Reflexão 1: A afirmação do Douro como pólo turístico assenta na sua integração e complementariedade com o Porto/Gaia. Esta integração é temática (vinho e rio), e é feita fundamentalmente através das experiências de deslocação entre pontos - cruzeiros (o Douro é totalmente navegável até à fronteira) e comboio (a linha só vai até ao Pocinho). A viagem típica é ir de cruzeiro e regressar de comboio (ou o contrário). Logo, há incentivo aos cruzeiros a ir só até onde for o comboio (embora muitos já vão até Barca D'alva). Logo, mais quilómetros de comboio significa estadias mais longas, mais terras visitadas, mais experiências.
Os cruzeiros no Douro que chegam a Barca de Alva. Com a linha aberta, poderia
chegar gente do Porto a caminho de Madrid e vice-versa. Onde há trânsito há
movimento, onde há movimento há riqueza.
Reflexão 2: Logo, mais dinheiro é gasto nas terras onde o comboio pára e onde a pouca animação é alimentada pelo turismo. O turismo acaba por alimentar o conteúdo turistico. Dificilmente um Hotel se quer instalar para lá do Pocinho.
Reflexão 3: Sendo Portugal um país pequeno, a possibilidade de atrair os turistas espanhóis é essencial, pois permite criar massa crítica turistica interna. Esta é essencial para sustentar os eventos para promover a região, bem como para assegurar rentabilidade para hóteis de charme destinados aos "estrangeiros ricos", mas que necessitam de alguns ibéricos para garantir uma afluência mínima bem como reduzir a sazonalidade.
Reflexão 4: O lado português é muito mais interessante que o lado espanhol. Logo, nesta "troca de turistas", em que ambos ficamos a ganhar (porque significa "ter conteúdo para mais dias", e não "ter que repartir os mesmos dias com os espanhóis"), seguramente o lado português ficará a ganhar mais, desde que tenha o profissionalismo e sofisticação necessários.
O que parece ser ponto assente nos dois países é que a recuperação e a exploração da via-férrea terão de passar por entidades privadas, ou parcerias público-privadas. Acontece que, por enquanto, os poucos privados que já deram sinal estão disponíveis, apenas, para explorar a linha depois de estar recuperada. Um empresário da Catalunha manifestou já o seu interesse na Linha do Douro à "Camiño de Hierro". O presidente da Câmara de Foz Côa, Emílio Mesquita, confirma esse contacto "A empresa quer responsabilizar-se pelo material circulante e pela conservação da linha, mas não pela sua recuperação", disse.
Para a presidente da Diputación de Salamanca, Isabel Jiménez, as
autoridades dos dois países devem preocupar-se primeiro em concentrar esforços para reabilitar a estrutura; só depois é que se deve pensar em atrair alguém para explorá-la. "Não comecemos a casa pelo telhado!", atira, pois "neste momento não existe nada para concessionar". E, quando houver interessados, "terão de dar garantias de ser possível rentabilizar o que se investiu na recuperação da via".
Reflexão 5: De facto, o papel do Estado deve ser o investimento nas infraestruturas, e não o financiamento de unidades hoteleiras que, sem a subsidiação não seriam económicamente viáveis.
Reflexão 6: A linha de pensamento da presidente da Diputación de Salamanca pode ser letal. Nunca um investimento pode ser feito sem ter ideia do seu retorno. É possível que o investimento na reabilitação da linha nunca seja recuperado. Idealmente, deverá sê-lo através do aumento das receitas de impostos pagos pelas empresas turísticas da zona. É que se objectivo é encontrar alguém que venha a rentabilizar o investimento, surgem algumas questões: É expectável que surja alguém? Qual o plano de negócios? Qual a previsão da procura? Se for o Estado a operar, quais os resultados? Existem já interessados, e em que condições?
É que se não surgir ninguém que dê "garantias de ser possível rentabilizar o que se investiu na recuperação da via", o que é que se faz? Fica a linha parada? Não se deveria ter analisado antes se a exploração seria atractiva para um privado? Ou mesmo concessionar mesmo antes da reabilitação, contendo o contrato clausulas variáveis?
No plano inicial pretendia-se a reabilitação dos 17 quilómetros de linha férrea
entre Fregeneda e Barca de Alva, com o compromisso de as duas entidades
regionais financiarem os custos, estimados em 3,2 milhões de euros.
Reflexão 7: Tendo em conta estes valores, acabam as dúvidas que existiam entre os 10M€ ou os 200M€. Tendo em conta que este investimento é absolutamente vital para o desenvolvimento do Pólo Turístico do Douro, e que é relativamente barato, não se justifica que este investimento não seja imediatamente aprovado.
5 comentários:
Concordo plenamente com as suas reflexões.
Acrescento que poderiam utilizar a linha do Douro para fazer tipo um "Orient Express" Porto-Madrid em combóio a vapor com serviço da época....
Pedro,
O António Alves acha invlusivé que a linha do douro poderia ser usada para transporte de mercadorias e não apenas para turismo.
António,
O declive de B'Alva a Fregeneda permite transporte de mercadorias ? Em tempos o Rui Moreira disse que não e talvez daí a linha Aveiro Salamanca.
Importa também saber qual seria o custo da linha preparada para mercadorias.
Não me parece que Rui Moreira seja especialista em ferrovias. Permite claramente. Em tracção eléctrica facilmente; em tracção diesel, é uma questão de comprar material de tracção com a potência necessária.
Recomendo a leitura deste artigo de dois especialistas na matéria; não de simples opinadores políticos.
http://pwp.netcabo.pt/0165582701/artigo1.html
Cara Equipa do Norteamos,
Gostaria de enviar à vossa disposição um Power Point sobre a Reabertura ao Tráfego Internacional da Linha do Douro, onde se definem diversos cenários de investimento, mas desconheço a forma de o enviar para o blog.
Existindo interesse da vossa parte, agradecia uma confirmação. O ficheiro possui 16 Mb.
Com os meus melhores cumprimentos,
Manuel Tão
manueltao@gmail.com
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