Pode ser que sim, António. Mas vejamos o que vale a Portela urbanizada, com ou sem Jogos Olímpicos 2020. A primeira questão a notar é que o preço de qualquer bem depende da sua procura no mercado. A Portela urbanizada, não é excepção. Vamos admitir que a Portela se tornaria uma zona de habitação ou de escritórios. Qual será a procura destas propriedades daqui por 10 anos ? E sobretudo, quem serão os compradores ?
· Concerteza que não serão Portugueses: «Atingido um nível tão elevado de endividamento que já ultrapassou há muito o patamar de 100% do rendimento disponível, era de esperar um profundo travão no recurso à Banca. Os números parecem contradizer a lógica». Aparentemente apesar do endividamento, o crédito à habitação ainda se expande. Mas durará a expansão até 2017 ? Portugal já tem a 18º dívida externa per capita, a 16ª dívida externa por euro de PIB e o 4º pior país do mundo em termos de reservas bancárias face aos activos, significando que a própria banca está excessivamente endividada. Haverá espaço para mais financiamento a particulares e empresas para comprarem imóveis na Portela urbanizada ? A resposta é não. Mesmo que vendam as propriedades no resto de Portugal para irem viver para a Portela, essas propriedades perderão valor...
· «Por outro lado, só tem sido possível ao país viver acima das suas possibilidades, comprando ao estrangeiro mais do que aquilo que lhe vende, ou porque o estrangeiro lhe dá dinheiro - como tem sucedido por parte da UE - ou porque lho empresta. E, na realidade, os portugueses - Estado, empresas, particulares - têm-se socorrido cada vez mais do crédito concedido por estrangeiros, seja indo buscá-lo lá fora, seja endividando-se junto de um sistema bancário onde a presença de bancos estrangeiros é cada vez mais notória. Nos casos em que os empréstimos não são reembolsados - e isso está a acontecer com frequência crescente - são os estrangeiros que ficam com a propriedade dos portugueses: empresas, quintas no Douro, casas de habitação. É também por esta via - a segunda - que os portugueses pagam aos estrangeiros o facto de, durante anos, terem andado a viver à custa deles: entregando-lhes as suas propriedades». Ora este poderá ser outra alternativa para a Portela urbanizada: captar residentes estrangeiros, particulares ou empresas. Mas vejamos:
- «Ora, no que diz respeito ao investimento estrangeiro, já na altura, os dados do Banco de Portugal mostravam que, no período de Janeiro a Agosto de 2007, ele tinha descido 26,3% face ao mesmo período de 2006? Um esquecimento conveniente do primeiro-ministro, não acha, caro leitor? Mas pior: os dados oficiais entretanto divulgados mostram uma queda homóloga ainda maior nos primeiros nove meses do ano: 31,5%, que trouxeram o investimento estrangeiro para os níveis de? há cinco anos! Entretanto, um estudo da conhecida empresa de consultoria Ernst & Young revelou que, face a 2006, triplicou o número de investidores estrangeiros que tem a intenção de se deslocalizar de Portugal: 7% no ano passado contra 20% em 2007. Será porque Portugal está mais atractivo?!?» A resposta é não. Portanto a Portela urbanizada não terá multinacionais lá sedeadas;
- Serão os europeus pertencentes à população activa que venderão as suas casas para irem viver na Portela ? Claro que não. Se até os portugueses emigram, quem é que virá para cá ? Será a Portela urbanizada uma área de turismo residêncial povoada por séniores europeus ? Penso que não. Os seniores não querem ir viver para cidades. Preferem a natureza e ambientes não urbanos. Não esquecer ainda o crash imobiliário global: «Burst of Europe's real estate bubble: Spain comes first soon followed by France and UK». Quem comprou irá amortizar durante muitos anos um imóvel em desvalorização. Num mercado em queda, dificilmente terá condições para vender a sua propriedade e passar a viver na Portela.
Como podemos facilmente concluir, não haverá procura de propriedade na Portela urbanizada. Os terrenos já não valem muito. O boom do imobiliário acabou em Portugal há uns 5 anos e no mundo ocidental está a acabar por estes dias.
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