De há uns anos para cá, virou moda criticar os autarcas das localidades mais pequenas pela utilização sistemática de rotundas no ordenamento do trânsito, apontando tal situação como um exemplo de desperdício de recursos pelo poder local.
Tal observação resulta da ignorância: "o uso de rotundas na resolução de pontos de conflito, resulta em excelentes soluções do ponto de vista da capacidade e da segurança rodoviária" (EP). Não obstante, é evidente que houve alguma utilização abusiva desta "ferramenta" de ordenamento do trânsito (ex. mini-rotundas em Viseu).
É que a alternativa às rotundas são cruzamentos e semáforos, que obrigam a paragens e maior desgaste dos veículos, e que não têm o mesmo efeito em termos de segurança (redução da velocidade máxima efectiva). Existe também a possibilidade de utilizar túneis, uma solução dispendiosa que se apenas se justifica quando há elevado volume de tráfego envolvido, sendo por isso frequentemente aplicada nas principais áreas urbanas portuguesas, em particular em Lisboa.
Cômputo geral, as rotundas são até uma solução relativamente barata face aos beneficios proporcionados, particularmente tendo em conta que a sua boa utilização permite optimizar a capacidade de utilização da infraestrutura rodoviária existente (isto é, "processar" mais veículos no mesmo espaço de tempo).
Assim, esta crítica aos autarcas "só pode ser o resultado da ignorância ou da inveja pela facilidade de circulação automóvel na grande parte das cidades com rotundas".
Nota: Reescrito após ler os comentários do Bruno Santos, dos quais retirei alguns "ensinamentos".
Caro Pedro Simões,
ResponderEliminarSou um atento leitor do vosso blog. Embora não me veja em algumas posições radicais contra outras posições radicais ditas dos alfacinhas, revejo-me em algumas das opiniões aqui lançadas. No entanto, no que se refere ao seu post, gostaria de deixar aqui umas notas: 1)As rotunda não podem ser equiparadas aos túneis. São soluções de tráfego diferente, para problemas diferente. Os volumes de veículos, movimentos e impactos são incomparáveis, necessariamente. O EP quando se refere às rotundas como uma boa solução, com razão para grande parte das situações, refere-se à comparação com outros cruzamentos de nível (semaforizados, prioritários e de prioridade à direita; com ou sem segregação de movimentos, etc.) 2)O próprio EP ressalva que, mesmo sendo uma boa solução, ela tem por vezes sido empregue inadequadamente ou abusivamente. 3)Já não existe IEP, pelo que deveria ter sido referido EP (pormenor).
Por isso, as comparações são inapropriadas e o "criticar os autarcas das localidades mais pequenas" só pode ser o resultado da ignorância ou da inveja pela facilidade de circulação automóvel na grande parte das cidades com rotundas.
Abraço... e continuem a escrever.
"As rotunda não podem ser equiparadas aos túneis."
ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo. O meu objectivo não é esse. É apenas demonstrar que a crítica às rotundas como técnica de ordenamento de tráfego é um disparate (tal como criticar os túneis, quando eles fazem sentido).
E que essa crítica é particularmente disparatada se falarmos no seu custo.
Mas o post requer, de facto, uma correcção. Para evitar mal-entendidos. E também porque o pseudo-cosmopolitismo (leia-se provincianismo) não é só lisboeta.
P.S. Há casos de exagero. Não consigo ver o sentido das mini-rotundas de Viseu. Não que me pareçam um desperdício de recursos financeiros. Apenas um desperdício de tempo.
permite-me discordar. a rotunda é considerada a única verdadeira invenção do urbanismo moderno, mas parece-me uma solução utilizada invariavelmente de forma inadequada. a rotunda parece-me um eficaz distribuidor de trânsito e que se deve cingir a situações suburbanas, como nós rodoviários, nomeadamente em acessos a auto-estradas quando: não colide com alguma estrada nacional. toda e qualquer utilização de rotundas em situações suburbanas que não esta é errada. naturalmente, não me desloco numa estrada nacional para ter o meu percurso constantemente interrompido por rotundas. é ilógico, mas é uma solução que parece crescer por aí. de resto, rotundas em situações urbanas são, no mínimo, distraídas, perguiçosas, e outros adjetivos maus que agora me escapam. tirando a rotunda praça (como a rotunda da Boavista, com tamanho suficiente para permitir utilização do seu interior), a rotunda é má para todos. primeiro, para um peão. quando se circula a pé por uma rua e se encontra uma rounda num cruzamento, as passadeiras são sempre longe. muita gente, se a rotunda for muito grande, prefere atravessar por dentro. segundo, para os ciclistas. experimentem e verão. é muito estranho fazer uma rotunda de bicicleta. para não dizer perigoso. terceiro, para os carros é igualmente idiota fazer um percurso numa rua em que todos os cruzamentos são feitos em rotundas. e alguém, por favor, me explique como é que se mantêm rotundas em Portugal quando as regras de trânsito não são claras quanto à rotunda? seguindo a lei, as rotundas são feitas por dentro, até que chega o momento da saída da rotunda, em que o condutor deve mudar da faixa da esquerda para a exterior para sair da rotunda. no entanto, se embater em algum carro que circule pela direita, perde a razão e a culpa é de quem cumpriu a lei.
ResponderEliminaré óbvio que o milagre das rotundas serviu aos técnicos como solução para todos os cruzamentos e entroncamentos. não me digam que não é por preguiça que se se usam rotundas em todas as situações e, pior, rotundas circulares perfeitas, independemente da realidade.
um abraço para o blog
Muitas e frequentes vezes, tive oportunidade de desmistificar o "provincianismo" de quem - quase sempre membros das elites - reduzem as rotundas a uma solução paisagistica, sem sequer se aperceberem que elas são (ou deviam ser) sobretudo uma solução rodoviária.
ResponderEliminarPor isso mesmo subscrevo o que por aqui fica postado.
É possível um Portugal melhor. Basta querer.