20080426

Centralismo

Vários episódios ilustram na perfeição como o poder político, gerente do dinheiro sacado aos contribuintes, se comporta de forma não apenas irresponsável, como totalmente impune e sem freio. Em dezembro de 2007, foi inaugurada com pompa e circunstância a nova estação do Metro de Santa Apolónia. Coisa que custou a todos os contribuintes (e não apenas aos lisboetas), 300 milhões de euros. Eis que apenas passados 4 meses, António Costa veio defender o seguinte: encerramento da estação de comboio, entrega do edifício para terminal de passageiros de cruzeiros, venda dos terrenos para construção urbana e dessa forma, reduzir o défice da Refer. Ou seja, os tais 300 mlhões teriam afinal servido para criar uma rede de metro de apoio a um serviço de luxo e de turismo (os cruzeiros), e valorizar artificialmente terrenos para a construção civil. Note-se que não estou a alegar que há interesses, legítimos ou ilegítimos de construtoras privadas por detrás desta propostas, longe de mim tal coisa….. Para melhor enquadramento desta proposta, dever-se-á ter em conta um outro projecto em curso: o da construção da linha de Metro do apeadeiro do Oriente para o actual aeroporto. Algo que nos custará, a todos nós contribuintes, mais uns 500 milhões de euros. Sabendo-se que é intenção do actual governo que o dito aeroporto venha ser encerrado em 2017 e que o Metro apenas chegará ao aeroporto dentro de alguns anos, já se pode imaginar, não apenas a «utilidade» da coisa, como quem potencialmente irá beneficiar da artificial valorização urbanística por mera decisão política. Veja-se ainda que a opção do Metro foi a de escolher prolongar o ramal mais longinquo, aquele que terá de fazer maior percurso e que implicará maior desperdicio de tempo ao utilizador (quando a poucas centenas de metros passam já duas linhas…). Ainda não acabei ( e já vamos em 800 milhões, 1,5% do pib). Para alindar Lisboa, o governo criou mais uma empresa pública. E prepara-se para ser ele, Estado, a gastar dinheiro (de todos os contribuintes), e fazer as obras (mais 100 milhões, pelo menos). Em benefício de Lisboa. E mais as obras no apeadeiro do Oriente (80 milhões) e mais uma nova ponte (300 milhões). Tudo somado, aí uns 1500. Como «A média de derrapagem dos contratos [públicos] é de 100 por cento», ter-se-á uma expectativa de 3.000 milhões de euros torrados na cidade capital. Pago por todos e sem utilidade visível. Somos um país rico.

Por Gabriel Silva

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