20071227

Pecado capital

O alarido à volta da entrada ou não de Armando Vara na nova Direcção do BCP dá que pensar. À priori direi que não tenho especial admiração por esta personagem e não quero ser o que se denomina “defensor do diabo”, porém há coisas no ar que parecem ser uma perseguição pura e simples baseada em pressupostos pouco claros e até duvidosos.

O ilustre transmontano, em Vinhais nascido, é bancário de profissão e à custa do seu engenho, arte e pertinência conseguiu chegar a ministro, um dos poucos transmontanos a consegui-lo, tendo percorrido rapidamente, num percurso político tão meteórico como surpreendente, as várias etapas do poder em Portugal: dirigente distrital, deputado, vice-presidente do Grupo Parlamentar, secretário de estado e ministro. Caiu em desgraça, fruto dos obscuros financiamentos da Fundação para a Prevenção e Segurança que criou. Nada foi provado. E se granjeou inimigos, os amigos não lhe faltaram quando foi nomeado gestor e depois vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos perante a estupefacção de meio mundo. Ali terá realizado um trabalho que muitos caracterizaram de competente e transformou-se no braço direito do administrador, dele não abdicando para a nova aventura do BCP. A sua inclusão na lista de Santos Ferreira despoletou um coro de protestos.

Em que se fundamentam? Uns dirão que a putativa entrada da nova administração no maior banco privado português pressupõe uma atitude política, isto é, uma aproximação do banco ao poder instituído, no sentido de minimizar os efeitos das irregularidades detectadas pelas autoridades reguladores do mercado. Nesta óptica acusa-se o Governo de se imiscuir nos assuntos de empresas privadas. Vara seria a face. E então porque outros da mesma lista, também do PS, não sofrem da mesma contestação? Há ainda uns outros que advogam a sua falta de competência sem pormenorizarem de forma séria, apenas referindo a inadmissibilidade de um simples “caixa” se tornar administrador de um banco.

As razões desta animosidade são mais simples. Num país pequeno, sem grandes oportunidades, tudo está mais ou menos pré-determinado. Ultrapassar condicionalismos de nascimento, de estatuto social, de raça… é complicado e só o futebol e pouco mais, o parece ter conseguido. A ascensão de Vara não é um caso de heroicidade, teve forte muleta partidária e nos dias que correm isto é pouco valorizado e até depreciado. Depois Vara é um “outsider” na capital, facto agravado por ser originário da província, e isto é um pecado capital.

3 comentários:

josé manuel faria disse...

Caro JAM "A ascensão de Vara não é um caso de heroicidade, teve forte muleta partidária e nos dias que correm isto é pouco valorizado e até depreciado. Depois Vara é um “outsider” na capital, facto agravado por ser originário da província, e isto é um pecado capital".


A muleta partidária deve ser valorizada?

Não ser de Lisboa é pecado?

Ironia ou é para levar a sério.

Jose Silva disse...

Caro JAM,

De facto existe muito preconceito contra a província e contra o Norte. Porém, neste caso alinho com o preconceito contra Vara, por ser obviamente um boy e não um gestor profissional.

Aliás, Vara no BCP significará menos 10% de intenções de voto no PS e menos 10% de quota de mercado do BCP. O povo que trabalha e sabe o que custa chegar a altos cargos no mundo privado, não vai deixar de boicotar isto. Eu tenho vindo a reduzir os meus activos no BCP e no dia 2 de Janeiro ainda irei reduzir mais, como ou sem Vara...

josé alegre mesquita disse...

A ascenção nos partidos deve ser tão legítima como outra qualquer se feita de modo claro. O homem poderá ter muitos defeitos, porém a maior é ser transmontano. Estou perfeitamente convencido que, nascido na capital seria mais resguardado de ataques quantas vezes pouco fundamentados.

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