20071220

A realidade é sempre mais fascinante que as cabalas: ou mais um (o fiscalista) a juntar a àquele para quem em política vale tudo (Pacheco)

Publicado no Blasfémias por Helena Matos

LUSA - O ex-líder socialista Ferro Rodrigues reafirmou hoje a tese da "cabala" para o seu envolvimento no caso Casa Pia e disse só ter acreditado que o seu nome andava na baila depois de falar com o fiscalista Saldanha Sanches.
Eduardo Ferro Rodrigues, que hoje testemunhou no julgamento do caso Casa Pia, arrolado pelos arguidos Carlos Cruz e Carlos Silvino ('Bibi'), disse que, depois do escândalo ter eclodido, em Novembro de 2002, várias pessoas lhe contaram - inclusive a mulher - que o seu nome estava a ser 'atirado' para a opinião pública, mas que achou a "coisa absurda".
«O momento em que fiquei verdadeiramente espantado e tomei medidas de protecção dos dirigentes socialistas foi quando Saldanha Sanches [marido da procuradora do Ministério Público Maria José Morgado] foi à sede do PS dizer que o nome de Paulo Pedroso e o meu tinham sido relatados no processo», afirmou o actual embaixador de Portugal na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).


Questionado pelo advogado de Carlos Silvino, José Maria Martins, sobre o motivo pelo qual só passou a acreditar depois de conversar com Saldanha Sanches, o ex-secretário-geral socialista afirmou que o fiscalista se «movimenta bem nos meios fiscais e judiciais» e que, por isso, «a informação seria fidedigna».
Instado por que, na qualidade de líder do PS e candidato a primeiro-ministro, não avisou Saldanha Sanches de que estava a violar o Segredo de Justiça, Ferro Rodrigues afirmou que, «a partir do momento que teve conhecimento de acusações a pessoas inocentes», a sua preocupação foi de «informar da gravidade da operação que estava em causa».
Ferro Rodrigues justificou assim os vários telefonemas [que constam das escutas telefónicas no processo] para altos dirigentes socialistas aquando do escândalo e da prisão do deputado socialista Paulo Pedroso, a carta enviada ao então Procurador-Geral da República, a relatar as informações e a pedir acesso aos depoimentos dos que o acusavam, e os contactos com o Presidente da República Jorge Sampaio.
Ferro Rodrigues disse que foi uma «atitude de autodefesa» e garantiu que nunca tentou pressionar os meios judiciais ou a magistratura.
Em tribunal, o ex-líder socialista avançou como explicações do seu envolvimento e de Paulo Pedroso, bem como de outros nomes do PS, no processo uma lógica judicial e outra política.
«Não quero entrar numa lógica de especulações, mas poderá haver uma explicação judicial de alguém que estivesse preso ou pudesse vir a ser preso querer instrumentalizar a investigação e a hipótese política, para decapitar a liderança política do maior partido da oposição, considerada demasiado à esquerda», afirmou.


No meio disto tudo a reacção de Ferro Rodrigues é provavelmente o que existe de mais lógico e foi aos tribunais que coube avaliar da fundamentação dessas acusações.
Outra coisa a merecer discussão é o comportamento de Saldanha Sanches que foi à sede do PS dar informações a que terá tido acesso provavelmente por razões familiares.

Por fim fiquei com uma dúvida sobre a tese da cabala: Ferro Rodrigues fala da decapitação duma «liderança política do maior partido da oposição, considerada demasiado à esquerda».
Mas essas liderança «considerada demasiado à esquerda» era prejudicial para quem? Para o governo de então ou para o maior partido da oposição? Quem perdia e quem ganhava com a manutenção dessa liderança?

2 comentários:

Jose Silva disse...

António,

Há uma grande propensão para os lisboetas usarem de dupla ética. Aliás, o etnocentrismo é uma características das sociedades com suecesso ou com «sucesso». Por outro lado ainda pensam que dominam a esfera comunicacional, isto é, podem manipular que o povo aceita serenamente. Ainda não perceberam que agora à Blogosfera e o centro não é o único emissor de opinião...

Por isso há que Nortear !

Jose Silva disse...

«há a Blogosfera»

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