20090707

TGV Lisboa-Madrid ao serviço da hegemonia castelhana na Ibéria. Os Migueis de Vasconcelos lisboetas obviamente que alinham

Jornal de Negócios Online
Com a drástica redução da "distância" para Madrid, prometida pela alta velocidade, a "Costa Oeste" da Europa pode afinal ser apenas la playa madrileña. E o aeroporto de Barajas, a menos de três horas, será também o nosso aeroporto. O que D. João de Castela não conseguiu no cerco de Lisboa ou em Aljubarrota, nem D. Filipe IV nas guerras da restauração, pode vir a ser conseguido pelo TGV. Refiro-me à conquista de Lisboa. E a terceira travessia do Tejo vai ser a passadeira que estendemos, para a entrada triunfal de nuestros hermanos em Lisboa.

Esta pacífica invasão, anunciada pelo TGV que virá de Madrid, traz-me à memória Eça de Queirós. Cônsul em Newcastle em 1878, o escritor pensou em escrever um romance - A Batalha do Caia. O argumento era simples: Portugal é invadido pela Espanha e humilhado na sua dignidade de nação secular. Com ele esperava Eça de Queirós exaltar a independência nacional e avivar a consciência colectiva para superar o "rebaixamento" sofrido. O romance nunca foi publicado, mas ficou um conto - A Catástrofe - a atestar a sua ideia.

Estou convicto de que o nosso Eça, que foi cônsul em Inglaterra e França, e foi um dos nossos grandes europeístas do século XIX, nunca terá passado por Madrid. Naquele tempo, a Europa começava nos Pirenéus. E a ligação de Portugal à Europa, já feita pela via férrea, não passava por Madrid. Passava, e ainda passa, por Salamanca e Valladolid, pelo caminho do Sud-Expresso até à fronteira de Irun… É também esse o caminho dos milhões de emigrantes portugueses que vivem e trabalham na Europa, e aos quais o TGV de Madrid de pouco ou nada servirá.

Enquanto país, Portugal tem que ter uma estratégia em relação ao futuro. E essa estratégia passa, em primeiro lugar, por uma definição clara da sua relação com a Espanha: ou União Ibérica, ou reforço da independência nacional. A construção do TGV de Madrid para Lisboa, de que hoje tanto se fala, não pode ser desligada dessa estratégia. Para o melhor e para o pior! E o debate sobre a sua construção não deve ser deixada apenas aos engenheiros que a aprovaram, ou aos economistas que agora a vêm reprovar.


3 comentários:

Rui Rocha disse...

Até agora o tgv nunca iria servir para nada porque ninguem no seu perfeito juizo iria de Portugal para Paris de comboio quando havia o avião. Agora o tgv já não serve para nada porque passa em Madrid e não vai directamente para França.

Ok que é bonito e politicamente correcto ser contra o comboio de alta velocidade, mas nem todos os argumentos são válidos.

Ventanias disse...

O problema, caro Rui Rocha, é que a Alta Velocidade é uma questão de luxos... caros.

A ligação à Europa, que não precisa de ser em AV basta ser em velocidade moderna e em linha compatível, esse é que é o problema e o busilis da questão e do artigo...

CCz disse...

Caro José Silva,
.
Não gosto das ideias do Florida, partidário da drenagem, mas convém estar atento:
.
http://bit.ly/4ydQ2

Leituras recomendadas