20071217

Nem Ota nem mega-Alcochete VI: O mito da urbanização dos terrenos da Portela

«O grupo de peritos que, nos anos 80, "descobriu" a Ota como possível localização do novo aeroporto de Lisboa já na altura preferia a zona de Alcochete, não tendo avançado com essa proposta porque as Forças Armadas se recusavam a desmantelar as instalações do Campo de Tiro.

"Segundo Luís Coimbra, actual administrador do Instituto Nacional da Aviação Civil (INAC) e que à época fazia parte do grupo de peritos, "as notícias [de que o LNEC terá escolhido Alcochete em detrimento da Ota] não surpreendem". "Se o LNEC decidiu Alcochete, decidiu muito bem", diz este especialista em planeamento aeroportuário, adiantando que, na sua opinião, a escolha era "óbvia". -- DN Online.

A escolha da Ota ficou então a dever-se à recusa dos militares? Mas desde quando os militares mandam na actual democracia?! Este esclarecimento tardio de Luís Coimbra parece-me frouxo. O verdadeiro motivo que conduziu à Ota, e que teria aproveitado a boleia dos generais com asas, foi a necessidade de libertar os terrenos da Portela para financiar parcialmente a construção do NAL e abrir o derradeiro capítulo da expansão de Lisboa no interior do seu apertado perímetro municipal. Como reconhece implicitamente Luís Coimbra, nenhum novo aeroporto na Margem Sul impediria a continuidade da Portela. Só mesmo a Ota tem essa virtualidade assassina!

A escolha de António Costa para a CML, e até o empréstimo de 400 milhões de euros (mais de 80 milhões de contos, com que garantias?) recém aprovado, reforçam esta convicção generalizada entre os bloguistas que há pelo menos dois anos vêm batalhando contra o erro da Ota. Em plena manobra de recuo, despachado João Cravinho para Londres, empandeirado Mário Lino para o Ambiente, restaria a quem desenhou a estratégia garantir que o novo lóbi, o do Campo de Tiro do Alcochete, iria mesmo defender o encerramento da Portela. É o que está a acontecer.»

Pode ser que sim, António. Mas vejamos o que vale a Portela urbanizada, com ou sem Jogos Olímpicos 2020. A primeira questão a notar é que o preço de qualquer bem depende da sua procura no mercado. A Portela urbanizada, não é excepção. Vamos admitir que a Portela se tornaria uma zona de habitação ou de escritórios. Qual será a procura destas propriedades daqui por 10 anos ? E sobretudo, quem serão os compradores ?

·         Concerteza que não serão Portugueses: «Atingido um nível tão elevado de endividamento que já ultrapassou há muito o patamar de 100% do rendimento disponível, era de esperar um profundo travão no recurso à Banca. Os números parecem contradizer a lógica». Aparentemente apesar do endividamento, o crédito à habitação ainda se expande. Mas durará a expansão até 2017 ?  Portugal já tem a 18º dívida externa per capita, a 16ª dívida externa por euro de PIB e o 4º pior país do mundo em termos de reservas bancárias face aos activos, significando que a própria banca está excessivamente endividada. Haverá espaço para mais financiamento a particulares e empresas para comprarem imóveis na Portela urbanizada ? A resposta é não. Mesmo que vendam as propriedades no resto de Portugal para irem viver para a Portela, essas propriedades perderão valor...

·         «Por outro lado, só tem sido possível ao país viver acima das suas possibilidades, comprando ao estrangeiro mais do que aquilo que lhe vende, ou porque o estrangeiro lhe dá dinheiro - como tem sucedido por parte da UE - ou porque lho empresta. E, na realidade, os portugueses - Estado, empresas, particulares - têm-se socorrido cada vez mais do crédito concedido por estrangeiros, seja indo buscá-lo lá fora, seja endividando-se junto de um sistema bancário onde a presença de bancos estrangeiros é cada vez mais notória. Nos casos em que os empréstimos não são reembolsados - e isso está a acontecer com frequência crescente - são os estrangeiros que ficam com a propriedade dos portugueses: empresas, quintas no Douro, casas de habitação. É também por esta via - a segunda - que os portugueses pagam aos estrangeiros o facto de, durante anos, terem andado a viver à custa deles: entregando-lhes as suas propriedades». Ora este poderá ser outra alternativa para a Portela urbanizada: captar residentes estrangeiros, particulares ou empresas. Mas vejamos:

Como podemos facilmente concluir, não haverá procura de propriedade na Portela urbanizada. Os terrenos já não valem muito. O boom do imobiliário acabou em Portugal há uns 5 anos e no mundo ocidental está a acabar por estes dias.

 

PS: Os lucros das companhias aéreas vão baixar no próximo ano. As previsões da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), divulgadas hoje em Genebra, revelam que os lucros da indústria vão descer dos 5,6 mil milhões de dólares em 2007 para 5 mil milhões em 2008.

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