20081129

Metro do Porto assume erro de planeamento

Efectivamente, Abel Coentrão, no Público de hoje, acerta: A implementação das novas composições significa assumir que a linha para a Póvoa deveria ser servida por um sistema suburbano:

Os 60 quilómetros de extensão da rede de metro do Porto costumam ser usados como demonstração da capacidade realizadora da empresa e dos autarcas que, quando passaram a liderar o projecto, conseguiram que ele avançasse até ao que hoje é: um meio de transporte de sucesso, com cada vez mais utilizadores. Sendo isso verdade, acontece que essa mesma extensão impede, ao mesmo tempo, que o sucesso deste empreendimento seja bem maior, como se pode perceber pela menor procura nas linhas B e C, e mesmo no troço da A entre as estações Vasco da Gama e Senhor de Matosinhos.

A procura até tem aumentado nestas linhas, mas a taxa de ocupação continua a ficar, em grande parte do dia, aquém daquilo que seria expectável numa rede de metro. O que não espanta. Qualquer especialista em transportes - e as opções para a segunda fase assim o demonstram - tem esta opinião: se tivéssemos num raio de dez quilómetros a partir do centro do Porto uma rede densa de linhas, com 60 quilómetros de extensão total, os números ultrapassariam, e muito, o recorde de 5,2 milhões de validações registadas pela empresa de Outubro.

Mas não é este o caso. Em relação às linhas B e C, ou Vermelha e Verde, a Metro herdou canais de comboio em via única nas quais a dona, então a CP, não queria, ou não podia, investir, o que lhe poupou algum tempo e dinheiro, mas condicionou todo o desenho da primeira fase. Por culpa desta opção é que existe o famoso "estrangulamento" no Troço Senhora da Hora-Trindade, por onde passam composições de três em três minutos, sendo quase impossível, se necessário, aumentar a oferta.

Também por culpa desta opção é que, de repente, quem na antiga Linha da Póvoa viajava num comboio razoável para o padrão da época no sistema ferroviário português se viu confrontado com a hipótese de passar a ter, em troca, um moderno metro, com janelas imensas. O ideal para ver calmamente a paisagem, numa viagem ainda mais demorada, menos confortável e com o dobro das paragens.

Não fossem os protestos dos utentes, os autarcas que os souberam ouvir e a percepção do antigo gestor da Metro, Oliveira Marques, e esse seria o retrato actual. Mas ainda a nova linha B nem estava construída, e o projecto foi sendo submetido a sucessivas alterações. Duplicou-se uma via que no projecto se previa simples, montou-se uma operação com serviço de metropolitano - em mais de 30 quilómetros!! - ao qual se acrescentou um serviço expresso, mais rápido, a parar em quatro estações entre a Póvoa e Senhora-da-Hora, e, posteriormente, anunciou-se a compra dos famosos tram-train, que esta semana começaram a ser testados.

Os tram-train são, no fundo, a imagem do que é esta linha. Não são comboio, nem são metro. Mas a linha B, essa é cada vez menos uma linha de metro, como o demonstra a opção de duplicar a partir de Janeiro a oferta de expressos, a parar nas estações de maior procura, suprimindo um dos três serviços que, em cada hora, paravam em todas as estações. Ainda que isto ainda não seja equivalente à oferta de um verdadeiro comboio suburbano, estas medidas da Metro são uma forma silenciosa de ir corrigindo um erro de base. A bem dos utentes.

Há formas de corrigir este erro: Colocar o CVE Porto-Minho-Vigo a passar pela linha Vermelha e parar no ASC.

6 comentários:

Nuno Gomes Lopes disse...

por favor. a linha da Póvoa sempre foi prevista em via dupla. tudo o que possam dizer em contrário é mentira. e o que estava previsto era que, quando a operação chegasse à Póvoa, os tram-train já estivessem a circular. tal não aconteceu porque o governo da altura adiou o concurso e impossibilitou assim a abertura de outro concurso a tempo.

pelos vistos este é o blogue das meias-notícias e das meias-verdades. continuará assim durante muito tempo? mais uma vez José Silva, o incansável especialista em transportes públicos, a ter a palavra.

António Alves disse...

caro G,

por acaso o que diz não é verdade. inicialmente a linha da póvoa era para manter a via única. isso é facto conhecido e reconhecido por todos. mas não é essa a questão. a questão é: deve um metro substituir-se ao comboio suburbano?

a resposta é obviamente não. embora os condicionalismos políticos e estratégicos levassem - e bem, na minha opinião - à inclusão da linha da póvoa na rede de metro do porto (foi uma via rápida e eficaz de colocar as coisas no terreno e pressionar o centralismo governamental a investir no projecto sob pena de graves consequências eleitorais), hoje, e a introdução dos tram-train assim o fundamenta, deve-se avançar para um outro patamar: iniciar a construção do sistema ferroviário ligeiro do cávado/ave conectado à rede ferroviária nacional e à rede de metro do porto. para isso deve-se começar por reactivar a ligação póvoa-famalicão, ligar esta localidade a guimarães, esta cidade a braga,continuar até barcelos, ligar barcelos a esposende, e daqui fechar o arco na póvoa. os comboios da póvoa em direcção ao porto terminariam na senhora da hora, podendo nas hosras de ponta estender-se até à trindade. helas!! hei-de elaborar um trabalho fundamentado sobre isto.

Nuno Gomes Lopes disse...

concordo com as ideias que António Alves desenvolve sobre ligações ferroviáris no Minho, mas reafirmo, e por favor não insistam mais nisto: os tram-trains foram os veículos originais escolhidos para circular na linha da Póvoa, só que quando o metro chegou à Póvoa ainda não estavam disponíveis, pelas razões que expliquei antes. e, por isso, tiveram de usar os veículos que já estavam em circulação. afirmar qualquer outra coisa é revisionismo.

quanto à via dupla ou não, quando se faz um projeto analisam-se várias alternativas. da mesma maneira que terão analisado a hipótese de manter a linha da Póvoa até à Trindade, ou fazê-la parar na Senhora da Hora, também equacionaram mantê-la como via única. admito que terão equacionado. mas isso foi no tempo da maria cachucha. entre isso (projeto) e a obra em si não houve grandes equívocos.

e quanto à eficácia ou não do modelo escolhido, só me pronuncio quando o modelo original estiver a funcionar - apenas tram-trains a circular. até lá, é esperar.

Jose Silva disse...

Caro G,

De facto as opiniões neste blogue incomodam muita gente.

Paciência.

Nuno Gomes Lopes disse...

é. eu quando vejo mediocridade fico assim. incomodado.

Jose Silva disse...

G, tem que se queixar ao provedor do leitor do Público.

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