Opinião - Jornal de Notícias
A EDP anunciou a entrada em operação, no Porto, do seu centro de controlo das eólicas, a partir do qual gere os 83 parques e 1482 turbinas de aproveitamento da energia do vento...
Depois de ter sido obrigado a renegar a sua teoria sobre o movimento dos astros, Galileu terá murmurado a expressão em epígrafe que significa algo como "e, contudo, move-se". Referia-se à Terra, até aí considerada o centro do universo.
A imagem pode aplicar-se à Região do Norte. Todas as análises concordam que o país não sairá do buraco em que o metemos sem que a economia nortenha comece a recuperar. É o resultado do seu peso no produto, exportações e emprego. Uma visão demasiado "nortecêntrica" corre, porém, o risco que lhe aconteça o mesmo que à visão geocêntrica: não perceber que o mundo à sua volta mudou. Continuar a pensar que é o centro da solução quando, pelo contrário, será o núcleo do problema. Para a analogia ser perfeita, só falta que a região esteja parada. O que as estatísticas têm demonstrado, profusamente, ser verdade (ou mais do que verdade, dado a economia regional ter, mesmo, regredido).
Como a querer contrariar tudo isto, as últimas semanas têm sido pródigas em boas notícias para o Norte. Começando do fim para o princípio e do certo para o incerto. A EDP anunciou a entrada em operação, no Porto, do seu centro de controlo das eólicas, a partir do qual gere os seus 83 parques e 1482 turbinas de aproveitamento da energia do vento, distribuídos por 13 países. Até 2012, a EDP prevê que a sua actividade se expanda para 270 parques eólicos, envolvendo quase 7 mil turbinas. A notícia é importante, não tanto pelo número de pessoas envolvidas mas pela concentração, a Norte, de mais uma competência do chamado cluster do vento, a somar às fábricas da Eneop, em Viana do Castelo, onde se começou por produzir pás e se produzem, hoje, também torres e geradores. Se lhe somarmos a actividade da Martifer, na Região do Centro, vemos que num raio de pouco mais de 100 km, a partir do Porto, se concentra um enorme potencial no domínio da produção de equipamento para a energia eólica. Se for possível concretizar a solução para a Qimonda pensada por Manuel Pinho, o Norte e o Centro terão uma palavra a dizer no âmbito das energias renováveis, em especial se as conseguirmos articular com o potencial de investigação detido pelas universidades destas regiões. Centros de decisão políticos regionais certamente ajudariam…
Mesmo sem um centro de decisão a Norte, a ANA saiu-se bem ao concluir um acordo com a Ryanair para esta estabelecer uma base no Porto. Mesmo que sejam só dois aviões que cá "dormem", isso permite voos mais cedo e algumas novas rotas. Com o Douro a consolidar-se como um destino turístico internacional, essa é uma boa notícia. Como o é, em geral, para uma região com uma economia fortemente voltada para o exterior. Região discreta, mas consistentemente abandonada pela TAP, cada vez mais apenas uma companhia de bandeira por reflectir a centralização do país.
Uma região parada? Talvez não. Paredes e a criação de uma cidade tecnológica; Guimarães e a capital europeia da cultura; Braga e o centro de nanotecnologias; o turismo (rota do românico; Vidago; Gerês; Paiva e Vouga; Bragança e os seus museus); os vários pólos de competitividade sediados a Norte. E pur si muove. Se houvesse quem desse corda a este movimento! E garantisse que os apoios que são imputados à região nela produzem efeitos…
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Tudo o que alberto Castro escreve é verdade. Porém temos que descontar:
- o facto de ele ser amigo pessoal de Teixiera dos Santos, novo ministro da Economia;
- o facto de muitas das «cedências» do governo terem resultado de protestos a Norte;
- a cidade tecnológica de Paredes é «bluff» e a CEC Guimarães está sub-financiada;
- estamos em periodo eleitoral.
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