20071202

Histórias de jovens e qualificados emigrantes do Norte 2

Elisa Nogueira, Eng.ª Biológica, Dublin. Irlanda
Filha de pais Portugueses emigrantes em França, nascida e criada nesse país, desde muito cedo aprendi que não pertencemos a nenhum país em concreto.
Aos 13 anos (e para surpresa dos meus pais) decidi continuar os meus estudos em Portugal - país que conhecia superficialmente e no período de férias. Tenho de admitir que Portugal no mês de Agosto e Portugal nos restantes meses do ano são duas realidades bem diferentes!
“Sobrevivi” a alguns períodos menos positivos (alguma xenofobia para com Emigrantes/filhos de Emigrantes), concluí a minha Licenciatura numa Universidade Portuguesa e devo admitir que, apesar de tudo, Portugal será sempre o meu “porto seguro”.
No final do meu 4.º ano de Licenciatura em Engenharia Biológica (na Universidade do Minho) e com vista à realização do estágio curricular (parte integrante do 5.º ano da Licenciatura), meti “mãos-à-obra” para desencantar o “estágio dos meus sonhos”. Os Estados-Unidos eram ponto assente na minha agenda. Onde exactamente nos EUA, ainda estava por determinar... Graças a um professor do meu Departamento, descobri a UMBC (University of Maryland Baltimore County), onde lecciona um professor português radicado nos EUA, há já alguns anos. Troca de emails e consegui um estágio de 6 meses, paitrocinado (obrigada mamã, obrigada papá!).Setembro de 2003 foi o ponto de viragem para uma nova jornada. Descrever tudo o que vi, as pessoas que conheci, as experiências que vivi, as amizades que criei, seriam páginas e páginas de estórias...
Regressei a Portugal em Março 2004, mas parte de mim ficou para sempre lá. Vim embora com uma proposta para voltar e fazer o meu doutoramento. Infelizmente, e porque as decisões que tomamos nem sempre são as mais acertadas, declinei a proposta. Tinha de escolher entre a minha vida pessoal (um relacionamento de longa duração com uma pessoa que não queria sair de Portugal) e a minha carreira profissional: optei pela primeira (escolha que viria a arrepender-me amargamente alguns anos mais tarde...).
Terminei a minha Licenciatura, e (por sorte) consegui emprego na área da consultoria em Braga, quase de imediato. Fiquei em Portugal, com a promessa de que se, ao fim de um ano, não estava satisfeita com a minha situação profissional, sairíamos do país. Dois anos passaram e insatisfeita tanto profissional (muitas horas de trabalho, desgastante, mal pago, etc. etc.) como pessoalmente, reformulei a minha vida. Terminei o relacionamento e enviei “centenas” de currículos à procura de uma nova oportunidade. Numa mesma semana, fui aceite para um mestrado no Porto, um mestrado em Cork (Irlanda), um emprego na BP em Londres e um doutoramento em Dublin (Irlanda). Optei pela última... Estou em Dublin desde Outubro de 2006, na University College Dublin: adoro o que faço, adoro a cidade, adoro as pessoas, adoro o país... mas detesto o clima! Admito que dias/semanas a fio a chover deixa qualquer pessoa sorumbática...A semana passada fui a uma conferência a Boston (Massachussets, EUA) e apesar de nunca lá ter estado antes, senti como um regresso a casa. Quem sabe se não decida, um dia, responder ao chamamento e regressar aos EUA...

5 comentários:

António Alves disse...

Olhem, até eu - que já não sou nenhum menino - ando com ideias. Inscrevi-me na Eurostar (comboios do túnel da Mancha)para o que der e vier. Se pintar (o que seria óptimo, mas pouco provável), deserto! Isto por cá está deprimente.

Jose Silva disse...

Pois.

O meu irmão tem 36 anos. Começou em Novembro a trabalhar numa empresa Suiça. Foi ganhar o triplo do que ganhava na Quimonda. Viagens aos fins de semana pagas...

Caesar disse...

É o maior pesadelo do norte de Portugal. Quem tem poucas habilitações emigra em busca de emprego (Galiza, Holanda, Suíça,...). Quem possuiu alto nível de qualificação também emigra (Inglaterra, Irlanda, USA, Canada,...) porque não existe oferta de emprego digna na sua área.
Se a situação não melhorar, nos próximos tempos, a minha alma gémea e eu, "aviamos" malas também.
Esta situação está a condicionar o futuro do norte, porque no fim quem é que fica? Os que entram à custa de cunhas? Os desgraçados que trabalham noite e dia, e a maioria não se apercebe que estão a ser explorados? Ou os exploradores que só se preocupam consigo próprios...
Talvez esteja a ser demasiado pessimista...

Jose Silva disse...

Caro Cesar,

Não quer passar a escrever no Norteamos ? Responda PF para norteamos@gmail.com

PF não encare com tanto pessimismo a emigração. POde ser que seja proveitosa e temporária.

CCz disse...

A emigração é uma decisão pessoal. Contudo, quando atinge uma massa crítica de pessoas, é uma autêntica bofetada dada na cara dos defensores do sistema político.

Basta ouvir o ministro do trabalho a regozijar-se com a evolução do desemprego e, no mesmo dia, ler no JN que só no ano passado inscreveram-se na Segurança Social espanhola (empregaram-se) cerca de 20 mil portugueses. Se a estes juntarmos os que vão para o el dorado angolano, para a Alemanha e ... fica tudo explicado.

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