Na 4ª sessão dos Olhares Cruzados sobre o Porto, a propósito do metro para a Trofa, Oliveira Marques parecia Zaratustra, a personagem de Friedrich Nietzsche que anunciava o fim da moral. Perante várias questões que foram colocadas sobre a decisão relativa a este troço da rede de Metro do Porto, a melhor argumentação que conseguiu foi que se trataria de honrar os compromissos, errados, digo eu, assumidos anteriormente pelo Estado. Esta ausência de moral, lógica, racionalidade, foi retomada mais à frente ao revelar que as delegações estrangeiras que visitam o Metro do Porto o consideram muito versatil, por ser de superfície, subterraneo, urbano e sub-urbano. Ora, percebe-se facilmente que os convidados são civilizados e tem que arranjar um adjectivo apropriado para descrever a incoerência da rede, como já referi aqui.
Mas analisemos o troço ISMAI-Trofa:
· Este canal segue ao longo da estrada nacional 14, que retrata quase fielmente Portugal nos anos 50. Isto é, a paisagem rural, não urbanizada é um indicador claro da ausência de utilizadores que justifiquem metros;
· As camionetas de transporte alternativo de passageiros ao serviço do Metro do Porto andam por vezes apenas com o motorista...
· Os trofenses tem exactamente no mesmo ponto de partida e em direcção ao Porto uma alternativa mais barata e rápida do que o Metro: Os comboios da CPPorto. Como se pode consultar no «site» da CP, para o dia 2008-03-03, a partir das 6:10 da manhã, existem 40 comboios para o percurso Trofa-Porto com duração média de 30 minutos. Caso a comissão Braga-Porto 40 minutos tenha sucesso, a duração poderá ainda ser reduzida. Por outro lado, o percurso Ismai-Campanhã já demora 37 minutos, como podemos consultar no itinerarium.net. Assim o percurso Trofa-Campanhã em Metro nunca ficaria por menos de 50 minutos. Qual o trofense interessado no Metro ? Só se fôr para se deslocar para as estações a norte da Sª da Hora...
· Falta ainda analisar o custo de transporte, onde provavelmente o Metro será mais caro...
Este «decidiu-se assim» de Marques, sem racionalidade económica é mais um exemplo do nacional porreirismo, incompatível com um doutoramento em finanças. Ou então nunca foi à Trofa. Ou então há Otas por aqui... A atitude do economista ao tentar defender um investimento estatal indefensável, constrasta com a submissão à racionalidade económica do engenheiro Alvaro Costa no debate sobre obra pública. A tradição já não é o que era... A excelente operacionalidade do Metro do Porto da qual Oliveira Marques é o principal mentor, não lhe dá direito de insultar a nossa inteligência quando se questiona o desenho da rede. E se calhar nem é principal responsável por ela... Eu que não perco oportunidade de criticar o Estado Central, tenho que desta vez concordar com as reticências colocadas por Lino e companhia. Além do mais são legítimos argumentos para os que nos criticam de Portocentrismo no Norte.
O que fazer ? Renegociar. No que respeita ao Metro, os autarcas da Trofa querem o mesmo que os demais: Valorizar m2 e ganhar eleições. A coerência da rede, eficiência e utilidade para os passageiros são assuntos secundários. Neste contexto, desde que seja Metro, serve. Portanto a solução passa por colocar o Metro a circular apenas na zona urbana da Trofa entre a Trofa Velha e a nova estação da CP. Quando muito efectuar 1 ou 2 viagens para o Porto ao longo do dia, usando o canal de via única. A procura não justifica mais do que isto e o compromisso moral ficaria assim saldado. É uma solução salomónica e que liberta verbas para o «inviável» metro Guimarães-Braga, por exemplo. Nestes casos a falta de imaginação e de empenho para encontrar este tipo de soluções gera as suspeitas e descréditos habituais.
Declaração de interesses: Moro junto ao Ismai e trabalho na Trofa. Gosto de andar de Metro e existindo a norte do Ismai, provavelmente seria utilizador frequente.
6 comentários:
Concordo plenamente consigo José Silva. O metro da Trofa vai ser o mesmo erro que o metro da Povoa.
Mas as autarquias apenas se intressam pelo status que o metro dá...
está na hora também de começarmos a exigir a divulgação pública dos estudos "salomónicos" que dão uma linha a Rui Rio (Boavista) e outra ao PS (túnel da Senhora da Hora ao Hospital de S. João). eu se quisesse agradar a gregos e troianos não faria diferente :->
Não me poderei alongar muito sobre esta questão, porque pouco ou nada sobre ela conheço. Porém, depois da minha visita ao MP, e de ver algumas estações que rivalizam com algumas paragens de autocarro que eu conheço, em desconforto, e ao ver que num percurso entre Pedras Rubras (na altura parava por aqui) e o Porto, não há WC nas carruagens...
Vox populi, vox Dei: quando os populares se manifestaram (tardiamente, diria eu) contra o fecho das linhas da CP e a inauguração de um (decí)Metro com menos condições, é dizer qualquer coisa mais sobre a pasma caturrice da mentalidade instaurada nos edis nacionais.
Gostei de ver por exemplo o empenho da CM de Torre de Moncorvo, que conseguiu inclusivamente dinheiros do QREN, para alargar a ciclovia do Sabor, no canal ferroviário da antiga Linha do Sabor. Eis uma ciclovia em NENHURES, aonde para se chegar se têm de atravessar estradas trasmontanas (para bom entendedor...). Este edil tem todos os anos um programa da CP - Amendoeiras em Flor, a passar ao lado deste equipamento, deixando-o às moscas. Além do festival de Carviçais, é o evento que mais turistas atrais todos os anos. E o melhor, é que estes turistas das Amendoeiras chegam ao Pocinho de comboio, e fazem o que faria o comboio da Linha do Sabor, mas de autocarro... E ainda assim, um dos mais bonitos percursos ferroviários do país, imortalizado na canção "O comboio vai a subir a serra, parece que vai mas não vai parar!" - a rampa entre o Pocinho e Moncorvo, está também na mira da ciclovia!
Muito pouca inteligência têm alguns edis quanto aos caminhos-de-ferro...
Os Srs se fizessem a viagem diária que eu faço para trabalhar entre Trofa e Senhora da Hora concerteza que não falavam assim,não sabem o desconforto que é ir de metro até á Maia e vice-versa e depois passar para autocarros porque o resto da linha que nos foi retirada ainda não está pronta, enfim, estes artistas todos devem pensar que o pessoal da Trofa só viaja para o Porto via Ermesinde-Campanhã, pensem e falem depois, muita gente como eu tem as mesmas dificuldades já la vão 8 anos, para não falar no beneficio que seria esta obra estar pronta para pessoas que viajem para Maia ou Matosinhos vindos de comboio de Braga ou Guimarães, poder fazer o transbordo na Trofa para o metro, sem ter necessidade de ir dar a volta ao Porto, fiquem bem e ganhem juízo.
Sai uma linha de metro especial para o sr Paiva na mesa nr 5...
Boa piada, grande visão de desenvolvimento, só tenho pena é de já não poder ter o Vieira de Carvalho entre nós... :) deixem a Trofa crescer...
Enviar um comentário