20090123

Falência da Quimonda: Uma oportunidade para mudar o modelo de desenvolvimento a Norte

A falência da Quimoda e suas consequências para o Norte são uma oportunidade para se mudar de moedelo de desenvolvimento.

A endogenização não funcionou: Uma argumentação favorável à captação de investimento estrangeiro, paga pelos contribuintes, é a possibilidade de endogenização de conhecimentos. Tenho amigos e familiares que beneficiaram profissionalmente e financeiramente da existência da Quimonda. Mas nenhum deles irá endogenizar o know-how adquirido. Ao contrário dos sectores tradicionais, nenhum passarara de quadro médio a empresário. O mais provável é que um deles siga o exemplo do outro e fechando a Quimonda, vá trabalhar para o estrangeiro. É que devido à natureza do mercado da Quimonda sofisticado e de grande dimensão, os spin-offs são difíceis. Li um comentário algures que advogava a nacionalização da fábrica de Vila do Conde, compra de algumas patentes e passar o Estado Central a explorar o negócio. Pois, é o spin-off que temos...


As ajudas públicas desta dimensão pelo Estado Central não fazem sentido, como questionava Daniel Bessa logo em 1995. Não tem competências para tal. Se calhar é preferível reduzir o IRC e deixar de haver ajudas às empresas. Poupa-se em funcionários e em risco de errar. Se é para manter as ajudas públicas, alternativamente, é preferível captar um maior número de investimentos, mais pequenos e assim de mais fácil endogenizaçao. Porem para tal, é necessária uma análise mais fina, não executada pelo Ministério da Economia central, mas sim pelos governos regionais, havendo Regionalização.


O melhor plano anti-crise para o Ave e para o resto de Portugal fora de Lisboa é mesmo seguir o modelo dinamarquês: Fundir autarquias e com a respectiva poupança de instalações, pessoal político e recursos financeiros, implementar governos regionais, que está visto, são os únicos que tem a mínima sensabilidade para promover ajudas públicas.


PS1: Decretada a falência, há agora que lutar pela devolução dos subsídios entregues pelo Estado Central à empresa.


PS2: O maior exportador nacional ao falir vai provacar ainda mais deficit da Balança de Transacções Corrente. O Norte e Portugal perdem assim mais exportações de Bens e Serviços Transaccionáveis, numa altura em que isto era essencial. Mais desgraças, portanto.

5 comentários:

PMS disse...

"Li um comentário algures que advogava a nacionalização da fábrica de Vila do Conde, compra de algumas patentes e passar o Estado Central a explorar o negócio."

E como é que depois o Estado recuperava o investimento? Por decreto? Brilhante!

É só comentadores iluminados. Suponho que os gestores da Qimonda sejam uns tapadinhos que não viram uma solução tão óbvia...

Luís Bonifácio disse...

A dificuldade de spin-off advém do facto de que o tipo de indústria necessita de enormes volumes de capital para funcionar. Por isso qualquer tentativa de spin-off necessitaria de um volume de capital pouco usual na nossa economia privada.

Não vejo como o seu plano anti-crise resolveria a situação económica. Teria sim grande impacto nas contas do estado, pois permitira diminuir (e muito) o crónico deficit.

Se o projecto de regionalização passasse por isso, teria o meu voto. Mas infelizmente não vai passar. O que iremos ter é a multiplicação da ilha da madeira, onde cada aldeia é um municipio e cada lugarejo uma freguesia.

Em Portugal de norte a sul, quer queiramos ou não, continua a imperar a mentalidade do Cacique, com benesses e empregos a distribuir.

Jose Silva disse...

Caro Luís,

Não é a primeira vez que se perde na floresta...

A minha proposta é de reduzir o nº de concelhos e aproveitra os recursos sobrantes na implementação da Regionalização, conseguindo assim impacto nulo no Orçamento de Estado.

Há mais caciques em Lisboa do que nos resto de Portugal. É so ligar a TV logo à noite...

Nuno Gomes Lopes disse...

a qimonda não faliu - entrou em procsso de insolvência. o que não é exatamente a mesma coisa.

mario carvalho disse...

parabéns ao Norteamos

José Silva sempre atento e sempre a defender orgulhosamente as origens

obrigado mais uma vez pela importante ajuda na defesa de um património unico ... A LINHA DO TUA e o seu vale

abraço
mario sales de carvalho





Empresas de sucesso.. Alheiras de Mirandela


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hesitei um pouco na transcrição da notícia do mensageiro de Bragança .. Receio que com publicidade algum iluminado/obcecado por tecnologias de ponta transforme uma bem sucedida fábrica de alheiras (sem subsídios)numa falida fábrica de chips .. ah é verdade quem come chips?

abraço

mcarvalho

http://www.mensageironoticias.pt/noticia/1262

Mirandela //
Alheiras resistem à crise
Por: Fernando Pires /


Foto: Fernando Pires
Produto continua a ser muito requisitado no mercado e a produção em 2008 registou um aumento
“Ser um produto certificado e com um preço ainda acessível para as bolsas” são as razões encontradas pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Mirandela (ACIM), entidade gestora, para esta imunidade à crise conjuntural. Para além disso, “o selo de certificação é uma garantia de segurança para o consumidor, além de diferenciar a qualidade dos produtos com protecção comunitária dos restantes”, acrescenta Jorge Morais. O dirigente associativo não tem dúvidas em afirmar que a alheira de Mirandela “é o produto que mais riqueza trás para o nosso concelho”. Uma situação confirmada por Joel Dias, um habitante de Vila Nova de Gaia que encontramos a sair de uma loja de produtos regionais com um saco de plástico cheio de alheiras. “Cada vez que passo por Mirandela não vou embora sem levar uns quilinhos de alheiras lá para casa, para a família e amigos”, afirma. Este cidadão é apenas um dos muitos turistas que visitam a cidade de Mirandela, sobretudo aos fins de semana, e não regressam sem levar vários quilos deste enchido tradicional, ex-libris da cidade. “É certamente o produto que traz maior riqueza para o concelho”, garante Jorge Morais, presidente da direcção da Associação Comercial e Industrial de Mirandela (ACIM). Constatamos, junto dos produtores e de empresários do sector, que a crise não chegou às alheiras de Mirandela. Os irmãos Cepeda (Rui e José) da empresa Eurofumeiro não têm dúvidas em afirmar que “o ano de 2008 foi excelente” para os produtores deste enchido tradicional. Segundo estes empresários, a receita para este sucesso está na confiança que o produto tem no mercado e também “porque estamos a falar de uma refeição muito económica, se tivermos em conta que um quilo de alheiras dá para uma refeição de uma família com um agregado familiar médio”. Este sector teve de se adaptar a novas regras. Do processo de fabrico artesanal passou-se para o industrial e com ele novas exigências de segurança alimentar rigorosas, que tiveram de ser acompanhadas com um forte investimento em equipamentos e formação do pessoal. Em 2008, esta empresa produziu uma média mensal de 90 toneladas de alheiras, “com um final de ano absolutamente fantástico que chegou às 108 toneladas”, diz José Cepeda. Comparativamente a 2007, a empresa aumentou cerca de dez por cento a produção da alheira. Uma situação que é confirmada pelos empresários do sector que têm pontos de venda ao público na cidade transmontana. “Não há dúvida que a alheira de Mirandela é uma referência da nossa cidade e a maioria das pessoas que nos visita pede esse enchido”, refere Maria do Céu, proprietária de um dos dez estabelecimentos comerciais de produtos regionais que estão instalados num perímetro de cerca de 500 metros, em pleno centro da cidade. Estas lojas nunca fecham as portas, nem mesmo aos domingos e feriados. Aliás, o domingo é muitas vezes o melhor dia da semana, porque são muitos os turistas que visitam a cidade, através de excursões organizadas ou mesmo nas viaturas particulares. “Já houve domingos em que se vendeu mais de 500 quilos de alheiras”, conta Maria do Céu. Os meses de Fevereiro e Março são sempre muito bons, porque há muita gente que visita a região para ver as amendoeiras em flor e aproveitam para comprar a alheira de Mirandela. Mas, “o melhor mês do ano é sempre o de Agosto, devido à vinda dos emigrantes”, acrescenta esta empresária que vende alheira tradicional, certificada e de caça. Esta procura do enchido mirandelense tem um efeito multiplicador, porque “as pessoas levam a alheira para as suas localidades e dão a provar a familiares e amigos que depois telefonam a encomendar”, afirma José Carlos Teixeira, que também abriu uma loja de venda de produtos regionais há cerca de quatro meses. Aqui só pode encontrar-se alheira certificada e de caça. “Continuo a pensar que a preservação da qualidade da alheira de Mirandela só será possível se apostarmos exclusivamente no produto certificado”, afirma.

Produto certificado ETG
A Alheira de Mirandela tem o registo provisório de produto específico de Especialidade Tradicional Garantida (ETG), mas a ACIM já requereu a passagem a Identificação Geográfica Protegida (IGP), porque “permitirá dar mais valias para os produtores da região”, assegura o presidente da direcção da ACIM. No entanto também “pode diminuir algumas atrocidades que existem pelo país”, diz Rui Cepeda, referindo-se à venda de enchidos com colagens à alheira de Mirandela. “Falta fiscalização e maior rigor”, acrescenta o empresário. Actualmente, com o registo de ETG, qualquer empresa do país pode produzir alheira de Mirandela, desde que cumpra o caderno de especificações que determina que este produto tem de ter como principais ingredientes a carne e gordura de porco, a carne de aves (galinha e/ou peru) e pão de trigo, o azeite e a banha, condimentados com sal, alho e colorau doce e/ou picante. Podem ainda ser usados como ingredientes a carne de animais de caça. É um enchido com formato de ferradura, cilíndrico, sendo o interior constituído por uma pasta fina na qual se apercebem pedaços de carne desfiadas e cujo invólucro é constituído por tripa natural, de vaca ou de porco. As carnes são preparadas, sendo cortadas em pedaços de tamanho médio, temperadas e deixadas a repousar. São depois cozidas, arrefecidas e desfiadas, operação fundamental para as características do produto final. Seguidamente, corta-se o pão em fatias finas com côdea, que são depois amolecidas na calda, e prepara-se a massa, ou seja, adicionam-se e misturam-se os ingredientes e acertam-se os condimentos. Depois de preparada a massa, enchem-se as tripas secas ou salgadas de vaca ou porco e atam-se em forma de ferradura. Por fim, tem lugar a fase da fumagem, que é feita com lume brando de madeira de oliveira, durante, pelo menos, oito dias.

O que mudará com a IGP
Tendo em conta que a produção da alheira de Mirandela requer carne de porco da raça Bísara (ou cruzamento com esta raça, desde um dos progenitores seja desta raça), a área geográfica de produção de matéria-prima fica assim também naturalmente delimitada à área de exploração do porco de raça Bísara, designadamente os concelhos de Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio, Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Régua, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços e Vila Real, do distrito de Vila Real. No distrito de Bragança, os concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor, Vimioso e Vinhais. Tendo em conta as condições climáticas requeridas para a transformação da alheira de Mirandela, nomeadamente as necessárias à realização do processo de fumagem, no qual é utilizada lenha típica da região (carvalho e oliveira), o saber fazer das populações baseado em métodos locais, leais e constantes, o uso do pão regional de trigo, cujo segredo de fabrico permaneceu inalterado ao longo de múltiplas gerações de padeiros, a área geográfica de transformação e acondicionamento está circunscrita ao concelho de Mirandela.

Como são confeccionadas
As alheiras de Mirandela não são consumidas tal qual, devendo ser grelhadas ou assadas, de preferência, em "lume de carvão", acompanhadas com batatas e legumes cozidos. Mas também podem ser estufadas, depois de envolvidas em couve lombarda.

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