Excelente análise de Jaime Gomes no blogue Prálem d'Azurém:
No momento que se discute na Escola de Engenharia as Interfaces para a Universidade do Minho (Que Instituições de Extensão?), ocorre-me divulgar um pouco a minha experiência (negativa) com a actual instituição de Interface, a Tecminho.
Quando nasceu a Instituição, pela mão do então Presidente da Escola de Engenharia, Mário de Araújo, já lá vão talvez uns 20 anos, a ligação à Indústria era a prioridade, numa altura em que quase não a havia.
Passados estes anos todos que verificamos? A maior parte dos projectos com a indústria continuam a ser feitos pelos docentes directamente e a Tecminho é praticamente desconhecida na indústria. Bem, podemos dizer que isso é devido à iniciativa dos docentes ser voluntarista e não querer interferências de orgãos que lhes poderiam retirar o controlo do projecto que idealizaram. Eu diria que sim mas não só. Os docentes agradeceriam a contribuição duma instituição que supostamente terá uma experiência de 20 anos e que lhes ajudaria com a parte mais burocrática e de gestão. Mas a minha experiência de contactos com a Tecminho leva-me a concluir que esta instituição não existe para ajudar os docentes nestas suas actividades voluntaristas, mas vive tão só para si própria, para alimentar uma imagem e sobretudo para alimentar os que lá trabalham. Numa altura em que a Universidade precisa de verbas alternativas àquelas provenientes do Orçamento de Estado e das propinas dos alunos, é minha opinião que a Tecminho podia fazer muito mais do que faz, captando verbas pela Transferência de Tecnologia e motivando os docentes.
É neste capítulo especialmente que a Escola de Engenharia devia actuar.
A minha experiência da Tecminho é que esta área está entregue, desde a sua fundação, a amadores e que a sua arrogância e prepotência (com louváveis excepções dos que entraram recentemente na Instituição) levaram a que muitos projectos se perdessem, por não darem ouvidos aos docentes, muitos mais experientes que eles no contacto com a indústria, (sendo esse o meu caso), e outros ficassem condicionados.
Dou um exemplo:
Fundei uma spin-off em 2001, talvez a primeira spin-off de base tecnológica na UM, que eu e o investigador envolvido chamámos Micropolis. A sua criação foi impulsionada pelo facto de ter ganho o prémio de melhor projecto de spin-off dum programa de incentivos dirigido por alguém que trouxe um novo dinamismo à Tecminho, o Avelino Pinto (e que como outros que não suportavam a inoperância da actual responsável pela Transferência de Tecnologia ir-se-ia embora mais tarde). Depois do incentivo não tivemos mais nada de apoios. Não havia incubadoras de empresas na UM, embora houvesse espaços e apoios para algumas estruturas que também nasceram na altura pela mão de outros melhor colocados na hierarquia da instituição. Lembro-me que no entanto não fui o único a ter que passar pelas "dores de parto", o meu colega Fernando Castro também passou por elas, só conseguindo mais tarde a muito custo e suor que a sua ideia de um Centro de Valorização de Resíduos tivesse apoios institucionais.
Entretanto, falta introduzir aqui o tema das patentes. Na altura penso que era dos únicos a querer registar uma patente, consciente que uma empresa spin-off não se sustentaria sem uma patente. De facto após registar a patente, a empresa spin-off teve o apoio financeiro duma sociedade de capital de risco a PME-Capital, agora chamada INOV-Capital. Isto foi em 2003. Entraram novos promotores/investigadores e depois de alguns anos a tentar sobreviver com um produto inteiramente novo, microcápsulas para aplicação em fibras, a Micropolis conseguiu um ou dois clientes potenciais, muito devido a ter os direitos exclusivos da patente (entretanto registaram-se mais duas patentes). Como acontece quando as coisas prometem, houve interesses que entretanto se instalaram na empresa, com a entrada de um "business angel" pela mão da INOV-Capital, ao ponto do novo administrador/business angel deter mais acções que todos os promotores juntos e assim em 2006 estava traçado o futuro no que respeita ao controlo da empresa. O novo administrador, economista e promotor imobiliário de profissão, sem experiência de gestão de empresas de base tecnológica, foi quem juntamente com o técnico da INOV-Capital passou a negociar com a Tecminho e com as empresas interessadas na tecnologia as patentes e o próprio futuro da Micropolis. É assim que as Capitais de Risco financiadas pelo Estado funcionam! Fazem acordos com fundadores de empresas spin-off e depois fazem outros acordos com investidores externos de forma a entregar-lhes o controlo do spin-off! Claro que perante esta situação demiti-me de Presidente do Conselho de Administração, já lá vai um ano. E as interfaces Universitárias? Bom, a Tecminho passou a negociar directamente com o novo administrador da spin-off e com as empresas interessadas na patente. Outras interfaces mais honestas para com os seus docentes universitários, continuariam a incluir nas negociações o inventor da patente e o fundador do spin-off.
Qual é a situação neste momento? Existe um acordo que não só não contemplou os direitos do inventor em participar no rumo das negociações, simultaneamente fundador da spin-off, mas também pôs em causa toda a I&D não só na mesma área mas aquelas consideradas sucedâneas a realizar no Departamento de Engenharia Têxtil (DET) e na própria Universidade, ao atribuir o direitode preferência à Micropolis. Mesmo após ter havido um aviso para não se avançar com este acordo desta forma, inclusive por parte do Director do DET, o acordo seguiu para ser assinado pelo Vice-Reitor.O responsável da Tecminho foi também alertado verbalmente para esta situação e o Vice-Reitor do pelouro também foi avisado através de um e-mail enviado por mim, sem qualquer resposta. É assim que nesta instituição também actuam os responsáveis máximos por este pelouro..
Que este relato sirva de aviso para todos aqueles que ingenuamente pensam que temos uma instituição de interface a velar pelos nossos interesse e que negoceia para a Universidade "the best deal”. Não, temos é uma instituição de interface que desde a sua fundação tem uma funcionária responsável pelo secção de Transferência de Tecnologia que não está á altura do cargo, não respeita os docentes inventores e promotores dessa mesma tecnologia, apropriando-se dela como se fosse sua e negociando-a a seu belo prazer. Há muito que deveria ser demitida mas por razões que a razão desconhece continua a ter a confiança dos seus superiores, sendo por isso os seus superiores os responsáveis máximos por esta situação.
É por estas e por outras, que outros colegas terão para contar, que esta instituição de interface não serve. A Escola de Engenharia deve fundar outra que esteja no terreno (saia dos gabinetes), com profissionais à altura, sem vaidades nem tiques de arrogância e prepotência, que trabalhe para a UM (começando pela Engenharia) e não para ela própria, e que sobretudo motive os docentes para o empreendedorismo, sem atropelar os seus direitos e as suas aspirações.
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