Estudo defende que infra-estrutura não deve ser incluída em monopólio privado.
Consórcio Sonae/Soares da Costa já fez chegar ao primeiro-ministro estudo sobre gestão do aeroporto. Mais uma vez, autonomia em relação ao aeroporto de Lisboa é a opção defendida.
O consórcio Sonae/Soares da Costa já fez chegar ao primeiro-ministro, José Sócrates, o estudo que elaborou sobre a gestão privada do Aeroporto Francisco Sá Carneiro (AFSC). E os resultados, de acordo com o presidente da Junta Metropolitana do Porto (JMP), Rui Rio, vai no mesmo sentido dos que esta entidade já mandara realizar: "É decisivo que haja autonomia [de gestão] no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que este não seja integrado num monopólio privado". O líder da JMP e presidente da Câmara do Porto falava no fim de uma reunião da Junta com representantes da Sonae/Soares da Costa, da Associação Empresarial de Portugal (AEP) e da Associação Comercial do Porto (ACP).
Da próxima vez que José Sócrates ouvir falar na necessidade de não submeter o AFSC à gestão da ANA é bem provável que o apelo seja feito a várias vozes. A JMP, ACP e AEP acordaram, ontem à tarde, "lutar por este princípio e, a partir de agora, caminhar em conjunto", esclareceu Rui Rio.O próximo passo será enviar ao primeiro-ministro uma carta, assinada por representantes das três entidades, a explicar isso mesmo e algo mais que o autarca não quis, para já, adiantar. "Vamos dizer-lhe que aceitamos o desafio por ele lançado e que temos interesse em fazer parte do debate sobre o futuro do aeroporto", disse Rio, referindo-se ao facto de Sócrates ter admitido que, desde que a região mostrasse capacidade para uma gestão autónoma do AFSC, estava disponível para analisar essa possibilidade.
Ontem, Rio voltou a defender que a integração do AFSC num monopólio da ANA (que incluiria ainda os aeroportos de Lisboa e de Faro) seria prejudicial à Região Norte. "Nesse contexto, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro ficará sempre subordinado a uma lógica de investimento do aeroporto de Lisboa e não do Norte", justificou.
O líder da JMP também não se deixou intimidar pelos resultados de um estudo encomendado pela ANA, dando conta que os privados poderiam ter que esperar vinte anos, antes de obter qualquer lucro com a gestão do AFSC, e que, mesmo assim, seria necessário um acréscimo de passageiros na ordem dos 4,6 milhões de pessoas. "A ANA continua sem nos dar os elementos desse estudo. Pedimo-los há muito tempo, mas continua sem os fornecer", começou por dizer, antes de ironizar: "Se o estudo da ANA é como diz, se o aeroporto dá tanto prejuízo e é um peso tão grande para a ANA, ainda bem que há alguém disposto a pegar nele. Que grande negócio que a ANA tem pela frente."
A JMP encomendou estudos à consultora Deloitte e à Faculdade de Economia da Universidade do Porto que apontavam no sentido da gestão público-privada, com capitais locais, ser o melhor modelo para o AFSC. A entrega da gestão exclusivamente a privados, desde que autonomizada da restante rede aeroportuária, foi considerada pela FEP como a segunda melhor hipótese. O empresário Belmiro de Azevedo já declarou que gerir o AFSC lhe interessa numa vertente exclusivamente privada.
A assinatura dos representantes do consórcio Sonae/Soares da Costa não irá constar da carta a enviar ao primeiro-ministro. Tudo porque a JMP, a ACP e a AEP não querem ficar presas à defesa de um projecto de um grupo económico, explicou Rui Rio. "Estas três instituições não apoiam, em concreto, uma proposta de um grupo económico, mas um objectivo", disse. Ainda assim, ressalvou: "O consórcio Sonae/Soares da Costa dá-nos o conforto de sabermos que há quem possa levar isto avante."
Público - 10.07.2008
5 comentários:
Prezado Pedro,
li hoje num journal alemão, que o primeiro submarino para Portugal está pronto.
Financiado através de "junto de barter deals" com a empresa Ferrostaal.
Agora deixa-me pensar:
Portugal compra dois submarinos na Alemanha.
Alemanha da um credito.
Ferrostaal compra este credito.
Ferrostaal vende partialmente ou a totalidade a VW ou outras...que vão investire em Portugal e compensar as dividas com os creditos....
Enfim não pagar nada aos Portugueses !
E o goberno gaba se a dizer:
Os submarinos não custam nada !
Ralf
(link meu homepage/meunome)
Ralf,
confesso que não percebi bem o raciocínio. Creio que estou um pouco fora do assunto... Importa-se de tentar explicar o que são "barter deals"?
Pedro,
vou tentar....
Foi noticia num programa da televisão alemã em 2004:
http://www.wdr.de/tv/monitor/beitrag.phtml?bid=608&sid=116#
"Opel vai para Polonia devido ao deal de armamento"
(abre o pdf)
minha tradução
2003:
Polonia compra F16 fighter por 3,5 mil mlhões US $ de Lockheed Martin.
A USA da credito a Polonia.
Lockheed -por gratidão- oferece um Kopplungsgeschäft "negocio de accomplamento" a Polonia.
Isto é: investimento de 6 mil milhões de US$ (!!).
Opel tem fabricas na Alemanha.
Lockheed faz com Opel um "compensation deal":
Opel vai investir com subsidios de Lockheed na Polonia e produzir valores, que Polonia não vai receber porque Opel declara a compensação/troca/barter com as dividas (por causa dos F16)
As fabricas na Alemanha fecham !
Por causa disso -e não por causa da produtividade etc.....
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Pedro,
eu acho, que Ferrostaal oferce a SONAE e VW as dividas de Portugal.
Vamos imaginar,SONAE comprou uma opção e quando fala com o governo portuguese fala como um comerciante de Venezia Shylock (Shakspeare).
"Se tu me das o negocio de Pedra Rubas - podes diminuir as dividas no teu deficit"
Resposta do governo em Lisboa ?
"Yes, please !!"
Ralf
(bater trade is wonderful...if you do it!)
Caro RALF,
Agradeço desde já a sua contribuição para a compreensão destes «negócios».
De qualquer modo há algumas questões a clarificar.
O ASC dá prejuizo devido à dívida de investimento na recente modernização. Belmiro explicou isso na 3ª sessão do OCP deste ano, documentado aqui no Norteamos.
Belmiro já percebeu que o ASC é serviço público e não oportunidade de negócio.
Se Forrestaal der a dívida estatal dos submarinos à Sonae, o que é que esta tem que dar em troca ? Mesmo que essá troca se concretize, a Sonae ficaria an mesma situação, não é ?
Não ponho as mãos no fogo por Belmiro. Mas não me parece que haja neste caso mafiosidade.
2.
Pelo que percebi, não vejo nada de anti-ético nos barter deals. Apenas estupidez...
Basicamente o barter deal consiste numa espécie de troca directa. O governo compra algo ao estrangeiro e pede em troca que o valor pago seja investido em Portugal.
É um comportamento tipico do mercantilismo, e o seu objectivo é garantir equilibrio nas balanças de transacções com o exterior.
Na verdade o que acontece, é que a X para um submarino de 1.000M€ pede 1.200€ em crédito. Vende esses 1.200M€ em crédito por 1.100M€ a uma empresa que já pretendia investir em Portugal, p.e. a VW. Assim a X ganha 100M€ e a VW outros 100M€. Não há investimento adicional em Portugal. Nem questões éticas. Apenas empresas que agem racionalmente perante um governo disposto a emitir dívida com uma taxa de juro brutal...
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