A RTP faz do serviço público uma bandeira que, na maior parte das vezes, não passa de marketing. Muito pouco distingue a RTP dos privados em termos de critérios editoriais. Pedro Santos Cardoso, no Dolo Eventual, questiona a falta de alternativas sempre que a RTP transmite os mesmos eventos que os privados. O exemplo escolhido é feliz. A transmissão da homilia de Fátima é uma medida populista e baseada na procura de audiências, afastando-se do conceito de serviço público.Mas a ineficiência da prestação de serviço público vai mais longe. A RTP vive sedeada em Lisboa e no Porto, transformando-se, não raras vezes, numa televisão regional daquelas urbes. Uma prova da não abragência da RTP é o facto de o terceiro maior distrito do país não possuir uma única delegação televisão do Estado, sendo repetidamente relegado para segundo plano da actualidade.
Sendo assim, não espanta que uma morte em Braga tenha menos destaque na televisão do serviço público que uma escoriação em Lisboa ou no Porto. Não espanta que uma vitória europeia de um clube minhoto tenha menos relevância para a televisão do serviço público que a entorse do terceiro guarda-redes do Sporting ou do Porto. Não espanta que uma descoberta digna de science conseguida num dos laboratórios de excelência da Universidade do Minho tenha menos tempo de antena na televisão do serviço público que a verborreia de um Zandinga de Lisboa ou do Porto. É isto mesmo que José Pedro Ribeiro denuncia, no Idolátrica, a propósito da vitória do ABC de Braga na Liga Nacional de Andebol:
Para vermos a notícia na RTP, (dita) televisão estatal, temos que estar atentos ao minúsculo rodapé à espera de uma quase invisível referência ao evento. A verdade é esta: se fosse o Benfica, o Sporting, o Porto e mesmo o Belenenses, seria notícia de abertura e de primeira página.
[A RTP] Tem obrigações que o seu estatuto lhe confere, não sendo uma das menos importantes, com certeza, a de servir todos os cidadão, sem excepção, sem se preocupar exclusivamente com as audiências.
Eu vou mais longe. O critério editorial da RTP não pode, em caso algum, ser o critério das audiências. A RTP deveria privilegiar a qualidade, o pluralismo e a isenção. Deveria dar atenção às modalidades desportivas e às actividades culturais menos comerciais que se desenvolvem por esse país. Deveria ser uma estação de serviço público, ao serviço de todos e não apenas de alguns.Como isto não sucede, nem se perspectiva que vá suceder, Braga e o Minho precisam de uma televisão regional que lhes devolva a importância que merecem. Asfixiados pela proximidade ao Porto, as televisões e demais órgãos de comunicação social teimam em fazer de Braga e das suas gentes uma espécie de apêndice da segunda cidade do país.
Publicado em simultâneo no Avenida Central
5 comentários:
Pedro,
1. Benvindo !
2. Uma vez Júlio Magalhães da TVI disse que nas redacções de Lisboa, a partir de Leiria é tudo Norte. Isto é, eles nem se dão conta que existem 4 ou 5 milhões de pessoas a partir de Leiria..
3. A comunicação social não liga ao nº de habitantes mas sim ao poder de compra per capita dos espectadores/leitores/ouvintes, pois são estes que «pagam» aos anunciantes. E aqui o Porto está pouco melhor do que Braga.
4. De qualquer modo neste e noutros assuntos, o Porto erra muitas vezes tanto quanto Lisboa, sendo necessário mudar. Numa futura Regionalização o Porto não deverá ter a exclusividade dos departamentos regionais. Estes deverão ir para Amarante/Régua se tivermos uma região norte horizontal, ou para Guimarães se tivermos um região norte litoral.
cump
JSilva
Gostava que Braga tivesse a sua propria TV, assim como tambem gostava de uma TV para o norte todo (até ao Mondego, não até Leiria, isso já não diz respeito ao norte).
E ainda de uma TV que focasse apenas a Galiza e o Norte de Portugal, a nossa antiga Calécia.
Eram esses os meus desejos. Se tivesse essas TVs deszintonizava automaticamente RTP, SIC e TVI, mas é que era logo :)
"4. De qualquer modo neste e noutros assuntos, o Porto erra muitas vezes tanto quanto Lisboa, sendo necessário mudar. Numa futura Regionalização o Porto não deverá ter a exclusividade dos departamentos regionais. Estes deverão ir para Amarante/Régua se tivermos uma região norte horizontal, ou para Guimarães se tivermos um região norte litoral."
Eu sugeria também Vila Real - O litoral terá sempre capacidade de defender os seus interesses. Vila Real tem a vantagem de proximidade de Trás os Montes e do Douro - regiões com menor capacidade de reinvindicação (para além de ficar no centro geográfico da região).
O Porto não ser a capital da região evita todos os problemas que Lisboa-Capital coloca à Lisboa-Cidade, Lisboa-Região: excesso de pressão populacional, concentração de oportunidades de emprego, mau trânsito criminalidade, etc... (para nao falar na confusão entre os interesses da cidade e os do país).
Por isso Pedro, é que AMPorto não deverá querer a exclusividade do desenvolvimento face ao Norte.
Jsilva
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