Na vida pessoal, das organizações e dos territórios, é necessário, imprescendível até, estar atentos às rupturas tecnológicas, económicas e sociais. Estas rupturas anunciam que daí em diante nada será como dantes. Exemplos são o aparecimento do Windows, da Internet, dos telemóveis, a Blogosfera, o 25 de Abrl, a queda do muro de Berlim, o 11 de Setembro. E também o modelo de negócio das «low-cost», o «Peak Oil» e o actual «Credit Crunch».
Vejamos então o que se escreve na imprensa americana que me leva a concluir que o nosso governo central desistirá da Ota e mega-Alcochete:
- «It's Not 1929, but It's the Biggest Mess Since», WashingtonPost, 20071205. Preciso de mais explicações ? Penso que não, de qualquer modo aqui fica o diagnóstico de um colega: «José Jorge, professor na Faculdade da Economia do Porto, apresentou, em Paris, um artigo sobre o papel dos mercados interbancários na política monetária. Eis o diagnóstico do professor português: "Os bancos continuam a não a confiar uns nos outros, pois continuam sem saber as exposições aos riscos de liquidez e à quebra de valor nos seus activos. Além disso, desconhecem, também, se as instituições financeiras serão capazes de suportar custos num cenário negativo", diz o economista. Questionado sobre o sentimento vivido no encontro que juntou especialistas de todo o mundo, responde: "o sentimento geral é de grande apreensão"».
- Vejamos também a cotação descendente e o que se escreve sobre a empresa autraliana Macquire Airports, candidata à privatização da ANA: « Macquarie, which recently changed its name from Macquarie Bank Ltd. as part of a company restructuring, combs the globe for assets exposed to limited competition -- such as airports, toll roads and utilities -- and sells them in initial public offerings of shares or bundles them into managed funds, taking capital gains as well as advisory and management fees along the way. The institution's model has been under fire since May from a couple of well-known short sellers, notably Jim Chanos of hedge fund Kynikos Associates. Known for predicting the collapse of U.S. energy trader Enron, Mr. Chanos -- who this year put Macquarie on a list of public shares to short -- said the funds Macquarie manages are excessively leveraged and its model works only in an era of cheap debt and rising asset prices.» Wall Street Journal, 20071207. Como todos os bancos envolvidos em compras especulativas financiados com crédito barato, o Macquire dificilmente escapará. Evidentemente que tentará convencer os vendedores da sua solidez até ao dia em que os Estados tiverem que injectar dinheiro dos contribuintes...
- Também ontem o Dow Jones Newswires referia-se aos efeitos da crise do crédito, «peak oil» e recessão sobre a aviação comercial: «As financial firms tighten their corporate travel budgets, oil prices continue to hover near record highs and the risk of a U.S. recession looms, the civil aerospace sector looks set for a challenging 2008, with airlines and aircraft makers vulnerable to fallout from the global credit crisis. The International Air Transport Association (IATA) recently cut its forecast for global airline profitability next year to $7.8 billion from $9.6 billion, with a revised oil assumption of $67 barrel from $63. In a speech last month in Washington, IATA Chief Executive Giovanni Bisignani warned of potential turbulence ahead for the industry. "The credit crunch throws a shadow over the economic expansion that underlies our good performance. Airlines are $200 billion in debt and we could be heading for a downturn with little cash in the bank to cushion the fall," he said. Fuel costs are continuing to climb, with a total bill for the industry of $132 billion this year, more than four times what it was in 2002, according to IATA. (…) Other factors, such as slowing economic growth and the looming risk of a recession in the U.S., are also darkening the picture. Historically, air traffic growth has indeed been highly correlated to economic growth. Credit Suisse noted that while the euro zone and the U.S. have recently revised down their gross domestic product (GDP) forecasts for 2008, the downgrades have yet to feed through to airline outlooks». O trafego aeroportuário nacional é sobretudo originado pelas chegadas de europeus, que estando em recessão também reduzirão as suas viagens. A TAP, além de endividada, cancela voos diariamente por falta de passageiros. Não sei como é que se consegue imaginar crescimento de passageiros em transito na Portela nos próximos anos...
Conclusão: A crise do crédito e suas consequências estão aí. O Governo e os adeptos da OTA ou mega-Alcochete poderão julgar que nos enganam ao efectuarem uma fuga para a frente. Além do PS perder as eleições em 2009, arriscam-se a que o projecto seja posteriormente revisto ou suspenso. A opção está em parar agora ou parar antes de ser constuído. É sinal de inteligência parar agora. O lobby que quer fornecer estudos, assessoria, financiamento ou obras ao MOPTC pode alternativamente optar por modernização ferroviária/mudança de bitola (não confundir com TGVs), aeroportos «low-cost» em Fátima ou Bragança, mais barragens, metros de superfície em Braga-Guimarães, Vouga, Aveiro e Coimbra, ou simplesmente reestruturar-se e apostar na internacionalização como os lisboetas muito gostam de recomendar ao vale do Ave.
2 comentários:
Desculpa "norteamos", mas não me parece que sejas uma pessoa conhecedora sobre o assunto, embora queiras parecê-lo.
Eu não tenho opinião formada sobre a localização do novo aeroporto. Sou da Serra da Estrela e as guerrinhas regionais algo doentias não me dizem nada!
Pergunto se conheces o aeroporto em Lisboa?! Conheces?? Pelos comentários, não acredito. Portugal precisa de um novo aeroporto e os custos e localização têm de ser bem ponderados para não andarmos a pagar com os nossos impostos projectos mal estruturados e que só servem alguns.
Mas que o aeroporto da Portela, em Lisboa, não tem condições para a utilização que lhe dão, isso é inquestionável, meu amigo.
É preciso conhecer as coisas, estar informado e, sobretudo, emitir opiniões fundamentadas, livres de preconceitos que distorcem a realidade.
Fernando Pedro
Caro Fernando,
1- Quando um aeroporto é mal gerido, a solução não é construir um novo aeroporto, é mudar a entidade gestora. O aeroporto está a 65% da capacidade. Se não funciona é porque não o sabem gerir. E se não o sabem gerir é porque lho permitem assegurando um monopólio não regulado.
2- A decisão de construir um novo aeroporto deve ter em conta análises de cenários de crescimento da procura, e essas análises devem ter em conta os dados mais recentes. Mas continuam-se a usar projecções que pressupõe crescimento económico elevado e petróleo barato. Porquê?
Segundo os estudos anteriores, a Portela já estaria esgotada. No entanto, ainda está a 65% da capacidade.
Aqui no Norteamos não temos nada contra um novo aeroporto, desde que seja uma solução realista. Aliás, este post em concreto defende a não construção de soluções megalómanas, aceitando no entanto a solução Alcochete (como "+1"), mas construida de forma modular, para evitar excessos de capacidade significativos, e por conseguinte, desperdicio de recursos.
Quanto às guerras regionais, também somos pouco adeptos. Tanto que ficamos bastante aborrecidos com a "ideia peregrina" de pagar o aeroporto de Lisboa com os aeroportos do Porto e Faro. Meteram-nos ao barulho porquê? Pagamos com os nossos impostos, tudo bem. Agora pagar também com as nossas infraestruturas, que é suposto servirem as nossas regiões, isso já não está certo.
De resto, concerteza já terá reparado que norte e lisboa estão bastante unidos na luta contra as soluções megalómanas.
Mas a propósito disso tudo já se defendeu sobre a posição do norte: que nós é que queríamos fechar a Portela, que nós é que queríamos a Ota, etc. Tudo para lixar Lisboa.
Depois passaram a dizer que queriamos manter a Portela para lixar Lisboa. Haja paciência. Defendemos soluções económicas para o país e que permitem a Lisboa ter um bom serviço aeroportuário, responder a um nível superior de procura e a futuras expansões no futuro, e manter a enorme vantagem competitiva que é ter um aeroporto junto à cidade. Somos contra uma solução que sai mais cara a todos, não permite expansões futuras, terá taxas aeroportuárias elevadas, e fica super longe da cidade. É possível desejar uma solução mais favorável a Lisboa? Não vejo como.
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