Enquanto Rio se debate com essa incerteza, o seu colega António Costa inventou uma nova e potente poção mágica para obrigar todos os portugueses a pagar o pesado défice da Câmara Municipal de Lisboa. Ao que se sabe, já havia uma solução que fora negociada e que fizera parte das condições prévias que colocou, antes de aceitar concorrer às eleições para a depenada autarquia. Essa complicada engenharia já decidida pelo Governo assegurava a transferência de terrenos ribeirinhos, que hoje pertencem ao domínio público marítimo, da posse da Administração do Porto de Lisboa para a posse da câmara municipal, o que permitiria que esta fizesse um magnífico encaixe, concedendo-lhes capacidade construtiva de seguida e vendendo-os por fim. Só que, imagine-se, o Presidente da República pregou-lhe uma partida e vetou esse negócio. Agora, e receando que o veto se mantenha, apesar do empenho que o Governo demonstra em resolver o assunto, Costa exige uma compensação pelo afluxo de tráfego que a nova ponte entre o Barreiro e Chelas irá trazer para Lisboa, alegando que terá que fazer investimentos na rede viária.
Ou seja, todos nós, que vivemos na parvónia, vamos indemnizar os lisboetas. Não que sejamos responsáveis por a Câmara de Lisboa estar falida. Isso não pareceria bem. Vamos compensá-los pelo facto de o Estado concentrar nessa zona do país todo o investimento público, utilizando verbas que, por acaso, são atribuídas pela União Europeia para fomentar a coesão. De facto, coitados, os lisboetas são terrivelmente prejudicados. Afinal, vão ter na sua região um novo aeroporto, vão ter a cidade aeroportuária e a ferroviária, vão ter duas ligações de TGV, vão ter ainda várias plataformas logísticas. É muito sacrifício, convenhamos.
Ora, quer-me parecer que Rui Rio tem agora algumas pistas para resolver o nosso problema. Pode ser magnânimo e propor que o Governo faça algum investimento público no Porto. Pode exigir uma pontezita para o TGV que por acaso também sirva para os automóveis e, se for caso disso e para arredondar as contas, outras coisas menos relevantes. Depois, pode invocar o princípio da reciprocidade e exigir ao Governo que compense os portuenses pelos inconvenientes e sacrifícios, de forma a forrar os cofres do nosso município... Em alternativa, já se sabe, pode exigir que a APDL lhe ceda as praias da Foz e vender lotes para a construção de uma frente de arranha-céus desde o Castelo do Queijo até à praia dos Ingleses...
Segundo Paulino Pereira, professor do IST, Lisboa precisa de várias pontes. Segundo ele, é necessário que Mega- Lisboa tenha uma massa crítica demográfica de 5 milhões de habitantes em meados do século XXI para ser concorrencial em termos europeus. Não sei onde é que o ilustre professor pensa ir buscar tanta gente. Terá também uma poção mágica que nos resolva o problema da baixa natalidade? Pelo andar da carruagem, é melhor fazer planos para mais de dez milhões, porque assim caberemos todos lá. Depois, encerra-se de vez o resto do país.
PS: Crónica publicada no Público de hoje.
3 comentários:
Acho que alguém andou a ler o Norteamos...muito bem.
Mas olhem que as compensações para Lisboa nem eram má ideia... com alguma sorte punham o povo deste país todo na rua para acabar com esta vergolha.
Como eles não têm prisões para os 9,5 milhões de portugueses que iriam para a cadeia por manifestação ilegal...
Muito bom artigo. Tomo a liberdade de remeter os interessados em saber a dimensão (em quilómetros) da loucura lisboeta por pontes para o meu blog www.anticentralista.blogspot.com
Regionalização é para bebés, quem tem coragem e valor quer independência.
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