20080918

Brisa suave

O modelo de negócio das empresas de Bens e Serviços Não Transaccionáveis patrocinados pelo Estado Central de Lisboa e em crédito barato está a ruir. A empresa paradigmática destas PPPs/SCUTs é a Brisa, em dificuldades. Disto resultará encargos adicionais nos serviços que já detém e finalmente, espero eu, o cancelamento de megalomanias em Lisboa, TTT, Alcochetes, TGVs, Expo2, etc. Por acaso, apanhei esta análise financeira à empresa e por isso decidi publicar.

Efectuei agora uma análise pormenorizada aos Relatórios Anual de 2007, e Semestral de 2008, da Brisa, mais completos que as informações iniciais de apresentação de Resultados que eu já tinha analisado. E os dados permitem tirar conclusões com valores objectivos muito pouco agradáveis. A Brisa está bastante exposta à actual alta das taxas de juro, já que apenas 53% da dívida está a taxa fixa, e os restantes 47% estão a taxa variável (a divida total liquida em 30-06-2008 era de 3,64 mil M€, muito elevada). Das taxas de juro variáveis, algumas atingem já 6,26% (média da dívida das Autoestradas do Atlântico, embora sobre 208 M€), ou 6,07% na Brisal (sobre 441 M€), e uma taxa alta de 6,05 % da Norwest Parkway (sobre 210 M€). A taxa média de juros suportada em 2007 foi de 5,24%, que actualmente sobre a dívida de 3,64 mil M€, representa um valor anual de 191 M€ por ano, cerca de 30% (!!!!!!!) das Receitas Operacionais anuais (que são de cerca de 640 M€). Os empréstimos liquidos dividem-se em cerca de 1,1 mil M€ em obrigações (duas emissões uma de 500 M€ de 2003 que vence em 2013, e outra de 600 M€ de 2006 que vence em 2016), e a esmagadoramente maioria da dívida restante em empréstimos do BEI (1,2 mil M€), e ainda a muito falada titularização de créditos à Tagus de 400 M€ por contrapartida de consignação de receitas em 2008-2012. Ora, uma PRIMEIRA CONCLUSÃO IMPORTANTE: quer o mercado de obrigações quer o BEI (Banco Europeu de Investimentos) são muito sensíveis a ratings BBB+ actualmente atribuido à Brisa, ou seja abaixo de A, pelo que os empréstimos futuros da Brisa vão ter spreads MAIS ALTOS. Mas o plano de pagamentos da Brisa até 2016 é verdadeiramente angustiante: vão vencer-se 69% dos empréstimos nestes próximos 8 anos!!!! Isto quando se sabe que a Concessão principal só termina em 2032...Veja-se o plano de amortizações de empréstimos (valores aproximados, em gráfico na página 68 do Relatório Anual de 2007, correspondente á página 72 da contagem de Acrobat Reader): 2008: 262 M€; 2009: 200 M€; 2010: 200 M€; 2011: 200 M€; 2012: 200 M€; 2013: 600 M€; 2014: 90 M€; 2015: 90 M€; 2016: 680 M€; Total de 2008-2016 = 2,5 mil M€, o que representa cerca de 69% dos empréstimos totais liquidos de 3,64 mil M€, o que dá uma média anual em 2008-2016 de cerca de 280 M€ de amortizações de empréstimos, muito alta! Ora, por estes dados é simples calcular o cash anual da Brisa: Resultados Liquidos estimados para 2008 de 104 M€. Há que acrescer 198 M€ de Amortizações de Imobilizado e Provisões que também constituem o cash no final de cada ano. Temos que o cash é de 302 M€ (104+198). Ora, pagando uma média de 280 M€ de dívida por ano, de 2008 a 2016, resta um cash liquido de 22 M€ em média por ano (302-280). Ora isto significa que o cash médio existente até 2016, por ano, ronda os 22 M€, valores que não se espera venham a alterar-se muito significativamente, pois Portugal continua claramente na cauda do crescimento do PIB na Europa, e a politica do BCE é muito menos expansionista que a do FED. Ou seja, em média actual sobram de cash por ano 22 M€, que a dividir por cerca de 580 milhões de acções (já descontadas as acções próprias) dá a possibilidade MÉDIA dum dividendo de 0,038 € por ano, cerca de 12% do valor de 0,31 € que foi em 2008 (referente a 2007). Diz a Brisa que pretende vender activos?! Muito poucos activos tem para vender, e com o valor de realização apenas consegue repor o dividendo no valor de 0,31 € em dois dos próximos 8 anos. Que activos tem para venda: apenas 1% da Abertis (que perdeu 33% de valor de cotação nos últimos seis meses na Bolsa de Madrid), 20 milhões de acções próprias (situação que piora os dividendos em 0,01 € por acção, pois passarão a dividir por 600 milhões de acções e não por 580 milhões de acções como actualmente), e umas pequenas participações na Controlauto e em empresas de cobrança electrónica em autoestradas na Holanda e República Checa.-----------Portanto, nesta minha reanálise da Brisa, recordo que o valor contabilistico está em 2,59 € (de 1,5 mil M€ de capital próprio, e 580 milhões de acções dispersas). O futuro vale 2,49 €. E, agora MAIS que antes, digo: VENDAM convictamente BRISA pois nos próximos 8 anos até 2016 inclusivé, este título terá uma insignificância a dar aos accionistas, como resulta da análise que faço neste texto. A Brisa vai atravessar uma MUITO LONGA travessia de desinteresse.

2 comentários:

CCz disse...

"espero eu, o cancelamento de megalomanias em Lisboa, TTT, Alcochetes, TGVs, Expo2, etc"
.
Deus o oiça meu caro.

Vitor Silva disse...

já ouvi falar várias vezes desta questão dos bens transaccionaveis / não transaccionaveis.
eu lembro-me que algures pelo livro de economia do 9º ano isso estava lá bem explicado mas infelizmente a minha memória já não é o que era... podem dar exemplos do que é um e outro tipo e o porquê das vantagens de um em relação a outro.

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