto não tem poder administrativo regional. Quem tem é Lisboa.
  • Evidentemente que há riscos e receios numa Regionalização a 5 do Portocentrismo; Não é legítimo ignorar os sentimentos fundamentados ou não das populações sobre as parcialidades geográficas das administrações dos estados. É isso que reclamamos de Lisboa; Não podemos ignorar os extra-Porto. Por exemplo, se as sedes do governo regional estiverem todas no Porto, o lobby do betão regional, DST, Scosta, Motas, FDO, terá inevitavelmente contactos no Porto. A mesma coisa nos fornecedores de serviços de consultoria ou TI ou consumíveis. Portanto, haverá um risco de absorção de actividade económica, como acontece há anos em Lisboa. Ora por isso os portuenses mais avisados aceitam que as sedes não sejam no Porto precisamente a dar confiança ao Norte extra-Porto.
  • A suposta Regionalização a 5, ao virar da esquina, prometida pelo PS para depois de 2009, a ser trabalhada com reorganizações da administração periférica, como por exemplo recentemente as regiões de turismo, é apenas suposta. Não devemos subestimar as forças centralistas. Podem prometer tudo agora e sabotar, sobre qualquer pretexto, como o fizeram em 1998. Portanto, devemos ter estratégia alternativa, que seria, na minha opinião a reactivação por LFM da regionalização Relvas;
  • As regiões não são mini-estados nem se medem aos palmos; Todas as regiões portuguesas serão menores do que a Andaluzia ou Castela-Leão. E depois ? Desde quando o desenvolvimento económico tem a ver com o Km2 ? A república de Sakha na Rússia tem o tamanho de 10 Alemanhas e a população de distrito Viana+Braga. O Luxemburgo, micro-país, com 1/3 de população activa do Norte tem o maior poder de compra per capita da Europa ! A dimensão do territorio para estabelecer desenvolvimento acabou há 500 anos... Regiões mais pequenas são perfeitamente possíveis.

Penso que o debate se deveria orientar de agora em diante para as vantagens e desvantagens da Regionalização a 5 tradicional e da reforma Relvas (fusão de autarquias com descentralização). De qualquer modo, apelo à continuação construtiva do debate Intra-Norte.

5 comentários:

Anónimo disse...

Uma das coisas que me desanimou de escrever aqui, para além de uma imensa falta de tempo foi o sentimento de que as pessoas de Braga (principalmente) e das outras cidades do Norte estão mais preocupadas em compater o "PORTOCENTRISMO" (palavra inventada por eles) do que em construir uma região forte, capaz de canalizar recursos e agregar vontades.
Acho que a questão do bairrismo, tão evidente no futebol é um bom exemplo de como NÂO se deve pensar e construir as coisas.
Há uma "capital do Norte", quairamos ou não e há polos de desenvolvimento que devem ser potenciados numa lógica de complementaridade. Mas não se esqueçam que sem líder não há equipa e nenhuma equipa progride sem que o lider seja apoiado.

À equipa exige-se lealdade, colaboração, empenhamento e reconhecimento dessa posição. Ao Lider exige-se que pense em toda a equipa, em como beneficiá-la, melhorá-la, apoiá-la para que ele seja melhor e mais produtiva.

Deixem-se de bairrismos. Não há alternativa a que o Porto (cidade) seja a capital. Depois temos a experiência nacional para não deixar que aconteça nesta escala micro o que tem acontecido a nível macro.

Anónimo disse...

Isto so mostra que a regionalização terá de ser feita "à chinesa". Em que as grandes áreas metropolitanas são regiões. AML e AMP ficariam duas regiões... Completamente justificado pelo número de pessoas e pela riqueza que criam.

Anónimo disse...

Este blogue é uma anedota

De facto podemos dividir o norte em varias regioes, mas mesmo assim braga ficaria na mesma regiao do porto, sao duas cidades que ao longo da historia sempre estiveram ligadas, separar o porto de braga é uma aberração, ja no caso do nordeste transmontano essa problematica é aceitavel.

O bairrismo do futebol é evidente neste caso porque em braga é só benfiquistas.

Anónimo disse...

Quanto aos que defendem uma regionalização baseada em areas metropolitanas, fica claro que são inimigos do norte, tal regionalização é totalmente artificial.

O josé silva defender tanto os anti-norte pedros morgados é estranho, será que o seu patrao é de braga e o jose silva tem medo que ele o demita ?

Mude o nome do blogue

Antonio Almeida Felizes disse...

Para reflexão, transcrevo aqui um excerto da Revista "Expresso Norte"

"Chama-se «Galicia Arte Contemporánea» e é um «guia de exposicións» da Asociación Profesional de Galerías de Arte de Galicia, patrocinado pela Xunta. Ao abrir o desdobrável, encontram-se os mapas e programas das galerias de Ferrol, Ourense, Porto, Vigo, A Coruña, Santiago e Lugo. O grafismo é sóbrio e competente. Com mais atenção, nota-se que em todas as cidades espanholas o número de salas institucionais iguala ou excede o das galerias comerciais — até ao extremo de Santiago, com cinco e três referências, respectivamente — enquanto o Porto conta com 12 galerias e uma única instituição (Serralves).

Só filisteus ou distraídos se escandalizarão com a inclusão do Porto no roteiro galego. O que é grave é a ausência, a par do Porto, de cidades como Braga e Guimarães, ultrapassadas pelas localidades mais a Norte. Porque a falta de galerias de arte, em si mesmo talvez pouco relevante, deve ver-se como um índice do seu mais atrasado desenvolvimento cultural e este é, hoje, na Europa, a condição necessária à competitividade económica."

Cumprimentos,

Regionalização
.

Leituras recomendadas