“Ao contrário do que a imagem sugere, é preciso deixar bem claro que o Norte não recebe indemnizações compensatórias. Quem recebe é apenas a área metropolitana do Porto. Espero que o erro tenha sido inocente, mas temo bem que não.” - Pedro Morgado
Porque é que esta frase está eivada de má fé? Porque Pedro Morgado sabe, tal como eu, que o sistema de transportes urbanos com centro na cidade do Porto, propriedade exclusiva ou maioritária do Estado Central, sujeito de indemnizações compensatórias e gerido pelas empresas/entidades CP Porto, STCP e Metro do Porto, não se resume exclusivamente à Área Metropolitana do Porto. É um sistema de transportes de massa cujos eixos se estendem à Póvoa do Varzim, a Norte, a Famalicão, Braga e Guimarães a Nordeste, a Valongo e Gondomar a Este, e que a Sul abrange os concelhos de Gaia, Espinho, Ovar, Estarreja e Aveiro.
Gostem ou não, algumas pseudo- elites em Braga, esta cidade está integrada na rede de comboios urbanos da CP Porto e, segundo notícias ainda recentes, 5,1 milhões de passageiros, utilizaram a Linha Porto-Braga em 2007. Essas pessoas, que viajaram em comboios da CP Porto, são, todas elas, beneficiárias directas das indemnizações compensatórias atribuídas a este sistema de transportes por parte do Estado. O mesmo se passa no eixo Porto-Aveiro.
Como se prova, as indemnizações compensatórias, ao contrário do que Pedro Morgado afirma, não são apenas destinados à Área Metropolitana do Porto. Braga, assim como Aveiro, têm justas razões de queixa mas apenas no que respeita ao seu próprio sistema de autocarros municipais. Pedro Morgado sabe isto porque já várias vezes, tanto aqui como no seu blogue, este assunto foi discutido. A afirmação de Pedro Morgado não se deve a ignorância, deve-se a má fé. Não é a primeira vez. Até já foi capaz de encontrar tiques centralistas do Porto numa simples avaria de catenária na estação de Guimarães.
Se algum erro existe na imagem é o cálculo efectuado tendo como base apenas os habitantes da Área Metropolitana do Porto.
Constitui o facto da imagem comparar a NUT II Norte com a NUT II Lisboa um erro?
Não. Na minha opinião a comparação está correcta. Passo a explicar.
Numa jogada que pode parecer à partida de simples saloísmo oportunista, o Estado Central extinguiu a anterior Região de Lisboa e Vale do Tejo, reduzindo-a e transformando-a na Região de Lisboa que actualmente apenas inclui a Grande Lisboa e a Península de Setúbal. Esta medida tinha dois objectivos. O primeiro, de esperteza saloia, era tirar a Ota da antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo e assim receber o máximo de fundos europeus possíveis para financiar o mega aeroporto. Esse objectivo foi em parte inglório pelo que todos sabemos. O outro objectivo, mais cínico, tem como meta o Portugal pós fundos europeus. Nessa altura, quando já não houver dinheiro da Europa para distribuir, a Regionalização acontecerá. Sem a ‘pimenta’ da União Europeia Lisboa pretende governar-se apenas a si própria e não está para aturar nem rebocar o resto do País atrasado. A única área que podia interessar, a Área Metropolitana do Porto, está longe, 300 km a Norte. Assim sendo Lisboa resguarda-se e constitui-se como uma região exclusivamente litoral e urbana agregando apenas a, embora pobre, industrializada Península de Setúbal. Os campos do Oeste e do Ribatejo que se amanhem. Não interessam e Lisboa já se descartou deles. Só nós aqui no Porto é que ainda continuamos, se calhar ingenuamente, a julgar que temos como missão preocuparmo-nos com o desenvolvimento de Trás-os-Montes, Alto Minho e até Braga.
Ora bem, como a comparação era entre NUTS II, e apesar de apenas a conurbação do noroeste receber indemnizações compensatórias na NUT II Norte, e porque esta, ao contrário de Lisboa, englobar vastas zonas rurais, a comparação está correcta. Lisboa é uma NUT II e as indemnizações, pelas características próprias da região coincidem com todo o território, mas as comparações devem ser sempre feitas entre entidades iguais. De qualquer modo, mesmo entendendo a comparação incorrecta - e dou isto de barato - não é razão para tanto alarido. Só a mentalidade doentia dos portofobos do costume é que podem descortinar aqui um escondido tique centralista a imputar ao Porto. Mas para esses até um simples espirro vindo do Porto é razão para se porem logo a ladrar, salivar e a tocar campainhas.
Os “jovens turcos” bracarenses
Braga, há décadas refém da trilogia serôdia, provinciana e beata “igreja-empreiteiros-mesquita machado”, parece estar a assistir à emergência duma suposta ‘elite’ de “jovens turcos” recentemente saídos da UMinho. Estes parecem ter como objectivo fazer de Braga ‘capital’ duma região. Apesar de jovens ainda estão no tempo das Províncias de Salazar.
Nos tempos que correm, só as regiões que concentram massa crítica suficiente, tanto nível económico, como populacional, tecnológico, de conhecimento, infraestrutural e financeiro é que poderão sobreviver na competição internacional. Condição fundamental é ainda ligarem-se ou transformarem-se num nó da rede mundial de fluxos informacionais e financeiros. Aqui, nesta parte do território ibérico, essa massa crítica concentra-se na metapólis que vai de Vagos a Braga, com epicentro na Área Metropolitana do Porto. Quem não for capaz de perceber isto é porque é incapaz de entender como o mundo funciona hoje em dia. A regionalização/autonomia que nós discutimos aqui no nosso território é tudo menos uma questão local. É uma acção local integrada numa estratégia global.
Imagem de satélite da Península Ibérica tirada à noite onde se podem ver as concentrações populacionais existentes. (Retirada do Blasfémias)
Todo este conjunto, que curiosamente é cosido em toda a sua extensão pela CP Porto, deve cimentar a sua autonomia política o mais rapidamente possível e atar-se o mais solidamente aos dois nós da rede mundial mais próximos: Londres e Madrid. Ambos a apenas duas horas de viagem. Principalmente a primeira porque é a principal praça financeira da Europa e uma das maiores do Mundo. É para lá que devemos olhar. É lá que devemos procurar financiamento e mercado para as nossas empresas. O dinheiro da União Europeia acabará em breve e a partir daí ou somos competitivos ou sucumbimos.
Estes ‘turcos’, se um dia levarem a deles avante, arriscam-se a transformar a cidade de Braga numa realidade ainda mais periférica do que já é e entrar num processo de irreversível empobrecimento. Uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes isolada e ancorada num hinterland rural e pouco instruído não me parece que tenha grande futuro. Não acredito que na hora da verdade tanto Famalicão como Guimarães corram atrás da quimera. O Futuro está na sedimentação da meta cidade do noroeste e na interligação aos seus eixos interiores Viseu-Guarda e Douro. Caso isso não ocorra só o Grande Porto, embora fragilizado, poderá esperar ter um futuro medianamente risonho. E nesse cenário não haverá força económica, nem política, para alavancar o desenvolvimento de toda a região Norte.
A Escola de Ciências Socias da UMinho parece ter falhado a sua missão. Não incutiu nestes jovens a capacidade de alcançarem uma visão holística da realidade social. Falta-lhes a capacidade de ver como os pássaros. Isto é, ver a big picture. Se calhar a culpa não é da Escola de Ciências Sociais e o problema deve-se aos protagonistas serem oriundos de escolas mais 'tecnológicas', muito mais fechadas nas suas disciplinas e sem lastro humanístico suficiente para terem 'imaginação sociológica'. Mas enfim, eles lá andam trampolinando.
As Organizações
Todas as organizações, por mais pequenas que sejam, e este blogue é uma organização porque é um conjunto de pessoas que unem esforços para levar a cabo um conjunto de objectivos comuns, precisam de ter claramente definida e interiorizada a sua missão e objectivos inequivocamente delineados. Todos os seus membros têm que remar no mesmo sentido para que tenha sucesso. Organizações cinzentas, dúbias, com membros com agenda dupla e objectivamente a fazer o trabalho contrário ao rumo traçado, fracassam. Eu não participo numa organização assim montada. O albergue espanhol onde cabe tudo não faz o meu género. É altura de clarificações. Do separar de águas.
Nota Final
"Pedro Morgado disse...
Lamento a pessoalização da discussão. Ficaria melhor assumir o erro do mapa publicado anteriormente.
21 de Outubro de 2008 12:40"
Muitos, quando sentem que lhes faltam argumentos para se fundamentarem numa qualquer discussão, passam para a velha táctica de dizer que os estamos a atacar pessoalmente. É uma saída cobarde e desonesta. A mim não me interessa nada da vida dos outros, nem das suas próprias pessoas. Não me interessa saber se são gordos ou magros, se comem batatas, se fumam, se são casados, solteiros ou viúvos; se vestem calças vermelhas, pólos lacoste e calçam sapatinhos de vela; se são homosexuais, heterosexuais, metrosexuais ou, até, asexuais. Mas as suas ideias políticas e o seu comportamento político interessa-me, analiso, comento e classifico. E alguns são comprovadamente execráveis. Ponto!
4 comentários:
António,
Algumas questões:
1. Braga é prisioneira de si própria e de Lisboa. O Porto funciona como pode expiatório.
2. A luz significa aglomeração urbana e não desenvolvimento económico. Precisão que não afecta a sua tese.
3. Pois. Tecnologos a falar de ciencias socias dá sempre em novo-riquismo à João-Miranda. Seria o mesmo que se eu escreve-se e teoriza-se sobre Medicina, redes de IPs ou biotecnologia.
4. O convite do Pedro Morgado foi para enriquecer a discussão a Norte. Apesar de poder não concordar com ele, a visão dele enriquece a discussão porque representa a percepção que Braga tem, certa ou errada. A missão do Norteamos é debater o Norte e esclarecer as diferenças que existem internamente. Não me interessa ter um pensamento único. Interessa sim ter uma sintese do pensamento a Norte. O seu raciocício parece o outro que há dias dizia na Baixa do Porto que apesar dos erros de Rui Rio devemos apoia-lo e remar para o mesmo lado.
5. António, pode ser fechar o olhos e fazer de conta que a realidade não existe, que Braga não pensa como pensa ou que Braga vai ficar num beco rural e que não vale a pena esclarecer os bracarenses. O Norteamos é livre. Acho, no entanto, que o caminho deverá ser o de fazer ver que Pedro Morgado está errado em confundir o Norteamos como «portocentricos». Não o somos e portanto o Pedro Morgado deveria estar mais atento.
escrevesse e teorizasse
todos nós sabemos que hoje as pessoas aglomeram-se onde há desenvolvimento económico. o que não é o mesmo que desenvolvimento humano. mas isso é outro assunto. para fazer luz é necessário dinheiro.
e caro josé silva, há a questão da boa e má fé. como não tenho o interlocutor por ignorante, alguns comportamentos são inaceitáveis até porque são recorrentes.
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