O meu amigo, e sempre bem informado, Dario Silva enviou-me estes dados referentes ao número de veículos automóveis segurados em Portugal. E isto a propósito de quê? A propósito do aumento dos preços dos combustíveis, obviamente. Pelo que podemos ver, existiam em Portugal, no ano de 2006, 4.206.618 veículos ligeiros segurados. O que dá, grosso modo, um automóvel para cada 2,46 portugueses. Na realidade dá uma média de 1 automóvel para cada 1,9 portugueses adultos. Incluindo, obviamente, os que não conduzem, não usam o automóvel, ou já não têm idade, por serem muito idosos, para conduzir. Daqui não viria qualquer mal ao mundo. Poderia até ser um sinal de riqueza e bem estar. Mas não é. Para milhões de portugueses a posse de um automóvel é a única forma de se deslocarem eficientemente na sua vida quotidiana. Há também muito comodismo e paradigmas culturais errados associados a esta realidade. Mas, julgo, não invalidam a desmesurada dependência de milhões de cidadãos do transporte particular. A tudo isto devemos acrescentar a também excessiva servidão das empresas ao transporte rodoviário por camião.
A escalada dos preços dos combustíveis, que não é conjuntural, e mesmo depois de corrigida a momentânea especulação, é um fenómeno que veio para ficar, coloca em causa toda esta realidade socioeconómica. O tempo da energia barata acabou. Muitos orçamentos familiares estão a rebentar pelas costuras. Às galopantes subidas das prestações mensais do crédito à habitação somam-se as cada vez maiores despesas com combustíveis. Para muitos é o descalabro. Conheço famílias a gastar 500 euros de combustíveis mensalmente.
Abordo este assunto na sequência do debate de ontem na SIC entre os candidatos à liderança do PSD. Acerca deste tema, um queria baixar o ISP, outro constituir um fundo, um outro baixar o IVA, o quarto nem sequer percebi bem o que propunha. Tudo medidas paliativas. Aspirinas que aliviam momentaneamente a dor de cabeça mas não curam nada. Nenhum deles propôs, por exemplo, levar para a frente, com carácter de urgência, o alargamento das redes de metro do Porto e de Lisboa (duma vez por todas em irrepreensível paridade), o arranque definitivo do metro em Coimbra, a implementação de uma rede de caminho de ferro ligeiro no Minho e a correcção do traçado da Linha algarvia de modo a que sirva eficazmente todo o seu litoral; a construção de uma ligação ferroviária moderna da Região Norte a Espanha e Europa para que a nossa indústria exportadora possa reduzir os custos associados à nossa condição periférica e diminuir a sua dependência do camião; ou então a promoção do uso do transporte público através de compensações fiscais (porque raio eu não posso descontar os 280 euros anuais que gasto na aquisição do meu passe mensal no IRS?); e também o anúncio de medidas que promovam o regresso das pessoas ao centro das grandes cidades, financiado a sua recuperação urbanística e aumentando a oferta de habitação a preços comportáveis, passando estas a residir mais perto do seu local de trabalho. A solução passa por preparar o país para que a maioria das pessoas possa dispensar o uso dos automóveis nas suas quotidianas deslocações entre a casa e o emprego/escola. As famílias poupariam milhares de euros anuais. Todo esse fluxo monetário poupado seria mais bem empregue na compra de alimentação (também cada vez mais cara), cultura e lazer. Todos viveríamos melhor e a economia ganharia com isso. Seria mais diversificada. A malta do lóbi automóvel teria que mudar de ramo porque a quantidade de dinheiro manter-se-ia a mesma, apenas seria aplicada noutro tipo de bens. Os impostos sobre os combustíveis devem ser baixados apenas nas duas actividades económicas cada vez mais fundamentais: a agricultura e as pescas. Acreditem: estamos a entrar numa era de regresso ao básico e fundamental.
Obviamente que nenhum dos postulantes a líder do PSD se lembrou de falar nestas coisas. Também ninguém esperaria tal de um conjunto de pessoas que toda vida foi funcionária pública ou político profissional. Pareciam quatro candidatos a ‘ministro da gasolina’. Mas este mal não é exclusivo do PSD.
A escalada dos preços dos combustíveis, que não é conjuntural, e mesmo depois de corrigida a momentânea especulação, é um fenómeno que veio para ficar, coloca em causa toda esta realidade socioeconómica. O tempo da energia barata acabou. Muitos orçamentos familiares estão a rebentar pelas costuras. Às galopantes subidas das prestações mensais do crédito à habitação somam-se as cada vez maiores despesas com combustíveis. Para muitos é o descalabro. Conheço famílias a gastar 500 euros de combustíveis mensalmente.
Abordo este assunto na sequência do debate de ontem na SIC entre os candidatos à liderança do PSD. Acerca deste tema, um queria baixar o ISP, outro constituir um fundo, um outro baixar o IVA, o quarto nem sequer percebi bem o que propunha. Tudo medidas paliativas. Aspirinas que aliviam momentaneamente a dor de cabeça mas não curam nada. Nenhum deles propôs, por exemplo, levar para a frente, com carácter de urgência, o alargamento das redes de metro do Porto e de Lisboa (duma vez por todas em irrepreensível paridade), o arranque definitivo do metro em Coimbra, a implementação de uma rede de caminho de ferro ligeiro no Minho e a correcção do traçado da Linha algarvia de modo a que sirva eficazmente todo o seu litoral; a construção de uma ligação ferroviária moderna da Região Norte a Espanha e Europa para que a nossa indústria exportadora possa reduzir os custos associados à nossa condição periférica e diminuir a sua dependência do camião; ou então a promoção do uso do transporte público através de compensações fiscais (porque raio eu não posso descontar os 280 euros anuais que gasto na aquisição do meu passe mensal no IRS?); e também o anúncio de medidas que promovam o regresso das pessoas ao centro das grandes cidades, financiado a sua recuperação urbanística e aumentando a oferta de habitação a preços comportáveis, passando estas a residir mais perto do seu local de trabalho. A solução passa por preparar o país para que a maioria das pessoas possa dispensar o uso dos automóveis nas suas quotidianas deslocações entre a casa e o emprego/escola. As famílias poupariam milhares de euros anuais. Todo esse fluxo monetário poupado seria mais bem empregue na compra de alimentação (também cada vez mais cara), cultura e lazer. Todos viveríamos melhor e a economia ganharia com isso. Seria mais diversificada. A malta do lóbi automóvel teria que mudar de ramo porque a quantidade de dinheiro manter-se-ia a mesma, apenas seria aplicada noutro tipo de bens. Os impostos sobre os combustíveis devem ser baixados apenas nas duas actividades económicas cada vez mais fundamentais: a agricultura e as pescas. Acreditem: estamos a entrar numa era de regresso ao básico e fundamental.
Obviamente que nenhum dos postulantes a líder do PSD se lembrou de falar nestas coisas. Também ninguém esperaria tal de um conjunto de pessoas que toda vida foi funcionária pública ou político profissional. Pareciam quatro candidatos a ‘ministro da gasolina’. Mas este mal não é exclusivo do PSD.
3 comentários:
Excelente texto, com o qual concordo.
Alguns dados sobre o fantástico mundo rodoviário que não dá prejuízo a ninguém disponíveis em http://www.isp.pt/NR/exeres/5378CF72-A45A-41ED-AD50-0275C4DDFB4F.htm
Não dá prejuizo, apenas tem custos ciclópicos suportados amigavelmente pelos portugueses, convencidos que estão que as estradas são um dado adquirido, um facto consumado, uma benesse dos céus, perene, gratuita e benfazeja.
Dario Silva.
gostei, gostei. faltou apenas falar na responsabilidade dos governos no desgorveno urbanístico que marcaram os territórios até agora, e que definiram esta dependência do automóvel. de resto, muito bem.
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