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20070723

Este é um mapa muito sintético para que se possa dizer com absoluta certeza por onde passará o TGV. No entanto desde que foi tomada a decisão de o fazer passar próximo de Braga que ele terá necessariamente que seguir por Ponte de Lima e o mais normal é fazê-lo passar próximo da autoestrada e do gasoduto que já seguiu a mesma lógica. Se compararem com o troço do antigo caminho de ferro e como só terá hipóteses de parar em Braga e Valença mas não na mesma viagem de certo, este trajecto tem muito mais lógica porém para Ponte de Lima é só prejuizo. Por outro lado aquela inflexão para o aeroporto também não sei como será possivel, mas é a informação que existe. Quem souber mais que diga.
Como já disse num comentário este troço Ponte de Lima-Vigo vai ser objecto de um concurso próprio por se tartar de uma zona fronteiriça, ter uma maior comparticipação por parte da C.E. A Sul de Ponte de Lima caberá ao governo português fazer o projecto e apresentar a devida candidatura ao apoio comunitário.
Olhando para a orografia vesse claramente que não haveria outra solução porque a linha antiga faz uma inflexão para Viana do Castelo a partir do túnel do Tamel que não teria qualquer lógica num traçado que se quer com o minimo de quilometragem.

20070721

Moderação nos ímpetos, persistência na acção

O Portugal, como o sentimos ontem e hoje, na sua dimensão octocentenária, criou-se por aglutinação, já que Afonso Henriques e seus descendentes lá conseguiram agregar esta faixa litoral até ao sul sempre com uma largura semelhante ao Norte e todos ficaram satisfeitos.
Sendo centralistas, como todo o poder o é, tendo transferido a capital para Sul, levaram consigo o efeito centrípeto, o poderio das ordens, o poder do paço real, o poder de esbanjar, o poder de dar luzimento a si mesmos. É isto que caracteriza o poder e o poder está desde então associado a Lisboa.
As nossas gestas descobridora e mercantil reforçaram sobremaneira o seu brilho, a sua condição central, difusora de cultura mas economicamente concentracionária. Do Mondego para cima a influência positiva de Lisboa nunca foi muito relevante mas a negativa é acentuada até pela apatia, pela sua intervenção minimalista.
Só a escolarização geral, embora limitada no tempo, promovida de modo contraditório por Salazar e diga-se, a sua única política louvável, levou a criar um espírito de unidade até aí presumivelmente mais ténue. E o seu propósito era de certo esse, de reforçar o espírito nacionalista.
Por razões políticas após o 25 de Abril criou-se uma divisão norte-sul que, porém, nunca ninguém assumiu como tendo possibilidades e desejos de ser definitiva, antes assentava num princípio de solidariedade que nunca abandonou os protagonistas dessa época. O Norte ajudou a estabilizar o País sem nada pedir em troca.
A manutenção do modelo agrícola de subsistência, a depreciação do valor da produção agrícola, o abandono dos campos, a economia industrial de mão-de-obra intensiva levou a que o Norte, quando estes fenómenos se acentuaram com a integração europeia, visse o valor do seu produto per capita a perder no cômputo nacional.
O mal-estar gerado em quem se acha a alma da nação, e não tem benefícios que se lhe comparem, reverte de novo para factores de índole psicológico que determinam que agora surjam idealistas de um Norte justiceiro, motor de todas as causas nobres, a se misturarem com nostalgias de um Norte às direitas, sempre atrasado no seu passo histórico.
O deslumbre de um brilhantismo da capital perante um regresso à secular apatia do Norte, parece que só entrecortada pelo roncar dos Ferrari do Vale do Ave, faz alguns gritar de raiva quando para si olham.
Estes primarismos, resultado do quanto nos custa olharmos para nós mesmos, sabe-se por onde começa mas não onde acaba, ou antes, não leva a lado nenhum. Os ímpetos incontrolados de quem faz do comentário um escape ou um divertimento são disso uma evidente manifestação.
A inoperância dos governos em detectarem a tempo os problemas resultantes da alteração dos padrões produtivos, a que há décadas se sabia que o Norte inexoravelmente haveria que ser submetido, por efeito da alteração de outros paradigmas em que assentam as sociedades mais evoluídas, é a única razão da actual situação.
Porém todos nós temos a nossa quota-parte de culpa, dado que o clima político é sempre por nossa vontade a favor de politicas imediatistas e não o é a favor do necessário processo de reorganização de toda a administração pública, que se deveria conjugar com a criação de poderes regionais que nele participassem.
Este deveria ser o primeiro passo para poder influenciar os factores que determinarão a adaptação a novos padrões produtivos. Nenhum gestor fará milagres se tiver uma herança caótica e nesta questão não podemos vender o negócio e mudar de ramo. Temos de trabalhar com aquilo que temos e ir mudando sem tentar atropelar as leis a que estes processos estão submetidos.

20070714

A Terra, as Cidades, as Regiões e o Progresso

Não foi fácil agarrar o homem à terra, fazer dele agricultor. Os dados históricos indicam-nos a região do Oriente Fértil como aquela em que a agricultura primeiro se desenvolveu e obteve tal êxito que permitiu que se desenvolvessem as primeiras civilizações dignas desse nome, com escrita, organização e leis.
As cidades foram elemento essencial numa evolução assente na complementaridade, mas que se não ficou por aí. Estabeleceu-se uma ligação equilibrada entre o amanho da terra e outras funções diversificadas que só nas cidades podiam ter justificação e garantido o progresso com a simultânea evolução das actividades intelectuais.
A produção de alimentos era suficiente para que um grande número de pessoas se desligasse de novo da terra, já não para serem colectores na natureza, mas para se dedicarem a actividades do espírito, da ciência e da técnica.
Houveram outros processos evolutivos noutras zonas do globo que, por não terem tido traços tão marcantes como este, pela menor repercussão que tiveram no evoluir da humanidade, não deixaram de se basear nos mesmos princípios, estivessem ou não sujeitos a regressões, a problemas demográficos, chacinas, calamidades e pestes.
O nosso canto, e permitam que vos deixe a clara definição dos seus limites, não foi dos mais fustigados por estas ocorrências, dado o seu posicionamento periférico em relação à Bacia do Mediterrâneo, durante largo tempo berço e centro das principais civilizações em que a nossa teve as suas raízes, mas que só cá chegaram após sujeitas a processos de filtragem.
Mesmo a influência civilizacional por mar nunca foi muito profunda, nunca foi muito para além da costa, a não ser no Sul, de certo por razões orográficas e hidrográficas. Mas mesmo o Sul, colonizado pelo Norte, haveria por razões políticas de perder muitas das suas vantagens no correr dos séculos.
Na paisagem acidentada do Centro e Norte do País o povoamento foi sempre muito disperso e os centros urbanos desenvolveram-se mais mercê de decisões administrativas do que da pujança natural dos seus habitantes.
As mudanças operadas na importância relativa das cidades, no atrofiamento de umas e no desenvolvimento de outros, derivaram mais dos equilíbrios entre poder religioso e político, do reino ou império em que nos integrávamos, em questões estratégicas colocadas por quem detinha o poder.
Ainda outros factores condicionaram o desenvolvimento das nossas cidades e dos centros urbanos de menor dimensão. Limitaram-se a ter uma função complementar à ruralidade, deixaram-se vencer pela dificuldade de movimentação, pelas restrições que lhes eram continuamente colocadas.
O interesse das ordens religiosas, do poder religioso, dos proprietários mais abastados convergia com o temor dos menos afortunados em abandonar a pouca terra que detinham para engrossar a massa urbana e se desligarem definitivamente da sua lavra. Quando a fome apertava e tinham que emigrar, faziam-no para longe, para a sorte, que, se houvera que morrer à fome, os não viam mais.
Este passo decisivo que era dado em situações dramáticas e para um futuro incerto não era dado facilmente para as urbes mais próximas e dinâmicas, que aqui quase certa era a indigência que os esperava. E, como aqui já havia bastante, o caminho de volta era o mais recomendado.
As nossas cidades nunca exerceram uma atractividade irresistível, os poderes políticos nunca estiveram interessados em que assim fosse, tudo era mantido em dimensões mínimas para que se não desfizessem equilíbrios no sector primário, aquele que durante séculos constituiu a base das preocupações de quem governava.
O poder religioso foi contribuindo com a sua parte, disseminando os seus agentes pelo território, instituindo centros de culto em regiões inóspitas que desviassem as pessoas da sua confluência natural para o monumento urbano, espelhando uma cultura anti-citadina no campo e anti rural na cidade.
Muito desse poder religioso implodiu, como implodiu a União Soviética. A coincidência entre paróquia e freguesia é hoje um artifício. O Estado tem de “aproveitar a ocasião” para acabar com a palhaçada da nossa organização administrativa, fruto do caciquismo prevalecente há duzentos anos em Portugal. A freguesia, sem a paróquia atrás, falta-lhe a alma.
Uma organização racional do território terá que assentar em municípios mais pequenos e na extinção pura e simples das freguesias. A clara definição de critérios objectivos que tenham em consideração todas as variáveis importantes determinarão com certeza a necessidade de aglomerados urbanos com funções inter-municipais, supra-municipais, regionais ou nacionais em domínios específicos como a justiça, o turismo, o abastecimento de água, etc.
Como é irracional andarmos a votar para todas as organizações que de algum modo exercem funções de soberania ou delas derivadas, ficaríamos pelos concelhos, as regiões e o governo que estabeleceriam entre si, com critérios de razoabilidade, a distribuição de recursos e competências e formas complementares de organização que se justificassem.
A implementação de regiões é um passo essencial numa lógica de aumento da dimensão das unidades intermédias. O Concelho cederia o seu lugar de hoje à Região. A Região passaria a ser a autarquia maior em face do Governo Central.
O número de escalas permaneceria em três, igual ao que hoje temos. Bastavam porque mais uma já seria a confusão. Promovam-se sim cidades, sem preocupações de falsas justiças, que o que há de mais pérfido é distribuir misérias e elefantes brancos por todos.

20070704

Da vitalidade das nossas Urbes está dependente o progresso

O progresso, nas suas variadas e controversas vertentes, tem a sua origem nas cidades. Toda a experiência da humanidade nos diz que o povoamento disperso retira qualquer possibilidade de formação de massas críticas para os mais variegados fenómenos.
Salvam-se as actuais sociedades do espírito que havendo múltiplas formas de contacto entre os seus membros proporcionam, seja qual for o local onde se encontrem, uma comunicação e uma partilha nunca antes vistas. Faltar-lhes-á o contacto pessoal, uma vivência comum dos problemas imediatos, sobra-lhes um distanciamento de certo modo inultrapassável.
Maugrado na grande maioria dos aspectos que interessam ao desenvolvimento sócio-económico e cultural de uma sociedade nada se consegue sem uma certa aglomeração física das pessoas. Quando falamos de desertificação do interior é porque há uma progressiva perca de condições, de que se destaca a dimensão dos “ajuntamentos”, para nele operar o desenvolvimento:
Há uma diminuição do número de habitantes e/ou concomitantemente a sua dispersão pela paisagem; E paradoxalmente, e não tanto, há em simultâneo, por efeito do progresso exterior, um aumento da massa crítica que seria necessária para que se justificassem certos serviços, certos comércios, certas indústrias e, pior do que tudo, para que brotasse algo de novo, nem que fosse enxertado por estranhos.
Para haver a dita aglomeração física é mesmo necessário que não acho excessiva dispersão habitacional. É preciso haver ruas, praças, jardins, locais de encontro. Em tempos, na nossa superior ignorância, ou no nosso exacerbado egoísmo, achávamos uma prepotência inaceitável todas as limitações à construção por parte do municípios e de outras entidades públicas. Todos querem uma casa bem isolada, de preferência no cimo dum penhasco.
Os poderes públicos bem bradavam que o povoamento disperso aumentava o preço da acessibilidade, seja por caminhos, fios eléctricos e telefónicos, condutas de água e saneamento, afinal os custos directos deste luxo, mas não se fazia referência aos custos indirectos, aos efeitos no tecido social.
Os candidatos autárquicos lá ponham timidamente nas suas propostas eleitorais, copiando-se desavergonhadamente, mas sem intenção de mexer uma palha, que eram a favor do desenvolvimento de centros urbanos de dimensão razoável que pudessem comportar algum relacionamento e conforto “citadino”.
Pura ilusão, eles aprenderam que as pessoas dispersas são mais individualistas, mais influenciáveis, mesmo mais fidelizáveis. Têm uma menor noção de pertença a grupos, sentem-se menos envolvidas e responsabilizadas pelo que a sua fidelidade se deve mais à sua imobilidade intergrupal, o conservadorismo em todos os aspectos agradece.
O que agora se não dispensa é mesmo a mobilidade individual. Para nós já é igual se, para nosso interesse, tivermos que ir a 20, 50 ou 100 km. Assim não há cimento social que resista. Desvanece-se o espírito do lugar.
Os autarcas têm responsabilidades porque se sujeitam facilmente ao egoísmo reinante. Os bons exemplos do passado devem-se mais aos condicionalismos exteriores do que a opções conscientes e a saberes transmitidos. Por isso os Centros Históricos estiolam. Hoje a ligação à terra não existe, o que há são lugares com mais ou menos valor comercial.
Ao progresso interessaria que as pessoas se agrupassem mais, contactassem ao nível da vivência diária, cimentassem no lugar as suas relações, nem todas boas necessariamente, fossem mais livres, menos condicionados a abordar as suas opiniões, menos dependentes da imagem de perfil que um dia mais lhes agradou, abandonassem a hipocrisia de arrogar-se a propriedade de algo quando quase tudo é importado, até os valores o são.
No passado, bem ou mal, havia um cimento solidário, assente numa cultura tradicional partilhada, numa religião sempre presente e abrangente, um saber prático capaz de responder a todas as situações da vida real. Não era de todo mau manter deste passado o espírito de participação pessoal no colectivo.
Tudo isto está porém em declínio ou já feneceu. Da cultura popular ficou o folclore, da religião a fraca usança, do saber um desfasamento irremediável, mercê das mudanças operadas nos nossos modos de vida, da participação cívica uma caricatura, quando não uma clara aversão.
E é isto que nos faz duplamente ignorantes porque o somos e estamos convencidos do contrário. Somos ignorantes e ignorantes que o somos. E quando sabemos isto tudo, mais grave ainda, somos masoquistas. Atiramos culpas para cima de todos nós, insultamo-nos e humilhamo-nos.
Vejamos bem as coisas! Erramos, vimos a tradição pelos seus aspectos mais atávicos e prejudiciais ao progresso, vemos o progresso pelos seus lados mais banais e lúdicos. Repensemos, não nos envergonhemos de admitir que estávamos enganados.
O desenvolvimento das nossas terras não se fará por decreto, sem mudança na nossa maneira de ver o futuro. A aposta num futuro consistente é a alma que lhes falta e que só nós lhes podemos dar. Não podemos pensar nelas só por desenfastio, o que acontece enquanto a nossa máxima for só subir na vida, seja lá onde for, e não for viver numa sociedade solidária.
As visões egoístas não nos permitem viver o lugar, porque o associamos a atraso, vemo-lo afundar-se e não queremos ir com ele. Mas não há espiritualidade sem sítio onde nos agarrarmos ao chão. E a maioria de nós não tem a virtuosidade de fazer do mundo o seu lugar.
Só os emigrantes sentiam o que era esse andar desgarrado pelo mundo. Hoje a maioria de nós já aqui assim se sente. O mundo a sério dos emigrantes é agora o nosso mundo virtual em que nós vivemos e em que só nós contamos. Alheamos de tudo o que nos rodeia, ainda lhe não ganhamos afecto.
Pensemos também nos outros. Ponhamos aquilo que temos de melhor a contribuir para a dimensão e grandeza da nossa aldeia, vila ou cidade, cientes de que o futuro é na sua grande parte implacável e indomável pelas nossas fracas forças.
No entanto temos um futuro e por isso temos que dar as mãos, no que isto comporta de mentes, saberes, recursos, disponibilidades. E, se a nossa dimensão não chega, não sejamos mesquinhos e aliemo-nos àqueles que também nos podem deitar a sua mão.
É necessário redimensionar os concelhos, acabar com as freguesias sem dimensão mínima ou agrupá-las quando isso se justificar, definir centros privilegiados de fixação de actividades comunitárias, de serviços locais e estatais e de todos aqueles que, sendo de índole privada, vejam vantagem em aí se instalarem.
Bairrismos e espírito de paróquia dispensam-se. Massa crítica é imprescindível. Do lado da nossa má tradição está o fomento antecipado das divergências com justificações que não vêm a colher. Mas é tão só a aplicação da velha e absurda máxima de que, a morrer, morramos todos mas cada qual para seu lado.
Não podemos discutir a regionalização sem discutir as outras dimensões que lhe são inferiores: As Cidades, as Vilas e as Aldeias, onde ainda haja lugar para elas. Se não podemos ter umas, as mais pequenas, apliquemos a nossa força nas maiores. Só Urbes com vitalidade nos trarão o progresso e sem a expectativa deste não há regionalização que resista.
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