A Barragem do Tua parece ter linha verde como se depreende do artigo de hoje do Público com o genérico "Barragens hidroeléctricas já não são propriedade do Estado". No desenvolvimento pode ler-se que as obras poderão iniciar-se dentro de um ano e "a barragem de Foz Tua será a primeira a avançar(...), publicar-se-á um edital alertando para outros potenciais interessados. Caso apareçam, a eléctrica portuguesa (EDP) tem direito de preferência se igualar a oferta da concorrência."
No destaque lê-se ainda "Face às críticas sobre esta barragem, que inunda a Linha do Tua (:::) foi decidido reduzir a cota da albufeira para 170 metros, o que permite salvaguardar a linha situada a norte da estação de Brunheda, reduzindo em 15 quilómetros o troço de linha afectada. Descendo para os 160 metros, manter-se-iam mais sete quilómetros. Mesmo assim, a ligação desta linha à do Douro é interrompida e a parte mais interessante é inundada.".
Pergunta-se, para que serve um troço de linha-férrea que vai dar a uma barragem? Esta solução, a modos de salomónica, é ridícula, não servirá mais do que sossegar as más consciências e atirando areia para os olhos dos opositores dizer-se que se conseguiu algo, quando o resultado é uma mão cheia de nada..
No destaque lê-se ainda "Face às críticas sobre esta barragem, que inunda a Linha do Tua (:::) foi decidido reduzir a cota da albufeira para 170 metros, o que permite salvaguardar a linha situada a norte da estação de Brunheda, reduzindo em 15 quilómetros o troço de linha afectada. Descendo para os 160 metros, manter-se-iam mais sete quilómetros. Mesmo assim, a ligação desta linha à do Douro é interrompida e a parte mais interessante é inundada.".
Pergunta-se, para que serve um troço de linha-férrea que vai dar a uma barragem? Esta solução, a modos de salomónica, é ridícula, não servirá mais do que sossegar as más consciências e atirando areia para os olhos dos opositores dizer-se que se conseguiu algo, quando o resultado é uma mão cheia de nada..
5 comentários:
A propósito de «quando o resultado é uma mão cheia de nada...»
Então Pedro Menezes Simoes? Já viu o vídeo?
Money as Debt
Gostava que o comentasse.
Já vi, e irei comentar. Mas embora pretenda fazer um comentário curto, temo que me demore algum tempo a fazê-lo (porque implica rever certas partes), tempo de que não disponho hoje. Amanhã terá a sua resposta. Cumprimentos.
Apenas deixo este comentário para dar os parabéns ao (seus???) autor do blog.
Desde que o descobri, através do Bussola, que sigo com muita atenção os posts que são aqui deixados.
Parabéns ao seu (seus???) autor,
Fernando Pereira
Pois é. É preciso fazer algo pela linha do Tua.
Caro Diogo,
Já vi o documentário. Compreendo a sua apreensão, mas asseguro-lhe que o documentário tem inexactidões críticas. Aliás, há um momento em que o documentário entra em auto-contradição, precisamente no aspecto mais fulcral. Mas vamos por partes.
O documentário afirma que os bancos podem criar dinheiro para crédito. Como o fazem? Segundo eles, o banco, ao criar o crédito (activo do banco), pede uma garantia, e utiliza essa mesma garantia como depósito (passivo do banco).
Ora, isso é algo que os bancos simplesmente não podem fazer. Como não tenho os elementos legais que me permitam provar esta afirmação, e para evitar a anterior discussão de que eu digo que não é possível, e o Diogo diz-me que é possível, vou utilizar o seguinte procedimento para demonstrar que tenho razão. Primeiro, explicarei qual é o verdadeiro processo. Depois, evidenciarei um conjunto de factos facilmente comprováveis, e que não seriam possíveis caso o processo não fosse o q ue eu descrevi, mas o do documentário.
O que eu afirmo é que os bancos não podem criar dinheiro. Não podem emprestar dinheiro que não têm.
1- O activo dos bancos é composto por imobilizado do banco, pelo crédito concedido a particulares e empresas, pelas aplicações do banco (i.e. crédito a outras sociedades financeiras, ou seja, a outros bancos), e pelas reservas. O conjunto dos passivos é composto pelo capital dos accionistas (capital próprio), pelos depósitos dos clientes, e pelo crédito pedido a outros bancos.
2- Se o documentário tivesse razão, então o conjunto dos passivos do banco seria composto pelo capital dos accionistas, e pelas garantias prestadas pelos clientes aquando da cedência de crédito. Poderia ainda haver um valor reduzido de depósitos, mas muito diminuto (inferior a 10% do valor do crédito concedido), mas em caso algum haveria dívidas a outros bancos (porque motivo teria o banco que se endividar?)
3- Decorre do anterior que os bancos não teriam grande interesse em captar depósitos dos clientes. Nomeadamente, depósitos a prazo, uma vez que os depósitos à ordem seriam suficientes para cobrir as necessidades para concessão de crédito. Mais, porque motivo haveriam os bancos de pagar taxas de 3%, 4% ou mesmo 10% para captar depósitos? Não haveria motivo. Porque motivo estariam os bancos em competição para captar depósitos? Por nenhum, pois não precisariam de depósticos para nada.
4- O documentário responde a esta questão afirmando que os bancos teriam uma obrigação de ter em depósitos à ordem de clientes um valor superior a 10% do crédito concedido. Ups…erro fundamental…se os bancos precisam de mais 10% de DO do que crédito, então isso significa que teriam em caixa o dinheiro necessário para emprestar. Mas que não emprestavam esse, mas um outro dinheiro "criado". Mas no entretanto, precisavam de retirar de circulação 1,1x o dinheiro que teriam criado. Significaria na verdade, uma taxa de reserva de 110%, e não de 10%... Mas adiante, vamos ignorar o cício fundamental deste argumento. Ainda assim, não é verdade o que é afirmado. De todos os 5 maiores bancos portugueses, apenas a CGD tem mais DO do que crédito concedido. Ou seja, não é verdade que os bancos necessitem tanto dos depósitos de clientes.
5- Porque podem "criar" dinheiro? Não. Porque podem pedí-lo emprestado a outros bancos. O que nunca fariam se pudessem criar dinheiro. Mas fazem. Já ouviram falar na Euribor? A Euribor é a taxa de empréstimo interbancária, i.e., a média das taxas praticadas nos empréstimos entre bancos. Mais, conhecem o conceito de spread? O spread é a receita do banco (que serve para cobrir a margem de lucro, o custo de oportunidade da reserva, e o custo do risco de crédito). Se os bancos criassem o seu dinheiro, porque motivo ter taxas indexadas? Se os bancos criassem dinheiro as taxas seriam exactamente iguais aos spreads agora praticados.
6- Aliás, indexadadas a quê? Quanto muito indexadas às taxas directoras dos bancos centrais. Mas, se o banco pode criar dinheiro para emprestar ao banco central, porque não emprestar dinheiro "criado" ao banco central, onde nem sequer existe risco de crédito? Ou, mesmo que não pudessem emprestar dinheiro ao banco central, porque motivo pediriam dinheiro emprestado a este? Como é que as taxas definidas por este teriam qualquer impacto na actividade dos bancos? Simplesmente não teriam.
7- O banco tem que manter em depósito um valor que representa parte do valor emprestado. Uma reserva de 10% significa que para um empréstimo de 100€, o banco tem que manter em depósito 10€. Ou seja, é dinheiro que não pode emprestar a ninguém (excepto aos bancos centrais). Significa isto que tendo um depósito de 10€, o banco pode "criar" 100€? Não. O banco tem agora que pedir 100€ emprestados. Sim: 100€! Não 90€, porque 10€ já estão usados como reservas. E pode pedí-los emprestados a outros bancos, ou aos seus clientes (depósitos). Os bancos preferem pedir dinheiro emprestado aos clientes porque é mais barato que pedir emprestado aos outros bancos. Há um motivo simples. Supondo que eu pago 4% de juros aos meus depositantes, só estarei disposto a emprestar a pelo menos 4,4% a outros bancos, pois tenho que fazer uma reserva de 10% (e o banco a quem emprestei só o fará a 4,8%, pois também teve que fazer uma reserva). Note-se que em nenhum momento entrei em contradição com o que disse no ponto 4.
8- Pode-se dizer a coisa de outra forma. Se tiver 100€ de depósitos, posso emprestar ~90€. Estes 90€ serão re-depositados no sistema bancário, onde darão origem a um empréstimo de 81€, e daí por diante. Aqui estamos de acordo. Existe um factor de multiplicação da massa monetária em resultado da actividade dos bancos. Neste caso, é um multiplicador de 10x.
9- Mas se os bancos pudessem criar dinheiro da forma como é dito, o multiplicador do crédito não seria 10, mas infinito. Se o banco tem 100 e pode emprestar 1000, e se alguém depositar estes 1000 noutro banco e este pode criar 10.000, e assim por diante o dinheiro é infinito. Tendo em conta que a inflacção relaciona-se fortemente com o volume de massa monetária, a inflacção seria infinita (ou algo próxima da do Zimbabué: 15.000%, onde o banco central emite dinheiro de forma contínua). Porque motivo não é? Porque os bancos não podem "criar" dinheiro. É verdade que a actividade dos bancos aumenta a massa monetária em circulação. Mas a sua capacidade de fazer isto é limitada tanto pelo valor das reservas, como pelo preço que têm que pagar pelo dinheiro. Ou seja, uma taxa do banco central mais alta significa que o dinheiro fica mais caro para os bancos, que o repercutem para os clientes, reduzindo assim a procura de crédito. Por outro lado, as taxas de reserva limitam o factor multiplicativo dos depósitos, como vimos atrás. Quando os bancos centrais querem restringir drasticamente a massa monetária, obrigam ao aumento das taxas de reserva (e indirectamente ao preço do crédito, como vimos no ponto 7. Uma taxa de 20% passaria a taxa interbancária de 4,4% para 4,8% e a dos empréstimos a clientes para 5,3%).
10- Assim, tendo em conta que a inflação não é infinita, que existem taxas de empréstimos interbancários, que existem taxas directoras dos bancos centrais, que os bancos não pagam valores residuais pelos depósitos a prazo, que existem spreads indexados a taxas interbencárias, etc., a conclusão só pode ser uma: os bancos não podem utilizar as garantias prestadas pelos clientes como equivalente a depósitos. Ou seja, os bancos não podem "criar" dinheiro.
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