Ora, as políticas dos governos nos últimos 15 anos (pelo menos) foram precisamente as contrárias às necessárias para o reforço da competitividade destas regiões:
- Por um lado, o investimento público foi todo direccionado para o Sector Não-Transaccionável, desmobilizando recursos para essas actividades, enquanto implicava impostos adicionais para o Sector Transacionável.
- Depois, uma política de criação de "campeões nacionais", que implica um aumento dos custos de produção para o resto das empresas: comunicações, energia, transporte, em todos eles pagamos um imposto escondido, em resultado da ineficiência protegida a estas empresas (e das margens monopolísticas). E, no caso do transporte aéreo, o proteccionismo existente torna-nos um país mais periférico e menos atractivo do ponto de vista turístico (que também é sector transaccionável).
- A criação de instrumentos de subsidio-dependência. A subsidiação às empresas, que impede desemprego pontual no curto prazo, significa também que impedimos que as melhores empresas substituam as piores. E sem uma adequada renovação do tecido empresarial, a região perdeu competitividade ao longo do tempo.
- Um nível de burocracia elevado, que cria elevados custos de contexto, dificilmente suportáveis para quem sofre a concorrência internacional, e com propensão a permitir "vitórias na secretaria". A somar a isto, às dificuldades burocráticas para as empresas nacionais contrapõe-se as facilidades para os projectos de investimento estrangeiro. Ora, as empresas nacionais têm menor propensão para deslocalizar a produção, criam know how local e, porque mais pequenas, criam menor dependência ao nível local* e maior flexibilidade no tecido económico.
O Norte perdeu competitividade internacional e entrou em decadência, tal como o resto do país. Aliás, o Norte, sendo a economia regional mais aberta ao exterior, é um bom barómetro da situação real do país em termos de competitividade internacional.
Apenas a Região de Lisboa conseguiu manter-se relativamente imune... mas o feito foi conseguido graças ao peso dos Não-Transaccionáveis na região. O problema é que só existe competitividade quando baseada nos sectores transaccionáveis. O facto desta região importar o triplo do que exporta* é revelador da sua real competitividade.
Dizia Miguel Cadilhe, no debate sobre a Regionalização da semana passada no Porto, que existe uma tese, nalguns governantes (e não só), que defende que Portugal necessita de uma mega-capital para conseguir ser competitivo no espaço europeu. Se a tese é má (e profundamente antidemocrática), as políticas a ela associadas foram ainda piores: Portugal perdeu competitividade internacional de forma dramática. Incluindo a Capital.
* Quando uma fábrica emprega 20% da população de um concelho, o seu encerramento implica um drama social na região (é impossível que tanta gente encontre alternativas de emprego em pouco tempo), o que propicia situações de "chantagem" para a obtenção de subsídios adicionais. É assim que nasce a subsídio-dependência.
** Apenas considerando bens. Em abono da verdade, Lisboa tem um desempenho relevante ao nível do Turismo.
10 comentários:
E pior, acredito que muitas empresas no Norte já perceberam e já deram ou estão a fazer o "comeback", no entanto, em simultâneo tem de alimentar o cuco da economia de bens não transaccionáveis, e isso é muito pesado.
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http://picasaweb.google.com/6ccruz/BalancedScorecard02/photo?authkey=OkB3RakQ__I#5157823666350453570
Caro Pedro,
1. Na minha opinião a razão é outra: É a crónica incapacidade dos agentes económicos anteciparem as tendências económicas e sobretudo políticas e adaptarem-se em conformidade. Isto deve-se a ignorância sobre o funcionamento das sociedades e à disponibilidade para o sacrifício para ter uma vida espartana. E isto não é culpa de Lisboa, note-se. Prova disto mesmo é este artigo: http://regioes.blogspot.com/2008/07/rea-metropolitana-do-porto-poder-seguir.html. Ideia de um cluster de industrias criativas a Norte era a solução à 20 anos atrás. As Dot.com acabaram já lá vai 10 anos, e a drenagem industrial exercida pela China/Asia acabou nos últimos meses devido aos custos de transporte. Agora o cluster nascente é mesmo o near-shore e uma reindustrialização sensata, como tem vindo a escrever o CCZ. Os políticos e agentes económicos a Norte andam a dormir ou a tomar «prozac»... Daí a importancia de Nortear...
2. Sobretudo, a política económica dos últimos 15 anos ou mais foi no sentido de esvaziar o Norte de cabeças pensantes, drenando recursos humanos para Lisboa através da criação de oportunidades de carreira na economia protegida.
3. Alem dos impostos temos de incluir as margens monopolísticas adicionais que o sector não transaccionável cobra ao transaccionável.
4. O sector não transacionável tem lobby montado no PS, PSD-Centralista e até PP. Veja-se o nº de ex-políticos/administradores de grandes empresas... Tem ainda SEDES e CompromissosPOrtugais... O não transaccionável tem lobby muito informal e amador no PSD-populista. O Transaccionável tem toda a comunicação social económica, excepto o VidaEconómica... As políticas/investimentos públicos acabam por ser em função das necessidades de encomendas do sector não transaccionável, desde os portateis subsidiados para o ensino secundário com internet móvel, até aos TGVs/SCUTS/Otas.
PS1: Está a confundir Transaccionáveis com produtos/bens físicos. O conceito correcto é Bens e Seviços Transaccionáveis. Efectivamente, o turismo, a exportação de software, de consultoria/project finance, de I&D, os call-center internacionais ou a concessão líquida de crédito ao exterior ou o recebimento de royalities de patentes ou afins são serviços Transacionáveis ou que estão sujeitos a concorrência internacional. Obviamento que Lisboa não se destaca em nenhum destes items...
PS2: Não esquecer que o PIB/produtividade a Norte está sub-avaliado devido à maior incidência da economia informal e sub-facturação.
PS3: Outro texto identico: http://norteamos.blogspot.com/2007/09/porque-ser-que-produtividade-do-norte.html
PS4: Assim como o meu texto «Alienação desportiva não norteia» daria pelo menos para uma tese de mestrado em Sociologia, este seu texto serve também de base para tese de mestrado em Economia. Como vê, aos 27 ou 28 anos já se pode ensinar... Parebens !
Complementando o ponto 1: A Regionalização seria uma medida importante, porque iria inevitavelmente criar «think tank»/actores regionais com capacidade de antecipar e difundir o futuro para a iniciativa privada/famílias.
O NÂO Transaccionável tem toda a comunicação social económica, excepto o VidaEconómica
1. Não concordo consigo no que se refere às indústrias criativas (concordo com o resto).
Existe o seguinte modelo em termos de divisão dos sectores económicos:
1. Sector Primário - Agricultura
2. Sector Secundário - Indústria
3. Sector Terciário - Serviços
4. Sector Quaternário - Conhecimento
5. Sector Quinquenário - Criatividade
Vivemos neste momento a revolução do Quaternário. Mas o futuro... é o quinquenário, que tem vindo a ganhar um peso crescente todos os anos.
PS1: Tem razão. Não o fiz no início do texto, onde até falo no turismo, mas efectivamente fiz essa confusão no comentário em **.
Farei um pequeno ajustamento ao texto.
PS2: Infelizmente, isso é um tiro no pé. Tornamo-nos muito menos atractivos para o investimento estrangeiro quando as empresas olham para os indicadores da região.
PS4: Obrigado. Estou a fazer um esforço para elevar um pouco mais a qualidade do blogue. (tenho 26 anos).
Faz sentido industrias criativas ?
1. Vá a rentacoder.com e veja quanto custa a produção de conteudos multimédia na India.
2. No outro dia andei à procura de um DVD de ensino de ingles para a minha filha. Procurei na FNAC e acabei por encontrar vários videos legais e amadores no Youtube. Gratis...
3. Há uns 3 anos apareceu no escritório onde trabalhava no Porto um pintor polaco a vender quadros por 50€. Falava fluentemente português e os 50€ mal dariam para pagar a moldura... Eram imitações e originais que resultaram da sua licenciatura em artes plásticas...
Estarei enganado ? Será mesmo as industrias criativas, hoje a solução ? Só se forem subsidiadas... Há 20 anos, diria sim. Hoje, não sei. De qualquer modo o Norte exportador vai dar a resposta nos próximos meses.
Na área criativa, o mais relevante não é o custo, é a real existência de criatividade, que é um bem escasso.
Milão e Paris são capitais criativas. Não são conhecidas por produzir obras baratas...
PEdro, será realista pensar que Portugal tem imagem de marca para vender criatividade ? Temos o caso Maddie e disputas do FCP/SLB na UEFA, os incêndios, as pontes de Entre-os-Rios a cair a criar má imagem.
Há tempos um estudo do sector do calçado revelou que em Itália os sapatos nacionais sem marca vendem-se 25% mais caro do que com «Made in Portugal».
Não quero desiludi-lo, mas também não acredito na viabilidade de um negócio desses sem subsídios. Se conseguirmos substituir importações, de telenovelas brasileiras ou lisboetas ou se conseguirmos sedear no Porto os músicos de cá originários (Rui Veloso e Reininho, Sérgio Godinho, Cla, Abrunhosa, entre outrso) já não seria nada mau.
Francamente o conceito de voluntarismo público para industrias culturais é muito lisboeta. O melhor é deixar as coisas como estão. Quando muito voluntarismo público na coordenação independente de agentes privados...
Caro José Silva,
Não podemos pensar assim! A nossa imagem só serve de desculpa. Pessoalmente acho que são muito poucos os consumidores que sabem ou querem saber onde os bens são fabricados. É mais importante a própria marca. Bons exemplos disso no calçado são a Ecco e a Aerosoles.
Para mim a razão da decadência deste país é a falta de investimento nas pessoas. A mediocridade está em todo lado. As excepções são escassas. Outro exemplo bem conhecido é o caso da Zara/MaConde. Foi o "made in Portugal" que minou a MaConde?
Actualmente é preciso saber inovar. As pseudo-políticas que nos impigem, andam sempre a reboque, e.g. sociedade do conhecimento, novas tecnologias, etc. o paleio foi muito, o que foi feito, foi muito pouco e foi/é atrasado. A realidade é que Portugal foi sempre vendido como local de mão de obra barata e nunca houve investimento real e a longo prazo para inverter esta realidade.
Caro sguna,
O voluntarismo público para a criação de clusters, geralmente made in Lisboa, consiste em sacar impostos para pagar aos promotores dos estudos ou produtores/fornecedores iniciais.
Nada tenho contra alguem individual ou colectivo, privado, se envolva nesses negócios. Aliás eu próprio tenciono faze-lo. Agora, voluntarismo público do tipo subsidiar, para alem do razoável, a produção de conteúdos ou cultura ou edificios ou organizações, parece-me falta de respeito pelos contribuintes. Acho no entanto aceitável, aliás desejável, por exemplo, que Rio e recursos humanos da CMP se envolvessem na transferência do «cluster» cultural da Rua Miguel Bombarda para a avenida dos Aliados ou que os hoteleiros e afins subsidiassem colectivamente mais eventos do tipo RedBull AirRace. Medidas que gerariam turismo e consumo interno na AMPorto, com custo praticamente nulo e elevada reprodutividade económica e social.
Mas lá está, o voluntarismo do Rio é no Aleixo, privatização de lixos e Bolhão, réplica dos negócios de B&S Não Transaccionáveis (BSNT) de Lisboa, que dão espaço de manobra para o financiamento partidário e da carreira do mesmo. O voluntarismo do Rio é escolhido a dedo vá lá saber-se porquê...
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