O Público de hoje publica um direito de resposta da direcção do JN, abaixo apresentada. O JN desculpa-se, defende-se. Porém não refere o obvio: Apesar de legítimo por ser uma empresa privada, o JN estava completamente «lisboatizado» até à compra da Lusomundo por Joaquim Oliveira. É certo que não faltava circo para o Norte, casos de polícia, futebol, tragédias ou bailaricos. O grave é que desprezava os assuntos relativos ao desenvolvimento do Norte ou concentração de Portugal em Lisboa. Eu posso afirma-lo porque durante bastantes anos fui doentiamente leitor do JN dos Domingos. Relembro que por essa altura fechou a NTV, o Comércio do Porto e o back-office do Público foi para Lisboa . O JN teria medo... Após Joaquim Oliveira, o cenário mudou. Aliás, a própria TSF é agora muito mais nacional, racional e reporta inclusivé temas de fora de Lisboa e Porto. Esta versão lisboeta do JN e o ter conseguido sobreviver apesar disso é de realçar. É mais um indicador do estado de anestesia futeboleira ou estado de contaminação pela política sem coragem/«privatizadora»/sem desígnio de Rio, em que a sociedade civil portuense viveu desde o referendo da Regionalização até à emergência da Blogosfera e de Rui Moreira. Assim, ao não referir esta questão, a desculpa do JN é mesmo para inglês ver. Um assunto a debater logo na 2ª sessão dos Olhares Cruzados sobre o Porto, conjuntamente com os tópicos que ontem apresentei, assim como o mistério de apenas a AMPorto não possuir a sua InternetTV, ao contrário do resto do Norte.
Direito de Resposta
Sim, vivemos num país em que as pessoas lêem menos do que o que deviam. Sim, o modelo centralizador do Estado, numa sociedade tão dependente dele, concentra em Lisboa o poder político, económico, a opinião pública, os principais actores culturais e muitas das forças mobilizadoras da nossa vida em comunidade. O Porto, o Norte, justamente aspiram a um país mais equilibrado, em recursos e em oportunidades, mas não têm conseguido opor uma dinâmica que contrarie esta realidade empobrecedora. Sim, a crise económica, a debilidade dos actores políticos, o eclipse das elites, a falta de um enunciado claro de objectivos para a região, reflecte-se também na perda de influência da comunicação social local. Mas, perante tão adverso cenário, tentar minorar o papel do Jornal de Notícias, que, contra a lógica estabelecida, continua a ser o principal órgão de imprensa nesta região, mantendo-se nos lugares cimeiros de audiência e de vendas a nível nacional, ou é cegueira, ou é pulsão suicida.
A professora Helena Lima, num artigo no PÚBLICO, que introduzia o interessante debate que este jornal leva hoje a efeito sobre a Comunicação Social no Porto, foi ao ponto de, para sustentar a alegada perda de presença dos assuntos regionais nas páginas do JN, afirmar que, durante 2003, o jornal publicou "zero" manchetes sobre o Porto. Não é verdade. Numa rápida leitura, de um ano dominado pela Guerra do Golfo, o processo Casa Pia e a vitória do F.C. Porto na Champions, encontramos pelo menos 25 manchetes com matérias sobre o Porto e 32 em que assuntos das regiões Norte e Centro (a área de predominância do jornal) foram o título principal, isto sem contar com o Desporto. Mas não chega esta leitura superficial. Uma primeira página é um manancial de soluções e as nove dezenas de imagens em que temas desta região foram a principal fotografia da primeira (o maior espaço gráfico desta página) deveriam contar para alguma coisa, ou será que estes números não encaixam na "teoria"?
Também o ex-director d"O Comércio do Porto, Rogério Gomes, em anterior análise, veio afirmar que quem quer publicar artigos atacando o centralismo ou defendendo a regionalização nas edições nacionais da imprensa portuguesa tem de "mendigar espaço".
Somos um jornal que se orgulha de dar relevância ao noticiário de proximidade, mas que não abdica de dar aos seus leitores uma leitura do país e do mundo, porque estamos certos que ele quer um jornal inteiro, que lhe permita melhor perceber decisões e acontecimentos que têm influência na sua vida, apesar de não ocorrerem na região onde vive. Ver nisto a "lisboetização" do JN é pretender um estatuto de menoridade para os cidadãos que nos escolhem como fonte de informação.
Sim, é verdade que todos nós temos razões de queixa do centralismo da capital, e muito gostaríamos de que o modelo espanhol, de forte imprensa regional e de jornais nacionais com muitas edições locais, também vingasse em Portugal. Mas ainda não vivemos em Espanha. Podemos, perante isto, afinar o coro da desgraça e dar como perdida a afirmação do jornalismo feito a partir do Norte, ou podemos, como faz o JN, como fazem muitos jornalistas que trabalham no Porto e no Norte, lutar todos os dias por tentar contrapor uma outra à visão, à perspectiva, dominante no país. Que o JN consiga fazer isso, à sua maneira, mantendo-se nos lugares cimeiros de vendas e audiências, parece incomodar alguns e inscreve-se num discurso de rendição que não vê que a região tem ainda, no seu interior, muitos valores positivos e alguma força para tentar contrariar o actual declínio. É pena, porque negar a realidade nunca foi boa estratégia para a alterar. A Direcção do Jornal de Notícias
3 comentários:
Caro José Silva,
Qual é a característica comum às entidades que directa ou indirectamente refere no seu post(com o qual concordo na generalidade)?
JN
TSF
NTV
Porto Canal
Univ. Católica Porto/Público
Associação Comercial do Porto
É que estas são entidades que fazem parte da sociedade civil portuense, as verdadeiras forças vivas que deverão ser a base da nossa região. Desejo que a minha região se caracterize por um espirito liberal e independente em que não temos de depender do Estado e das suas benesses, libertando-nos dos humores dos políticos e da sua "boa-vontade" na distribuição de beneficios.
Por isso estar à espera que o Estado (governo, autarquias ou regiões administrativas) sejam o motor do desenvolvimento de uma região é o maior erro e a maior garantia de que o centralismo e a macrocefalia crónica de que Portugal padece se mantém ao serviço dos senhores do costume.
Cumpts,
Luis Filipe Pereira
Caro LFP,
Concordo consigo, não depender do Estado local/regional/central, desde que a regra seja uniforme e que esse argumento não seja para privatizar para amigos a preço de saldo. Ora, isto não se verifica. O Estado Central apoia uma certa região, mais do que as outras e privatiza serviços que beneficiam certos amigos. Se lêr com atençao o Norteamos encontrá muitos exemplos.
Caro Luis,
Obrigado pelo comentário. O senhor encarna o bom espírito portuense que tanto têm tentado destruir.
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