Argumentos que o Governo tem utilizado para justificar a urgência da construção da OTA e do encerramento da Portela:
O problema é que estas taxas de crescimento são conjunturais, e dificilmente duram até 2010:
- As elevadas taxas de crescimento no sector da aviação estão relacionadas com a alteração do modelo de negócio de "companhias tradicionais" para "companhias low cost". Este efeito "ruptura" não deverá durar mais 2/3 anos.
- As low cost têm compensado o aumento do preço do petróleo, mas tanto o aumento do seu preço, como principalmente a incorporação dos custos ambientais (licenças CO2) deverão aumentar fortemente os preços dos bilhetes.
- O efeito da tecnologia torna também menos relevante as viagens. É cada vez menos necessário viajar para estar com outra pessoa. Basta uma conference call.
A um período de estagnação (pós 11.09.2001) costuma-se seguir um período de forte crescimento. Estamos no fim do período de forte crescimento (até porque o resto da europa, ao contrário de Portugal, está em clara expansão económica). - Lisboa atravessa um bom momento no turismo em resultado do Euro 2004 (e mais atrás, da Expo 98), e obviamente do efeito das "low cost" no city break. Deverá ainda crescer bastante no próximo ano, fruto da presidencia europeia. Mas este acontecimento não é repetível.
- Mais relevante que o número de passageiros, é o número de movimentos. A um forte incremento do número de passageiros corresponde um menor incremento dos movimentos. As companhias de aviação tenderão a usar aviões maiores nas mesmas ligações.
Ou seja, tudo leva a crer que as taxas elevadas são conjunturais, sendo espectável que estas se em breve se tornem muito baixas, ou mesmo nulas. Mas se o Governo insiste tanto nas taxas de crescimento mirabolantes, então nunca um aeroporto sem capacidade de expansão é solução para o país, e mais vale começar desde já a reservar espaço para um aeroporto em cada capital de distrito.
Sendo assim, só podemos concluir que os números são perigosos e convém analizá-los com cautela. Posto isto, e porque numerologias é com a Maya, parece-me muito mais inteligente optar por soluções graduais pouco dispendiosas e que permitam rentabilizar os investimentos já efectuados.
Trabalho de casa para os leitores: avaliar qual o impacto de menos 2% de crescimento anual do volume de passageiros no plano de negócios da OTA. (resposta: é um buraco maior que o que vão ter que lá fazer...).
6 comentários:
Pedro,
Já se verifica um menor crescimento da Portela em 2007: http://norteamos.blogspot.com/2007/05/leituras-20070517.html
PS: Apesar de não achar oportuno o debate de um eventual novo aeroporto a norte, não significa que não deva ser publicado. Tem liberdade para isso, ok ?
Cumprimentos
José Silva
Eu sei, mas preferí retirá-lo porque estava em contradição com este post.
O facto é que utilizei as taxas que o governo utiliza para justificar a urgência do novo aeroporto (10% ao ano em Lisboa, logo seguramente 10% a 15% no Porto).
Mas com estas taxas de crescimento o ASC esgotaria lá para 2020-2025, pelo se deveria começar já a pensar numa alternativa... Na verdade, voltei a olhar para os números e percebi o disparate que andam a contar aos portugueses.
Nunca as taxas de crescimento serão, no médio prazo, de 10%. Se forem, então a OTA também não é solução pois esgota em 2019 (?). Sim, 2 anos após a inauguração.
Daí que só 2 conclusões são possíveis:
- Ou as taxas estão correctas e a OTA não serve porque o novo aeroporto precisa de capacidade de expansão; e precisamos também de um novo aeroporto no centro-norte.
- Ou as taxas estão incorrectas, e a Portela aguenta-se até 2017-2020(particularmente porque grande parte do tráfego é perfeitamente transferível para o ASC e Faro) e o ritmo anual de crescimento de passageiros possibilita a adopção de soluções graduais.
Fazendo as contas, a 2ª opção é muito mais credível. (logo, o anterior post era inoportuno).
Sendo assim, publiquei antes este post a desmontar a teoria das taxas de crescimento de 10%.
Caro Pedro,
Que aconteceu ao artigo sobre um novo aeroporto no Norte? Ainda hoje tinha pensado nisso...
Bem, acho que depois de publicado, não há nada a fazer. Vou recolocá-lo com uma nota final.
Pedro Morgado:
já está lá outra vez.
Neste momento não é certo quais serão as taxas de crescimento do tráfego aéreo. 2% é abaixo de todas as previsões. 10% é acima de todas as previsões. Mas, numa situação de incerteza, convém escolher uma solução de deixe opções em aberto e que funcione bem com todas as hipóteses. Ora a Ota funciona mal com todas as hipóteses e por isso é profundamente errada.
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