20081128

Sobre o estado do PSD, Paulo Morais lê Norteamos 5 meses depois

Após a vitória de MFLeite, em Junho, escrevi:

«Obviamente que em 2009 com um PS com 40%, PSD com 30% e PCP+BE com 25%, a coligação governativa nunca será com a esquerda mas sim à direita. A vitória de MFLeite é o melhor seguro de vida dos interesses oligarquicos e centralistas. É a garantia de mais 5 anos de status quo. Desengane-se quem julga que MFLeite terá preocupações sociais. Paulo Gorjão demonstrou aqui que isto é falso. Também eu já tinha detectado essa mesma manobra demagógica de JPPereira aqui. E também não descerá impostos permitindo que estes sejam usados na «social democracia» dos grandes interesses, PPP, Scuts, Alcochetes, TGVs, Estado Central exagerado e concentrado em Lisboa, (...). Os impostos altos e crédito caro incidirão sobre as PMEs (sobretudo onde elas abundam, a Norte) e classe média e não sobre os grandes projectos com patrocínio estatal. (...)

MFLeite poderia ser útil se tivesse coragem para acabar com estas grandes obras, como em tempos escreveu. Mas não. Nota-se desde já o Bloco Central de interesses, as «máfias» a actuar: Ela própria já disse no 1º debate televisivo que Alcochete, TGV e TTT são para continuar. Conclusão: mais do mesmo.»

Paulo Morais escreve:

«Não vislumbrando alternativa à direita do PS, os eleitores expressarão o seu descontentamento votando à esquerda, no Partido Comunista ou no Bloco, retirando a maioria absoluta a Sócrates. Com uma oposição firme à esquerda, os socialistas procurarão apoios à direita, através de acordos de incidência parlamentar ou, mais previsivelmente, de uma coligação governativa. Face à irrelevância do CDS, será ao PSD que caberá o papel de muleta de Sócrates, viabilizando um novo bloco central. Daqui a cerca de um ano, esta solução será impingida aos portugueses como inevitável e de salvação nacional. Será abençoada pelo presidente da República, a quem, em troca, Sócrates patrocinará provavelmente a reeleição.

O Governo que interprete esta solução institucionalizará, a nível político, o bloco central de interesses que já domina o país no plano económico e social. Assistiremos a um dos mais negros períodos da nossa já moribunda democracia. Os dinheiros do Estado vão correr à tripa-forra nos bolsos dos empresários, banqueiros, advogados e consultores ligados às direcções dos dois partidos do arco governativo, agravando a promiscuidade dominante entre os mundos da política e dos negócios.

Esta nova união nacional promoverá os mega-investimentos públicos que a crise aparentemente justifica, os neokeynesianos doutrinam e o presidente da República apadrinha. Construir-se-á o TGV, desbaratando 15 mil milhões de euros num projecto absolutamente inútil. Além do novo aeroporto de Lisboa, da nova travessia sobre o Tejo e o que mais virá.»

O que se passa é que MFLeite, mesmo agora afirmando correctamente que é contra o investimento público não rentável e favorável a uma descida de impostos, tem uma gestão da oposição tão fraca, tão improvisada, tão pobre, que não é levada a sério. Ela foi mesmo escolhida pelos cavaquistas para ser apenas uma espécie de oposição que não faz danos nem ameaça, como provam as sondagens. Quem a empurrou para a liderança sabia que ela tinha 68 anos, que queria dar apoio aos netos, que era pouco ou nada cativante, que tinha tido um passado incoerente. Quem a escolheu sabia/sabe que ela nunca ganhará eleições, por muito que ela agora diga a verdade. Por isso ela e o PSD é uma marionete ao serviço do Bloco Central e Centralista. E o aventureirismo do PSD Porto tem grandes responsabilidades nisto.

1 comentário:

Zé Luís disse...

Bem visto. Partilho completamente. Obrigado pelos pormenores que me faltavam, os meandros escondidos, porque só vejo os contornos gerais.

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