«Como na generalidade dos países menos desenvolvidos, em Portugal continua a dar-se uma importância desproporcionada aos elementos materiais, enquanto elementos simbólicos do desenvolvimento, da riqueza e do estatuto social. Muitos dos que criticam, a governos e autarcas a cultura do cimento fazem-no enquanto ostentam os seus belíssimos e, sobretudo, caros relógios de marcas ou os não menos luxuosos automóveis. Quando se fazia a avaliação da aplicação dos chamados "fundos estruturais", a maioria das verbas era canalizada, no caso das empresas, para instalações, maquinaria e equipamento, até haver uma intervenção administrativa que limitou a sua disponibilidade. Não há povoação que se preze que não tenha um pavilhão multiusos ou, mesmo, um centro de exposições e congressos. E quando o paradigma mudou, e a retórica do empreendedorismo se instalou, eis que correm pressurosas a construir incubadoras e centros empresariais. A continuarmos assim, não tardará que se reproduza neste domínio o que acontecia com equipamentos desportivos uma das maiores taxas de construção de recintos cobertos da Europa, o que se compreende perfeitamente dada a agressividade do nosso clima… O problema não está, sequer, na construção mas no que se segue: as despesas de manutenção e funcionamento». Ora, é aqui que o problema existe. Os custos da criação de auto-estradas sobres os «impostados». Fará então sentido contestar a decisão do governo em criar portagens à volta do Porto (A28, A41 e IC1) ? Sim e Não. Depende !
Contextualizemos ainda mais:
- Sugiro a audição prévia da intervenção de Pedro Morgado no RCMinho ou lendo os posts recentes no Avenida Central;
- Portugal já tem uma densidade de auto-estradas superior à média europeia;
- A A3 a norte de Braga está sub-utilizada, segundo Matos Fernandes, da administração do Porto de Leixões e especialista em Transportes;
- Os efeitos do PeakOil começam a fazer-se sentir a Norte. No final do ano, quando o BCE desçer as taxas de juro, o Euro desvalorizará face ao Dolar e o petroleo em euros começará a subir ainda mais. Relembro que metade do petroleo importado é usado no transporte rodoviário. As importações fazem reduzir o PIB e portanto a riqueza individual... Para redução do PIB, já basta a recessão em curso...
- A construção da A4 entre Amarante e Bragança está a gerar muitos interessados. A A4 é um erro histórico. Mal seja finalizada a sua construção, ficará às moscas. O melhor que TM poderia fazer, se os lobbies de Lisboa o permitissem, seria transformar em autoestrada apenas os troços do IP4 com maior tráfego ou inseguros. Os restantes ficariam inalterados. Com a poupança obtida, investiria-se em infra-estruturas com mais futuro, como seja o upgrade da linha do Douro, da linha do Tua até Sanabria ou no upgrade do aerodromo de Bragança para «low costs»; Espanha vai reabrir a ligação a ferroviária até Barca D’Alva em até 2010. Recuperar para passageiros os 28km desde Pocinho até Barca D’alva, segundo a Refer, custa 11 milhões de euros, ou seja o equivalente a 2 km de auto-estrada...
- As SCUTS são excelentes PPP para o lobby betoneiro e bancário, quando o crédito é barato. Esse tempo acabou. A Brisa está com sérias dificuldades, como se pode lêr aqui. Haverá SCUTs se a Brisa falir ? Nacionalizando-se, sim. Mas quem pagará o acréscimo de impostos ?
Resumindo: Apenas vale a penas contestar se fôr para reclamar contra as injustiças. A mediatização deverá ser no sentido de obrigar a «portajar» também as vias em situação sememlhante como o caso da do Infante. São necessários estudos ! O único motivo é evitar que que a falta de critério da aplicação de portagens, prejudique como é habitual o Norte.
Mas há um assunto ainda mais importante. É que a reclamação/protesto tem que ser credível sem cair em populismo demagógico nortenho. O segredo da assertividade perante Lisboa é ser intelectualmente honesto e sério. A nossa comunicação social, nomeadamente do JN pos-Joaquim Oliveira tem que ser sensata. O Norte não pode passar de um extremo em que era tabu ou se tinha vergonha de defender os nossos legítimos interesses para um cenário de irresponsabilidade infantil onde se defende tudo o que tenha carimbo «Norte», mesmo o que esteja errado. E exmplos disto, é o elogio desmedido à arquitectura do ASC sem calcular os respectivos custos que atormentam agora Belmiro, as expansões surreais do Metro do Porto que custariam meia-Ota ou os faraónicos e secretos custos que o CVE Porto-Minho-Vigo vai ter se parar no centro de Braga («RAVE preveja um túnel urbano em Braga, coisas no "segredo dos Deuses"»).
4 comentários:
Caro José Silva
Sim de facto Portugal tem um elevado número de auto-estradas, mas não estarão quase todas elas no mesmo sitio? (litoral)
Por exemplo, está prevista uma auto estrada entre Oliveira de Azemeis e o Porto, quando entre as duas cidades há uma linha do Vouga completamente desaproveitada.
ás moscas ou não a A4 já devia ter chegado há muitos anos a Bragança. é uma questão de justiça social. Quer dizer, se a A4 vai estar às moscas, que dizer de uma linha até Puebla de Sanabria?? De qualquer forma uma coisa não invalida a outra.
Por falar em ferrovias, as últimas noticias de Espanha dão conta que os espanhois querem, numa primeira fase, reabrir a linha do Douro entre Fregeneda e Barca d'Alva como percurso pedonal. Claro que se os portugueses reabrirem os 28 km a história pode ser outra. Mas para a passagem de mrcadorias também bastam os 11 milhoes de euros?Pelo menos da parte deles aquelas pontes teriam de ser todas susbtituidas, mas isso já era o dinheiro deles.
Quanto à linha do Tua que o governo de Lisboa quer fechar (fosse a linha em Sintra.....)já há varias decadas que tem o projecto de Sanabria e porque só agora é que se lembraram disto?Por causa da barragem?Será credivel como forma de parar a constru~ção dessa maldita barragem? Apesar de ser pró caminhos de ferro, tenho duvidas em relação ao projecto em si...
Muito bom.
Concordo com o salem na questão da densidade rodoviária: o número de autoestradas é elevado uma vez que a infraestrutura básica de estradas nacionais é muito, mas muito fraquinha.
Ora, para resolver o problema da infraestrutura rodoviaria nacional optou-se por construir infraestruturas sobredimensionadas. Na maior parte dos casos bastava o que eu chamo de meia autoestrada: uma estrada com vias largas e poucas curvas, com 3 vias no total (2 para um lado, e uma para o outro). Ficaria a sensivelmente metade do custo, e apenas se perderia um pouco de velocidade na deslocação, mas sem problemas de congestionamento.
Salem,
Não são as auto-estradas que estão no litoral. A população e empresas é que estão no litoral !
Bragança procura por todos os meios chegar a Sanábria rapidamente, porque percebe que apartir de lá é rápido chegar a Madrid ou Galiza. Ja tentou uma via rápida e foi negada por uma alcateia de lobos (lisboetas) no parque de Montesinho. Agora seria através de uma ferrovia. Relembro que ela existe, masestá desactivada entre Mirandela e Bragança. A procura não seria grande, reconheço. Mas o que conta é a relação entre investimento e utilização, que seria muito mais benéfico do que auto-estrada.
No Norteamos forma publicados em Junho 2007 vários estudos sobre o custo da abertura da linha do Douro. Para mercadorias ficaria acima dos 11 milhoes. De qualquer modo, muito mais barato que auto-estradas...
Que túnel é esse em Braga no centro. O único túnel que se fala em Braga do comboio é o túnel de Aveleda para Gondizalves, cerca de 1km, todo ele fora da cidade.
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