20090530

O (pseudo) subdesenvolvimento nortenho.

Tenho sempre muitas dúvidas sobre essas estatísticas que periodicamente nos atiram para os confins dos rankings de riqueza. É algo incompatível com o parque automóvel de cidades como o Porto, Guimarães, Felgueiras e até Braga. É também discordante com o boom de construção, os engarrafamentos trânsito, os restaurantes cheios ao Domingo, o crescimento inusitado do Aeroporto Sá Carneiro. Concordo que a crise actual fez abrandar alguma coisa, mas o mesmo se passou noutras regiões e paises, ou não?

Aguardo as explicações dos economistas, mas atrevo-me a lançar uma: fuga ao fisco?

18 comentários:

Jose Silva disse...

Caro SG
Bemvindo !

O desenvolvimento é um conceito civilizacional e não meramente material. Lêr http://en.wikipedia.org/wiki/Human_development_(humanity)

Assim há explicação contextualização para o que escreve.

Há manifestações de poder de compra, nas zonas urbanas, litorais. Nos bairros sociais ou no interior do distrito do Porto já não é assim.

De facto a fuga ao fisco explica. É mais fácil fugir ao fisco numa economia onde o estado cobrador de impostos está distante ou onde predomina a industria. É mais fácil fugir aos impostos no sector industrial do que nos serviços.

A minha explicação é que a Norte se prefere mostrar sinais exteriores de riqueza nem que para tal se tenha uma vida emocional, social, pessoal, familiar miserável. Em Lisboa não é assim, por exemplo.

Jose Silva disse...

Conclusão: O sub-desenvolvimento não é pseudo.

António Alves disse...

"A minha explicação é que a Norte se prefere mostrar sinais exteriores de riqueza nem que para tal se tenha uma vida emocional, social, pessoal, familiar miserável. Em Lisboa não é assim, por exemplo."

Caro José,

Pois eu arrisco-me, sem provas obviamente porque nunca estudei o assunto, a afirmar que a sua declaração não corresponde à realidade. Em Lisboa vive-se muito acima das possibilidades. Aquela sensação de segurança numa população cuja classe média trabalha directa ou indirectamente para o estado assim o permite. Não esquecer que só na administração central são mais de 300 mil funcionários no distrito de Lisboa. Se acrescentarmos os restantes funcionários públicos, do estado central e autárquico, polícias, militares e afins, funcionários de empresas públicas, parapúblicas e protegidas, salta para o milhão de pessoas cujo salário é sustentado pelo estado. A diferença está no estilo de consumo e ostentação, não no volume. Quanto ao 'Norte' (coisa que eu cada vez mais não sei o que é): normalmente confunde-se as coisas; as estatísticas enganam. Meter o eixo Braga-Porto-Norte do distrito de Aveiro no saco do 'Norte' é confundir deliberadamente as coisas. Este eixo é uma das regiões mais ricas do país.Muito diferente do 'Norte'

Jose Silva disse...

António,

Temia que o meu texto tivesse a interpretação que deu e que está correcta.

O que quero dizer é que em Lisboa por várias razões não há tanto materialismo das classes médias: As pessoas não querem ter BMW ou afins. Preferem carros mais baratos. Não há poupanças familiares (a RLVT consome 50% do crédito concedido em PRT); A minha esposa conviceu há uns anos atras com professoras do ensino secundário na Parede, Brandoa e VFXira e ficava abismada com o facto de as colegas de apresentarem todas com o último modelo de roupa, frequentarem bons restaurantes e andarem com carros a cair de pôdre à rasca no final de mês.

Efectivamente o proteccionismo estatal central e o rendimenta que proporciona faz ter outra precepção das ameaças económicas e reorienta prioridades pessoais, como explicaria Maslow.

Efectivamente Braga-Aveiro é o Norte. Representa 75% da população do Norte apesar de pouco em termos geográficos. Por isso a regionalização 1.0 falha. O norte desta correcposde à realidade socio-económica quando se pensou em Regionalizar, no final dos anos 60. Já deviamos há muito ter abandonado o mapa das 5 regiões porque entretanto as realidades mudaram muito. Porvavelmente os defensores da Regionalização 1.0 irão ter o seu Norte idealizado e uniforme: O litoral Norte com a mesma população e dinámica que o interior. Por este andar, daqui por uma dúzia de anos...

Suevo disse...

Caros desnorteados

Os bairros sociais do Porto, a população de Rio Tinto, etc devem todos fazer parte do "interior", uma especie de "nortenhos" de segunda, que devem estar fora do eixo-braga-aveiro(?), curioso que para os desnorteados aveiro seja "norte" mas Vila Real seja uma qualquer especie de interior. Não me surpreende como é obvio.

Sem querer entrar em grandes dialogos, o Antonio Alves dá a enteder que o "porto e braga já para não falar de aveiro" são muito ricos, e que o resto do "norte" (apesar de para mim isso de "norte" tambem não é nada, mas por outros motivos) são uns pobrezinhos.

Ora o Porto é o CAMPEÃO do rendimento minimo RSI, o que desemente a tese que os pobrezinhos são os do interior.

No Porto em 2008 haviam 120509 beneficiarios do RSI.
Em Bragança, apesar da subida em 2008 existem 1607 benificiarios do RSI, e antes que algum ignorante diga que o Porto tem mais gente, digo já que o Porto não tem 100 vezes mais população que Bragança. Atenção que com isto não estou a dizer que para lá do Marão são ricos, mas as coisas não são como as pintam por aqui.

Lisboa tem 54.713 beneficiarios do RSI, menos de metade do que o Porto.

Portanto mesmo quem for contra o RSI em termos ideologicos tera que reconhecer que o Porto MAMA muito à custa do RSI, e que o fim do RSI teria consequencias muito graves para o tal Porto que muitos julgam ser rico e "litoral", sim porque isso de "litoral" deve ser muito cosmopolita.

Em 30 sub-regioes portuguesas o Grande Porto está no top10... das que mais retrocedaram.

Ao nível do índice global de desenvolvimento regional, o Grande Porto está em 17º lugar... em 30 sub-regiões portuguesas, e a afundar-se cada vez mais na tabela.

Para terem uma noção, de acordo com os dados do INE, o indice glogal de desenvolvimento regional o Grande Porto está atras da serra da estrela, a explicação desnorteada é simples, a piramide de maslow explicada tudo para uns, para outros a serra da estrela sera litoral, e para outros a explicação sera psicologica e estara na piramide de maslow.

Já agora para os portocentristas do blogue, o Cavado e o Minho-Lima estão muito acima do Grande Porto neste indicador.

Suevo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suevo disse...

Antes que o Silva comece com os insultos da praxe, o termo desnorteados não é utilizado com a intenção de vos insultar, mas sim devido ao facto de voces defenderem os planos relvas de fusoes de autarquias e outras alternativas mirabolantes que nunca substituiriam a regionalização, entre muitas outras posições vossas que são a meu ver contrarias ao interesse do "norte". Fica o esclarecimento.

Jose Silva disse...

Caro Suevo,

Apesar de saber umas coisas sobre o Porto/Norte, falta-lhe ai uns raciocínios. Amanhã faço um post sobre o assunto.

António Alves disse...

"Ora o Porto é o CAMPEÃO do rendimento minimo RSI, o que desemente a tese que os pobrezinhos são os do interior."

eu nem sequer devia perder tempo consigo pq o seu quadro mental é demasiado estático para ser possível uma discussão minimamente produtiva. confunde deliberadamente o Porto, área metropolitana, com o Porto distrito. É na região do Tâmega onde mais se verifica a pobreza e o grande número de RSI. aliás, um indicador mais verosímel que o PIB e o nº de RSI é o poder de compra concelhio.

"Poder de compra mais elevado associado aos territórios urbanos, destacando-se a Grande
Área Metropolitana de Lisboa, o Algarve e o Grande Porto

No que respeita à distribuição geográfica da PPC ao
nível de município, ressaltam, de imediato, os
pólos de concentração de poder de compra que se
desenhavam nas áreas metropolitanas de Lisboa e do
Porto. O município de Lisboa concentrava cerca de 11%
do poder de compra nacional, apresentando Sintra e
Porto* um peso também importante (4,1% e 3,6%,
respectivamente). Para além destes, mais 20 municípios
concentravam pelo menos 1% do poder de compra do
país: 13 localizados nas sub-regiões Grande Lisboa,
Península de Setúbal e Grande Porto e, ainda, Coimbra,
Braga, Funchal, Guimarães, Leiria, Santa Maria da Feira
e Vila Nova de Famalicão.

Em contrapartida, em 17 municípios o poder de compra per capita era inferior a 50% da média nacional. Estes
municípios encontravam-se maioritariamente concentrados na região Norte, em particular nas sub-regiões do
Tâmega (Resende, Ribeira de Pena, Cinfães, Celorico de Basto e Baião) e do Douro (Freixo de Espada à Cinta,
Sernancelhe, Carrazeda de Ansiães, Tabuaço e Armamar) mas também do Cávado (Terras de Bouro) e do Alto
Trás-os-Montes (Vinhais). Neste conjunto, incluiam-se ainda Vila Nova de Paiva e Aguiar da Beira, no Dão-Lafões;
Nordeste e Corvo nos Açores; e Alcoutim no Algarve."
Fonte: INE

* não esquecer que o concelho do Porto é um concelho pequeno com cerca de metade da população do de Lisboa.

Quando quizer discutir alguma coisa seja pelo menos sério.

Suevo disse...

Silva, a ti faltam-te tantos raciocionios, tantos que se fosse a enumera-los não sairia daqui.
Eu tambem não tenho prazer nenhum em debater com o Antonio, até porque pouco percebo de ferrovias, que parece ser o unico assunto que o Antonio domina.
Não querendo perder tempo com o Antonio, e apesar de não me pagarem para vos ensinar umas coisas, sinto-me no dever de esclarecer alguns eventuais leitores deste blogue que poderão estar efectimente preocupados com o futuro do norte, e é por eles que vou perder algum tempo com esta resposta.
Alias, as limitações do Antonio a interpretar dados estatisticos são tantas que nem reparou que eu falei nas ultimas estatisticas que falavam do GRANDE PORTO, logo depois de ter referido os dados do RSI usei tambem outra estatistica APENAS referente ao grande PORTO.
Para não ter o trabalho de consultar a minha literatura, até vou usar um estudo realizado em 2001 que está publicado na internet.
Vou então falar da cidade do Porto, mais especificamente de duas freguesias, Paranhos e Campanha, os dados repito são de 2001.
Perto de 20% da população NÃO tem qualquer grau de escolaridade, cerca de 30% tem o 1º ciclo do ensino básico, e estamos a falar duma freguesia do concelho do Porto com cerca de 40 mil habitantes.
Em 2001, a taxa de desemprego na freguesia de Campanhã era de 13,7% quando a taxa nacional era 6,7%, mais do dobro portanto.No que se refere à população residente nos bairros municipais de Campanhã, este valor é ainda mais alto e preocupante ultrapassando mesmo os 30% de desepregados (Estudo Socioeconómico da Habitação Social, CMP, 2001). A população de Campanha que residia em bairros ultrapassava em 2001 as 12500 pessoas. O indice de pobreza em Campanha ultrapassava os 40%, existindo também um numero muito superior à media do distrito em relação ao número de beneficiários do RSI e de pensões sociais.

Vamos então agora passar para Paranhos, 17% da população não tem qualquer qualificação académica.

A tudo isto posso ainda acrescentar:
Consumo e tráfico de substâncias psicoactivas
Perturbações Mentais em situação de co-morbilidade com a Dependência de Substâncias; Elevada percentagem de indivíduos seropositivos para o HIV e Hepatites B e C (nomeadamente entre os toxicodependentes) e alta taxa de Tuberculose existente.
Isto são dados de duas das freguesias mais populosas da CIDADE do Porto, e que deveriam envergonhar os portuenses que assobiam para o lado.

Suevo disse...

Dito isto, é um facto, e já o referi varias vezes, que quer o Tamega quer o Douro têm indices de desenvolvimento muito inferiores aos do "resto" do "norte", no entanto é bom que se vá sabendo a realidade que se vive em plena cidade do Porto, nomeadamente nas freguesias que referi, que conseguem ter indices de pobreza que são o DOBRO dos da media do "norte", e estamos a falar repito das freguesias mais populosas da cidade do Porto.

Alias, talvez em Nevogilde não se saiba, mas a quase totalidade da população que residia e foi criada em Miragaia, Sé, Vitoria e S. Nicolau viveu até à muito pouco tempo em casas que nem casa de banho tinham, e que para tomar banho tinham que ir ao Largo do Viriato no caso de Miragaia.

É verdade que em Nevogilde as coisas não são assim, mas é preciso conhecer todo o Porto e não apenas Nevogilde.

Fim de assunto que não me pagam para isto.

Suevo disse...

A titulo de exemplo da historia de miseria da extrema densidade populacional do Porto temos a peste bubonica de 1899.

"Quanlo à pesie bubónica, sabemos que ela atacou preferencialmente aqueles que viviam nas piores condiçôes sociais, lendo os primeiros
casos moríais sido deleclados na rua da Foníe Taurina, habitantes que eram de urna das zonas mais degradadas da cidade.
Por tal razäo, escrevia o médico atrás ciíado: «É preciso desíruir quanío antes os bairros imundos onde a pesie se acoita, e as ilhas inhabitaveis,antros infectos, verdadeiros similares das cidades orientais (...), para
extinguir completamente o mal, seria necessário sanear a cidade, (...)
arrasando completamente tres bairros: o do Barredo, o da Fonte Taurina
e o de Miragaia»"

Outro médico contemporáneo desta calamidade, Alvaro Cándido
Furtado de Antas, escrevia sobre um destes bairros: «O Barredo é urna
viva representacäo das condiçôes de salubridade que a higiene condemna
absolutamente; quem n'elle penetra, sente-se de chofre transportado a um
paiz estranho de exótica porcaria (...). Os ignaros habitantes d'aquelle
bairro único arremessam diariamente à rua os seus residuos domésticos,
mais de um século de atrazo em questäo de salubridade publica»"

Aqueles que se espantam com a desertificação do centro da cidade deveriam ler isto.
O subdesenvolvimento nortenho, que de pseudo não tem nada, já vem muito de tras, e não é por existir um minoria com condições economicas acima da media (à qual felizmente pertenço) que apaga isso.

António Alves disse...

confundir deliberadamente situações de pobreza urbana e exclusão social, infelizmente cada vez mais comuns nas grandes áreas metropolitanas e derivadas essencialmente do modelo de sociedade adoptado e também de razões de índole cultural, com índices de subdesenvolvimento generalizado só pode sair duma cabecinha que acha que os problemas do mundo se devem à existência de "pretos" e que se os expulsarem o mundo, como por milagre, melhora imediatamente.

António Alves disse...

ahh... eu não moro em nevogilde. moro na freguesia mais eclética da cidade com varanda priviligiada para estudar a miséria humana que por cá campeia.

PMS disse...

Explicações:
- Economia subterrânea
- Ostentação da região mais focada em bens duradouros do que em estilo de vida (uma das maiores diferenças que notei face à Capital é precisamente a maior frugalidade nortenha)
- Grande disparidade de rendimentos, resultante também de uma grande disparidade de qualificações
- Preço do imobiliário relativamente baixo , o que permite que uma família com rendimento igual compre uma casa bastante mais barata no Norte...sobrando mais dinheiro para o carro.
- Melhor serviço de transportes públicos e vias saturadas em Lisboa desincentivam a aquisição de grandes "máquinas". Por outro lado, o Norte é policêntrico (implica maiores distâncias a percorrer, mas também vias mais desimpedidas).

Por último, uma pequena nota: estão ainda a discutir os anos 90. Para quem não sabe, a Ferrari esteve recentemente para fechar no Porto por falta de vendas. Os Ferraris e etc, já têm todos uns anitos...

Suevo disse...

Mas quem é o Antonio Alves para dizer que os outros têm cabecinha que acha isto ou aquilo. Já sabemos que é maquinista, e tal como o Silva é malcriado, mas isso é problema seu, por vezes aqui reconheço que uso um tom algo agressivo, mas perante tanta falta de educação não me resta outra alternativa.

"confundir deliberadamente situações de pobreza urbana e exclusão social, infelizmente cada vez mais comuns nas grandes áreas metropolitanas e derivadas essencialmente do modelo de sociedade adoptado e também de razões de índole cultural"

Não são cada vez mais comuns, o Porto era já pouco mais de 100 anos a UNICA cidade da europa ocidental onde se morria de peste.

Para ti é Dr. Suevo, e não quero conversa contigo.

António Alves disse...

boa viagem sr. doutor. mas antes que se vá: há de haver escreve-se com H... sr. "dótor".

Jose Silva disse...

Suevo,

Já o disse várias vezes: Lamento que as suas convicções racistas lhe minem a credebilidade e ofusquem a pertinência que sem dúvida tem. Você e o PNR seriam uteis se fossem humanistas.

Já agora diga lá onde fui mal criado ?

No tema vertente, tenho que concordar um pouco consigo. A miséria existente no Porto, distrital ou em algumas freguesias, mesmo que histórica, mesmo que minoritária, deveria envergonhar todos os portuenses e levar a maior comedimento em expansões de metros ou outro tipos de novos-riquismos. Não defendo a política de «apaziaguamento» à reserva de índios que o Porto se vai tornando nos mandatos de Rui Rio. Também não defendo as ilusões tecnológicas ou betoneiras deste PS. O caminho deveria passar pelo melhor que o CDS e PCP tem, isto é, economia liberal e investimentos públicos racionais que promovam melhoria económica e fim da pobreza.

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