20081123

Histórias de jovens e qualificados emigrantes do Norte 7

Pedro, Engenheiro Informático. Haia, Holanda
Que bela surpresa tive hoje em ter encontrado este blog. E' sempre revigorante ler experiencias de pessoas que tal como eu decidiram viver uma aventura fora de Portugal. Uns de forma definitiva outros como um folego momentaneo mas todos com historias e testemunhos muito interessantes e que podem ajudar a clarificar as duvidas dos mais indecisos.
Penso que a minha aventura e' das mais recentes aqui relatadas mas quero mandar tambem a minha pedra neste charco de experiencias de lusitanos que equacionaram e decidiram dar uma escapadela.
Desde muito cedo comecei a trabalhar na minha area de formacao, Informatica. A partir dos 18 anos comecei com alguns trabalhos em part-time para arranjar uns trocos para os fins de semana mas porque queria atingir rapidamente a minha independencia os 3 ultimos anos do meu curso trabalhei em full-time na mesma empresa.
Nao que tivesse razoes de queixa em viver em casa dos meus pais ou que me sentisse mal no meio social envolvente mas tinha algo a remoer em mim, uma sensacao de que queria algo diferente daquele ambiente controlado, previsivel e confortavel. Apos ter conseguido, com bastante sofrimento, terminar o meu curso de Engenharia Informatica pelo Instituto Politecnico Engenharia do Porto em 2006 senti mais uma vez o bichinho a remoer. Eu nao estava mal, mas queria mais! Tinha um ordenado que dava para viver confortavelmente mas queria comecar a tracar um novo trilho. Sentia que a passagem pela faculdade pouco ou nada tinha alterado a minha rotina diaria e as responsalidades no meu emprego. Estava irrequieto e desanimado. Na altura nunca me passou pela cabeca uma aventura fora de portugal pois largar familia, amigos de sempre e namorada era um passo demasiado grande e arriscado e que por isso nunca o coloquei em consideracao.
Apos uma pesquisa de empregos por todo o pais reparei que a zona com uma melhor e maior diversidade de propostas de trabalho e' Lisboa. Tive algumas propostas e decidi-me por uma empresa que na altura estava a comecar. Era uma empresa de consultoria e diferente do que ate entao estava habituado. Muitas pessoa a receber o ordenado da mesma entidade patronal, mas todos espalhados pelos clientes e apenas com dois pontos de contactos anuais com os colegas: jantar de natal e aniversario da empresa.
Comecei com o peito cheio de ar, entusiasmado e motivado com as condicoes que me eram oferecidas.
Ja ouvi boas e mas experiencias em consultoria. Temos que ter sorte no projecto onde calhamos e com um pouco sorte podemos escolher o que mais se adequa 'a carreira profissional que aspiramos. Infelizmente nao aconteceu comigo e durante 7 meses tive nessa empresa num projecto nada aliciante e onde sentia-me a vegetar. Estando em lisboa nao por necessidade mas como uma aposta que estava a fazer em mim, a ter gastos com casa e viagens todos os fds para Santa Maria da Feira decidi que tinha que fazer alguma coisa. Falei com o meu manager na altura e apos algumas promessas falhadas cheguei a conclusao eu estava a ser um bom negocio para a minha empresa mas nao para mim. Senti que estava num negocio de carnes onde os consultores eram colocados por tempo indeterminado em clientes independentemente o trilho profissional que auspirem ter.
Decidi por procurar outro desafio. Nesta altura ja tinha equacionado a saida de portugal mas foquei a procura dentro de portas. Arranjei um projecto bastante interessance e desafiante numa empresa de producao de software na margem sul de Lisboa e com isso tive mais uma mudanca na minha vida. Arranjar novo espaco para morar, mudar a minha rotina e travar novas amizades. Admito que gosto ritual. Talvez porque sou novo e nao tenho encargos (filhos, casa) decidi dar outro passo.
Passado um mes tive a chamada de um amigo para ir para a Holanda. A empresa estava a contratar e estavam a precisar de pessoas com o meu perfil. Ele ja me tinha abordado a alguns meses atras mas porque estava ainda em periodo de experiencia na actual empresa e ainda nao tinha muitas responsabilidades decidi dar continuidade ao pedido de informacao. A entrevista telefonica correu bem e apos uma entrevista em que fui 'a Holanda, fizeram-me uma proposta.
Regressei a Portugal e nesses dois dias equacionei todas as variaveis da minha vida. Estava numa boa empresa a ter o tipo de trabalho que andava a' procura, num bom ambiente e integrado numa boa cultura empresarial. Conversei com as pessoas que me conheciam melhor, pedi opinioes e tentei dar resposta as perguntas: o que quero, o que tenho a perder, o que tenho a ganhar. Conclui que senao aceitasse mais tarde ia-me arrepender pois dificilmente iria ter uma oportunidade como esta. Tinha um emprego com boas perspectivas de me realizar profissionalmente, um apartamento a minha espera e um peito cheio de ar para encarar as previsiveis dificuldades. Se corresse mal e nao me ambientasse era comprar um bilhete para Portugal. Assim foi e sai com o objectivo de estar um ano e agora faz 5 mes que estou em Haia.
Existem ate agora duas perspectivas: pessoal (social) e profissional.
Como e' a minha primeira experiencia fora de portugal estou a ter uma infinidade de primeiras experiencias que ainda estao a ser sentidas e compreendidas. Existe uma grande comunidade portuguesa por ca e tendo a Holanda uma cultura virada para os estrangeiros nao sinto dificuldades na integracao. Admito que o primeiro mes nao foi facil pois existe muita burocracia a ser tratada e alguns choques culturais e linguisticos a serem ultrapassados mas neste momento ja estou instalado e integrado em varios grupos de amigos. Esta a ser uma excelente oportunidade de interagir com pessoas de diferentes culturas e valores e tendo o pais uma localizacao central rapidamente se acede a varios pais circundantes.
Profissionalmente admito que ate agora nao esta a corresponder as expectativas. Talvez coloque a fasquia alta, talvez seja exigente mas que culpa tenho em querer aquilo que me prometem?! Apos algumas dificuldades administrativas e problemas iniciais na comunicacao interna dentro da empresa neste momento estou integrado numa empresa cliente multinacional onde existe quase o mesmo numero de estrangeiros e holandeses. Estou a ter novos desafios no relacionamento inter-cultural entre pessoas, estilos de trabalho e de expectativas. Considero ate agora positivo este saldo, mas como ambicioso que sou, ainda com espaco para melhoramentos.
O balanco e' francamente positivo e como em quase todos os posts que tenho lido acerca deste assunto partilho a sensacao de arrependimento de nao ter dado este salto mais cedo. Nao aconteceu por falta de coragem ou por desconhecimento consciente das opcoes que existem fora de portugal. Ha sempre um risco a ser ponderado mas penso que o retorno e' sempre positivo. Nao sei qual sera a minha decisao daqui a 7 meses quando fizer um ano que estou ca. Se vou continuar nesta empresa, se continuo pela Holanda ou se vou para outro pais. Depende das motivacoes que me agarrem por ca e as oportunidades que irao aparecer.
As saudades da nossa terra sao muitas e penso que nunca como agora dou tanto valor ao nosso Portugal. Em muitas coisas nao ficamos atras de muitos paises e infelizmente sinto que existe alguma mentalidade negativista que teima em comparar o nosso cantinho apenas naquilo que de nao tao bom temos. Neste momento tenho a certeza que desejo regressar a Portugal. Gosto disto, da vida da cidade, da minha vida, do ritmo, da novidade mas quero voltar as minhas raizes, 'a minha terra. Talvez regresse e me desilusa. Pode acontecer, mas se esse dia acontecer e se ele chegar vou tentando espalhar por ca o orgulho que tenho em ser portugues e aquilo em que somos bons.
Vim 'a procura de uma nova aventura, saborear novas experiencias para regressar a Portugal com outras perspectivas. Talvez aconteca daqui a um, cinco ou dez anos mas com optimismo digo que chegarei com mais bagagem do que quando sai.

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